Todos temos uma percepção clara dos benefícios do turismo e todos estamos conscientes das perturbações que este provoca.
O turismo é um fruto da natureza construído pelo homem e para o homem. O desenvolvimento do turismo acelera o desaparecimento de actividades que, por uma razão ou outra, sempre desapareceriam, mas que gera muitas outras.
Assim, a ocupação do solo pelo turismo deve ser feita no respeito pelas regras ambientais e outras. É por isso que, tal como foi criada a Rede Natura, a RAN (Reserva Agrícola Nacional) e a REN (Reserva Ecológica Nacional), a aprovação de Áreas de Protecção Turística constitui um instrumento de racionalização e compreensão das novas realidades económicas e sociais, como é o caso do apoio ao desenvolvimento da economia do turismo.
A definição de Áreas de Protecção Turística é um factor de valorização do património no seu todo, e muito principalmente, um mecanismo de qualificação de zonas já ocupadas e a desenvolver no futuro, no respeito pelos princípios da sustentabilidade humana, ambiental, territorial e empresarial.
“O Algarve não pode continuar a ser a região portuguesa onde se regista o maior atraso em investimentos públicos“
Cabe aqui referir que o desenvolvimento local do Interior algarvio mais directo – o Barrocal e a Serra -, é um processo difícil, mas que pode e deve ser apoiado por um turismo ligeiro completamente diferente do litoral, mas complementar, apesar de alguns projectos estruturantes de grande qualidade e dimensão que podem coexistir perfeitamente entre si.
O que não pode continuar a acontecer é a utilização de referências que associam o atraso da serra ao turismo, ou mais grave ainda, usar esse atraso como arma de arremesso contra o desenvolvimento turístico, seja ele do litoral, do interior ou da serra.
A recusa liminar de compatibilizar actividades turísticas com o espaço REN e Natura 2000 é, na nossa perspectiva, ilegal, não tem cobertura científica e viola o estabelecido na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS-2002).
A sustentabilidade do turismo não pode resumir-se a uma produção de nicho, ou a sectarismos e visões passadistas sem qualquer capacidade de resposta às aspirações das sociedades modernas, como vem acontecendo até aqui. O desenvolvimento sustentável do turismo terá de ser, por um lado, a consequência directa de uma equidade social e prosperidade económica e, por outro, a valorização desse mesmo capital natural (Relatório Brundtland – Primeira Ministra Norueguesa).
O Algarve não pode continuar a ser a região portuguesa onde se regista o maior atraso em investimentos públicos, nem continuar a ser uma região esquecida onde tudo chega em último lugar.
A agitação autoritária das boas causas ambientais não pode continuar a ser um terreno privilegiado para alguns pretenderem construir carreiras políticas, ou outras, à custa e/ou em nome da protecção do ambiente e de uma suposta defesa do turismo.
O que não pode continuar a acontecer é mais de dois terços do Algarve serem ou RAN, ou REN, ou Rede Natura, onde tudo é proibido fazer. O que não está feito, e é preciso fazer, é identificar as áreas que exigem diferentes graus de protecção e quais as actividades que, consoante o seu impacte ambiental, aí se podem instalar, designadamente empreendimentos turísticos estruturantes e qualificadores da nossa oferta.
A RAN, a REN, a Rede Natura, os Planos de Bacia, etc. têm de passar a ser espaços vivos de protecção e conservação da natureza e de integração do Homem, e atender ao desenvolvimento da economia em geral e do turismo em particular.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfic