Depois de anos esquecidos no fundo das gavetas, os telemóveis simples estão a regressar. Conhecidos como “tijolos”, estes equipamentos voltaram a ganhar popularidade, sobretudo entre os mais jovens. A tendência começou nos Estados Unidos, mas já está a ganhar força na Europa e até em Portugal. Em tempos de cansaço digital, estes aparelhos voltam a ter um lugar no bolso de quem quer menos tecnologia e mais vida.
Os “tijolos”
Os “tijolos” são telemóveis com funções básicas. Servem para chamadas e mensagens de texto. Nada de redes sociais, notificações ou acesso constante à internet. O nome, que em tempos foi quase motivo de gozo, está agora a ser reabilitado com orgulho por quem procura sair do ciclo de distração permanente.
O que muitos consideravam ultrapassado transformou-se num símbolo de liberdade, segundo refere o Ekonomista. Estes modelos, semelhantes aos que marcaram os anos 90 e o início dos anos 2000, surgem agora com algumas melhorias como cobertura de rede 4G, câmara fotográfica simples e baterias que duram vários dias. Mesmo assim, continuam a apostar na simplicidade.
Geração Z e Millenials lideram a mudança
É curioso que este fenómeno esteja a ser impulsionado precisamente por quem cresceu com smartphones na mão. Entre adolescentes e jovens adultos, começa a surgir um desejo de recuperar o tempo perdido entre ecrãs. Para muitos, desligar do mundo online é uma forma de viver com mais atenção, reduzir a ansiedade e escapar à pressão constante das redes sociais.
Ao contrário do que se possa pensar, estes jovens não estão a recusar a tecnologia. Estão simplesmente a usá-la de forma diferente. Trocar o smartphone por um “tijolo” aos fins de semana ou em períodos de pausa tornou-se uma prática comum entre quem quer experimentar uma vida mais equilibrada.
Menos estímulos, mais tempo para a vida
A média de tempo passado nas redes sociais entre adolescentes ultrapassa facilmente as sete horas por dia. Os efeitos desse excesso já são conhecidos: problemas de sono, fadiga, ansiedade, dores físicas e dificuldades de concentração. Os “tijolos” surgem como uma espécie de pausa voluntária. Sem aplicações, sem notificações, sem ecrã tátil. Apenas chamadas e mensagens. E isso, para muitos, já é suficiente.
Com menos distrações, há mais tempo para estar com os filhos, para passear, ler, cozinhar ou simplesmente descansar. Pequenos gestos que fazem diferença no dia a dia. E, ao contrário do que se poderia imaginar, muitos jovens afirmam sentir-se mais livres e menos pressionados quando usam estes equipamentos.
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Uma opção segura para os mais novos
Para os pais, os “tijolos” também oferecem uma solução prática para o primeiro telemóvel das crianças. Permitem manter o contacto sem abrir a porta a redes sociais, vídeos ou jogos. É uma forma de introduzir a tecnologia com regras claras e sem os perigos associados à exposição online precoce.
Além disso, a durabilidade e simplicidade destes modelos torna-os adequados para o uso diário de quem ainda está a aprender a gerir responsabilidades tecnológicas.
A simplicidade volta a ter valor
Embora os modelos atuais já tragam pequenos extras como rádio, lanterna ou leitor de música, continuam a privilegiar a utilidade. A ausência de aplicações ou acesso à internet é vista, não como uma limitação, mas como uma libertação. A tecnologia, neste caso, está ao serviço do bem-estar e não do consumo constante.
Este regresso aos “tijolos” não é um movimento nostálgico sem fundamento. É uma resposta real a um problema atual. O excesso de conetividade tornou-se um peso. E a simplicidade destes equipamentos surge como uma forma de recuperar o tempo e a atenção.
Uma tendência que cresce com os dois pés no chão
Várias marcas já estão a relançar modelos antigos ou a criar novos com este espírito. Nos Estados Unidos, a procura tem crescido de forma consistente. Em vários países europeus, os “tijolos” estão novamente à venda nas grandes superfícies e em lojas online.
O que parecia um retrocesso é, afinal, um passo em frente no modo como usamos a tecnologia. E, se a tendência continuar, os “tijolos” poderão deixar de ser uma alternativa para se tornarem, simplesmente, uma escolha.
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