O meu nome é Ricardo Cerqueira, tenho 27 anos, e sou natural do Porto. Estudei e vivi entre 2015 e 2021 no distrito do Algarve, completando a licenciatura em Biologia e mestrado em Biologia Molecular e Microbiana, ambas pela Universidade do Algarve (UAlg) (Faro, Portugal), onde me especializei no estudo de microrganismos de diversos ambientes, as suas aplicações em biotecnologia, assim como, o funcionamento celular ao nível genético e metabólico, permitindo-me trabalhar em inúmeras áreas. Muitas delas, considero que estão numa fase pioneira e com muito caminho a percorrer.
Em 2021, tornei-me investigador no Departamento de Engenharia Biológica pela Universidade do Minho (Braga, Portugal). No mesmo ano frequentei um curso de formação especializada e participei num programa Erasmus+ ação-chave (KA2) na Moldávia. Em 2023, participei no Evento Europeu Jovem em Estrasburgo (França). Todas estas experiências de norte a sul do país e percorrendo a Europa, permitiu-me adquirir diferentes experiências e vivenciar dificuldades em diferentes comunidades. Deste modo, na qualidade de ALUMNI da UAlg, oriento o meu querido leitor para a narrativa sobre diferentes pontos de vista de um jovem cientista em Portugal, como se vêm as gerações e a importância dos nossos deveres cívicos na Europa.
Fazer parte da UE é um aspeto muito positivo para o desenvolvimento de Portugal e, como nos aproximámos das Eleições Europeias de 2024, também é necessário procurar pela informação e entender qual é o rumo que o povo quer navegar
A minha experiência ERASMUS+, na qual participei, apresentou-se com o tema “Reforçar as capacidades de jovens líderes e organizações de juventude para uma participação comunitária significativa” ou, por outras palavras, “Fazer ouvir a voz dos jovens” (CYMECOP: making youth voice heard, website: https://cymecop.eu/). Este programa, de 7 dias intensivos decorridos na Moldávia, proporcionou-me uma experiência deveras imersiva, que me fez sentir como se estivesse a entrar numa realidade completamente fora do habitual. Éramos cerca de 24 participantes de 4 países diferentes, a Arménia, Moldávia, Portugal e a Ucrânia, cujo objetivo principal foi identificar e aprender as melhores práticas de participação jovem, e explorar mecanismos de interação entre os jovens e os responsáveis políticos. Isto foi conseguido através da realização de uma série de encontros em centros e conselhos jovens, organizações não-governamentais de suporte aos centros jovens, autoridades locais como as câmaras municipais e muitas outras atividades de grupo. No meio desta aventura, visitamos Chișinău (capital da Moldávia), Bălți, Cimișlia e Cahul e deparei-me com jovens participantes verdadeiramente notáveis e que demonstravam níveis de envolvimento fantásticos nas suas comunidades.
Ainda na Moldávia, o país mais pobre da Europa, assisti a uma criatividade excecional e a uma determinação inabalável. A nível pessoal, senti um ponto de viragem na perceção do mundo e admito, com franqueza, que tudo foi uma fonte de inspiração. Comparar os métodos de envolvimento, iniciativas proativas e testemunhar estes jovens a dar passos significativos no sentido de construir uma sociedade mais positiva, encheu-me de uma alegria genuína.
Esta experiência reafirmou a minha convicção de que os jovens são agentes fundamentais de mudança nos seus respetivos países, capazes de defender práticas exemplares e até de influenciar a criação de políticas que irão moldar um futuro mais risonho. O programa culminou com o envolvimento dos jovens portugueses, a Rafaela Paulo Teixeira, Débora Gonçalves, Simona Bloșenco, o Eduardo Pereira e eu, na tradução de um manual de boas práticas sobre a participação jovem, políticas jovens e trabalho jovem, e a disseminação deste programa. Nesta partilha de experiências, aproveito para adiantar que, como jovem líder, estou também profundamente empenhado em sensibilizar a comunidade para os desafios ambientais e futuros. Ou pelo menos em não ficar calado. No entanto, como jovem e cientista, na qualidade de um bom Português, não poderei deixar escapar as críticas.
A verdade é que ainda na atualidade, custa-me crer que a complacência ainda governa tanto na política como na sociedade. Existe uma atitude política reativa, ao invés de uma atitude de prevenção e planeamento objetivo, o que acaba por determinar uma série de impasses nas decisões sobre a reestruturação, ou planificação, ou adaptação da economia, justiça, saúde e educação Portuguesas. “Ninguém se decide, e pronto. É a vida, não é?”. O que acontece é que são milhares de milhões investidos, onde alguns destes investimentos são perdidos sem qualquer resultado efetivo na sociedade. Só para não falar na enorme discrepância de desenvolvimento das regiões Algarvias e do Interior para o resto de Portugal, a olhos vistos!
Em paralelo, observa-se uma evasão de cérebros Portugueses que são facilmente drenados para outros países Europeus, e isto, para Portugal constitui: um saldo negativo de jovens talentos entre os 20 e 35 anos, resultando em contratações “a custo zero”, por parte doutras nações Europeias, de trabalho altamente especializado; diminuição do crescimento económico; falta de capacidade para progredir científica e tecnologicamente; e aumento das desigualdades salariais e desproporções entre os países Europeus sobre o pessoal qualificado.
