Na província chinesa de Henan, decorre a construção de uma das maiores estruturas industriais do mundo. O que começou com a instalação de linhas de montagem de veículos elétricos está hoje a transformar-se num complexo urbano, onde o conceito tradicional de fábrica é amplamente superado por uma visão integrada de produção e habitação.
Um novo tipo de complexo industrial
A cidade de Zhengzhou acolhe este projeto que já cobre uma área superior a 75 quilómetros quadrados quadrados, revela o jornal inglês The Sun. O empreendimento pertence à fabricante chinesa BYD, a maior concorrente da Tesla, de Elon Musk, e, numa fase futura, deverá atingir os 50 mil hectares, uma área largamente superior à da cidade de Lisboa.
A fábrica encontra-se atualmente dividida em oito fases, das quais quatro já estão concluídas. A expansão contínua demonstra a ambição da empresa em aumentar a produção para mais de um milhão de veículos elétricos por ano.
Além das unidades de montagem e produção de componentes, o complexo inclui edifícios de habitação, campos de futebol, instalações desportivas e outras infraestruturas. A linha entre fábrica e cidade está a esbater-se.
Mais de 60 mil pessoas já trabalham no local, revela ainda o jornal britânico The Sun. A empresa espera contratar até 200 mil novos trabalhadores em todo o mundo nos próximos meses. A decisão de incluir dormitórios, zonas de lazer e serviços visa melhorar a produtividade e reter talento.
O primeiro modelo a sair desta unidade foi o Song Pro DM-i, com um preço aproximado de 20.000 euros. O foco da empresa está centrado em veículos elétricos acessíveis, o que constitui uma vantagem em relação a outros concorrentes internacionais.
Apesar do crescimento, a dimensão do projeto tem levantado preocupações. Há quem critique o impacto ambiental e o risco de criar uma cidade industrial com pouca vida própria, caso a procura do mercado não acompanhe o aumento da oferta.
Resposta à procura interna e externa
O sucesso da fábrica está intimamente ligado à estratégia industrial da China para dominar o setor da mobilidade elétrica. A BYD, com quase um milhão de trabalhadores, aposta numa produção verticalmente integrada, desde as baterias até à montagem final.
Este modelo contrasta com a abordagem de outras marcas, como a Tesla, que investem mais fortemente em automatização. A BYD aposta sobretudo em mão de obra humana, o que levanta dúvidas quanto à sustentabilidade a longo prazo num setor cada vez mais automatizado.
No entanto, as vendas recentes parecem validar a aposta. Em 2024, a empresa vendeu mais de 4,25 milhões de veículos, um número recorde que reforça a sua posição de liderança global.
Impacto no setor automóvel global
A fábrica de Zhengzhou representa uma mudança no paradigma da produção automóvel, onde a escala e a rapidez de execução são usadas como instrumentos de competitividade. O apoio estatal e o acesso a recursos locais contribuem para manter os custos reduzidos.
Ainda assim, permanecem riscos associados à capacidade de resposta do mercado. A existência de excesso de produção pode gerar desequilíbrios, especialmente se a procura global de veículos elétricos estabilizar ou recuar.
Um projeto com múltiplas implicações
A dimensão da fábrica gerou também debates sobre urbanismo e ambiente. Alguns observadores apontam a instalação como um exemplo de expansão descontrolada e criticam a sua presença visual no território.
Do ponto de vista económico, a unidade reforça a competitividade da indústria chinesa num setor estratégico. O objetivo de tornar a China o principal exportador mundial de veículos elétricos passa por infraestruturas desta dimensão.
A BYD continua a expandir-se, tanto dentro como fora da China, e a fábrica de Zhengzhou é vista como um modelo para outros projetos semelhantes que poderão surgir.
A conjugação entre produção, habitação e vida comunitária num único espaço poderá tornar-se mais comum no futuro, mas depende do equilíbrio entre escala industrial e sustentabilidade social.
Para já, o complexo de Zhengzhou afirma-se como uma nova referência global no setor automóvel. É uma fábrica, mas também é um território urbano moldado pela lógica da produção em massa.
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