A vida apenas tem o sentido que lhe damos, em cada dia que vivemos”. Esta frase tem autoria em Fernando Pessoa, o grande poeta português do século XVIII.
Poderia este texto começar com esta frase? Poderia e efetivamente pode, pois, este texto começou com a frase que acabou de ler.
Mas a frase está errada em razão de três fatores: primeiro, porque Fernando Pessoa não é um poeta daquele século; segundo, porque Fernando Pessoa escreveu várias reflexões sobre a vida, mas nenhuma delas é a frase acima citada; e, por fim, porque a frase é da minha autoria, inventada, há poucos dias, quando estava a pensar no tema sobre o qual escrevo hoje.

“Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos”
Fico muito fascinado com as mudanças que o mundo digital nos traz. Os diversos softwares disponíveis nos nossos múltiplos hardwares destinados a facilitar a nossa vida tornam a concretização das tarefas maçadoras e aborrecidas do nosso quotidiano mais fácil de executar.
Contudo, se a nossa ambição é facilitar a execução das ditas tarefas básicas do nosso dia a dia sem termos de pensar muito sobre a forma e a substância com que obtemos a solução para os problemas, vamos igualmente ensinando o nosso cérebro a atuar de uma forma cada vez mais relaxada.
Não existe, assim, algo mais humano que procurar um atalho sem prestar atenção ao possível trabalho de seguir esse mesmo atalho. Ademais, invoca-se o conhecimento tradicional com o famoso ditado popular de “Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos”.
Efetivamente, não há nenhum problema em procurar dominar uma determinada ferramenta para facilitar o caminho para os resultados pessoais ou profissionais que precisamos e pretendemos alcançar. Apenas o facilitismo não pode levar à distração da mente, que relaxada na mais rápida execução da tarefa pode ser mais desatenta relativamente aos erros que existem nas respostas oferecidas pelo software de IA que usamos diariamente.
Como alertam os slogans publicitários das bebidas alcoólicas: beba, mas com moderação. Aqui não se defende a inutilização das ferramentas atuais de IA para nos ajudar a realizar os nossos trabalhos e tarefas, apenas temos de obedecer as regras de cuidado e moderação nessa mesma utilização, prestando atenção a todos os detalhes das soluções oferecidas pelas ferramentas que temos ao nosso dispor.
Por fim, relembrando outra forma do ditado popular acima transcrito que nos é ensinado pelo conhecimento tradicional, mais antigo e mais sólido que a inteligência artificial, que “Quem se mete por atalhos não se livra de trabalhos”.
Por isso, a conclusão é e sempre será essa: o atalho é possível, mas o trabalho é sempre existente e exigido, sobretudo dedicado à atenção ao detalhe.
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