Como investigador, e tirando as ditas áreas de elevada empregabilidade e, salvando a exceção das “famosas cunhas”, que são de uma qualidade extrema, equivalentes às do têxtil e cortiça portuguesa, revejo-me num Portugal pouco preparado para receber mentes educadas no mercado de trabalho. Quando esse momento chega num recém-formado, haverá sempre o debate sobre o rumo profissional de um cientista que, a certo ponto, poderá optar por um trabalho fora da área de formação, como por exemplo, caixa de supermercado, operando fabril, ou outro qualquer trabalho sem necessidade de formações especializadas, e que ofereçam melhores garantias de estabilidade financeira e pessoal, e com os devidos direitos sociais. Pois é! E com a necessidade de fiadores no dia-a-dia e, a inexistência de contratos de trabalho com vínculos nas instituições… soa a trabalho precário! Portugal pioneiro em cursos de formação, mas lento a desbravar novos postos de trabalho. Resta apenas dizer que, as bolsas e bolseiros, são uma espécie de bombeiros voluntários da investigação científica portuguesa. Ainda por cima com a falta de habitação, não admira que uma das opções para satisfazer uma percentagem dos formados seja emigrar.
Há bastante tempo que se alerta para este e outros assuntos. Sabemos da existência de trabalhos precários, carreiras estagnadas, mas… como um bom português que se é… com aquele medo inerente de agir e de falar diretamente, e o de preferir abraçar o comportamento de andar por aí a balbuciar, reclamar, ou gritar com tudo e todos, tanto que, a bolha é levada a rebentar, desnecessariamente, até que se faça alguma coisa. Apesar dos passos de caracol e de algumas melhorias dificilmente visíveis no país, o resultado efetivo final é a indignação e revolta social.
No meio de rios de informação que transbordam, num país sem medidas para combater as secas, é importante aprendermos a verificar e a procurar factos. Denoto que, a diferença relativa, a nível de atitude, de uma geração nascida antes da internet com a geração das redes sociais, não é existente. Por outras palavras, a passividade é a mesma. Na sociedade portuguesa, subsiste a resolução de problemas inúteis e, onde a voz escondida, é dada por debaixo dos aventais portugueses. Basta de cinismos… e basta dos conformados e contentados.
Enfim, geralmente limitados pela articulação da curiosidade e pouca abertura empresarial… mas, também, não podemos esperar muito de um país com 99,9 % de PMEs. Certo ou errado? Porque estas, vêm-se no limiar dos lucros e são extremamente afetadas pelas sobrecargas fiscais, legislativas e administrativas face às grandes empresas. Quem vai promover a mudança?
Atualmente, as políticas governamentais devem passar por uma boa revisão sobre a retenção do trabalho jovem, o apoio direto às PMEs, promoção de fundos de investigação alternativos e criação de melhores condições para acarretar as progressões de carreiras, etc. Um outro eixo, também importantíssimo na economia portuguesa, a ser trabalhado e desenvolvido, são sobretudo os setores de produção primária e alguns secundários.
E com isto, eu pergunto-me: qual será o futuro de Portugal na Europa durante a transição climática e digital? Como poderá Portugal cumprir com as metas estabelecidas pela União Europeia (UE) em direção a uma economia circular e sustentável?
Através da minha filtração de ideias, da opinião pública e internacional, dos meus colegas de trabalho e amigos, dos meus conhecimentos adquiridos de várias instituições de ensino, tanto nacionais como internacionais, estas são as perguntas das quais me debato e me fazem debruçar sobre as políticas de desenvolvimento portuguesas e como as podemos melhorar ou fazer funcionar. Uma coisa é certa, talvez o estado deva pensar em contratar pessoas qualificadas e investir na contratação de investigadores do estado para melhorar as políticas de governação, e até, pegar em bons exemplos e aplicar o princípio da “engenharia reversa” para descomplicar. Todavia, um processo de contratação pública pode exceder uns absurdos 3 anos! É um facto, então, até isso pode demorar.
De um ponto de vista Europeu, claro que o cientista Português vê a UE como um grande eixo de inovação e avanços tecnológicos, com inúmeras instituições conceituadas, permitindo estabelecer: parcerias e colaborações sem constrangimentos fronteiriços; facilidade na mobilidade e intercâmbios entre estudantes universitários; partilha de ideias e perspetivas sobre diferentes temáticas de investigação; cooperação transfronteiriça e esforços redobrados no desenvolvimento de medidas de combate às alterações climáticas e problemas ambientais. No entanto, o rumo da UE sempre dependerá da opinião pública do qual o nosso voto é fundamental. Nesta rúbrica, é possível ficar-se distraído com outros temas e muitos outros problemas, – eu próprio sendo vítima -, o que nos faz perder o foco sobre o objetivo primário, que é o de encontrar e discutir possíveis soluções futuras, sendo este, o desafio mais difícil de cada entidade pensadora e interessada.
Fazer parte da UE é um aspeto muito positivo para o desenvolvimento de Portugal e, como nos aproximámos das Eleições Europeias de 2024, também é necessário procurar pela informação e entender qual é o rumo que o povo quer navegar. A informação existe, está disponível para quem quer ver e, por isso, não basta apenas dar a voz, mas sim fazermo-nos ouvir objetivamente e, sobretudo, agir.
Leia também: Jovens que inspiram: Caminho até à Polónia | Por Inga Bruhns
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