Em pleno «2023: Ano Europeu das Competências» é determinante trabalharmos as competências relativas à Cidadania Participativa. Contudo, num mundo globalizado que se quer inclusivo, creio que é muito importante estimular a nossa cidadania a partir da identificação do lugar onde estamos. A partir do lugar que é a nossa «casa», sendo que podemos identificar como «casa» o espaço onde nos sentimos bem ou o espaço onde viemos parar à boleia da vida e no qual encontramos o conforto necessário para viver de forma digna (com um teto, comida e roupa lavada). O que significa para cada um de nós «casa»? Será que a ânsia de sair de «casa» advém do nosso lado mais aventureiro e nómada ou porque não temos, realmente, espaço para viver as nossas raízes e preferimos chamar de híbrido a outro lugar?
É-me cada vez mais sensível pensar que podemos exigir às cidadãs e aos cidadãos que sejam mais ativos na sua cidadania sem lhes perguntarmos antes se se sentem em casa. É que caso não se sintam como podem querer reforçar esse sentimento de pertença e voltar ao final do dia e aninhar-se?! Então a premissa deverá ser: «como te sentes no lugar que ocupas?» E perceber, nomeadamente, o que leva pessoas a sentirem-se descontextualizadas da sua «casa». Vamos assumir que esse lugar é a nossa rua, a nossa aldeia, a nossa freguesia, cidade, região, território. Aquele lugar que nos cabe cuidar, proteger porque fazemos parte desse ecossistema; que caso esteja em crise nos arrastará consigo. É que se um de nós se sente fora de contexto (seja porque razão for) como pode ambicionar reforçar as suas raízes? E como podemos acolher bem os outros que chegam de novo? Como podemos sentir, efetivamente, que os outros são seus vizinhos? E como é que podemos educar os nossos descendentes como uma parte integrante de um todo, de um grupo? E assumirmos juntos, em espírito de união, as sombras e dificuldades que todos os grupos têm? Mas porque será que muitas vezes o sangue não fala mais alto? Mas também não há outro sangue que bombeie mais forte… Se nos confessássemos talvez quiséssemos partilhar apenas de um sentimento de desenraizamento que não sabemos de onde vem e nem porque vem.
Podemos, assim vistas as coisas, pedir a quem não se sinta em «casa» que a chame de sua e a queira integrada numa comunidade? A minha sensibilidade diz-me que este é um exercício cada vez mais difícil de fazer. Honestamente, não vejo como um caminho evidente – e simples em si mesmo – trabalhar a competência da cidadania participativa. Pelo menos assim «a seco». Creio que terei de me socorrer de um diagnóstico que avalie o [fraco] grau de predisposição para uma cidadania ativa e que perceba as suas causas. Mas feito de uma forma muito próxima de cada comunidade em específico [e não massificar esta abordagem sob pena de não chegarmos às conclusões mais verdadeiras]. Por outro lado, quanto ao rol de consequências fruto de baixo índice de cidadania ativa parece-me que esse já existe com maior consistência. À vista de todos temos o elevado nível de abstenção em eleições de diversa índole e que comprometem o funcionamento claro das democracias. Não podemos falar de democracia sem voto expressivo de eleitores bem informados.
Para conseguir contribuir no trabalho de diagnóstico que acima falo creio que a melhor forma de o fazer é contactar com as cidadãs e cidadãos nas «rodas de conversa», tal como lhes apelida o sociólogo Boaventura de Sousa Santos [ouvir entrevista aqui]. É que não é mesmo preciso inventar a roda, neste caso; é só voltar a elas! Apesar das redes sociais ocuparem a nossa atenção numa dimensão muito além do que seria desejável, ainda assim, sinto que as pessoas preferirão juntar-se e falar sobre aquilo que as inquieta, preocupa, e também contarem sobre aquilo que as deixa felizes e livres. Voltar à raiz da relação humana e encarar as raízes dos problemas. No que diz respeito aos jovens estou convicta que serão aqueles que se adaptarão mais fácil e rapidamente. Se os convidarmos a colocarem-se em roda vão desfrutar dessa rede social. Acho que está garantido!
Vamos concretizar rodas representativas das várias comunidades; numa óptica sempre inclusiva, em que todos fazem parte e ter esse cuidado de não esquecer ninguém, tal como não gostaríamos que se esquecessem de nós. Vamos perceber o grau de implicação de cada um de nós na «casa» que ocupamos.
Artigo publicado no Projeto MUROS Imaginamos a Eurorregião AAA
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