Os alunos estrangeiros que chegavam à Escola Básica Tecnopolis do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas, em Lagos, não tinham uma resposta específica que promovesse a sua integração. Na altura, o apoio prestado aos alunos não falantes de português era insuficiente e, nalguns casos, resultava em insucesso escolar.
“Para estes alunos, o apoio de 90 minutos semanais revelava-se insuficiente. Verificou-se ainda a necessidade de proporcionar uma integração cultural, que vai para além da barreira da língua. Surge, assim, o projeto “Português Língua Não Materna – Integração e Aprendizagem”, explicam ao POSTAL a professora Assunção Furtado e a adjunta do diretor Dina Grilo, responsáveis pelo projeto.
Para efeitos de sucesso escolar, terá de existir um programa nacional de apoio aos alunos das comunidades estrangeiras falantes de português, similar ao PLNM. Este problema não se põe só na Região do Algarve.
Atualmente, encontram-se matriculados no Agrupamento de Escolas Júlio Dantas mais de 500 alunos estrangeiros, de 42 países diferentes.
A Escola Básica Tecnopolis, que conta com cerca de 760 alunos, tem atualmente matriculados 29 alunos a beneficiar desta ação.
O “PLNM – Integração e Aprendizagem” é inovador e surgiu a partir da proposta da Direção do Agrupamento e da candidatura “Todos Juntos Podemos Ler”, apoiada pela Rede de Bibliotecas Escolares. Teve início na Escola Básica Tecnopolis, no ano letivo 2021/2022, e encontra-se em pleno desenvolvimento, sendo já uma escola de referência junto da comunidade estrangeira, que procura este estabelecimento especificamente devido a este projeto.
As boas práticas
Ao chegarem à Escola Tecnopolis, independentemente da altura do ano, “os alunos são inseridos numa turma, que se torna a sua turma de origem, porém, apenas frequentam as aulas práticas”, salienta a professora Assunção Furtado.
Nos restantes tempos, “estão em trabalho intensivo na biblioteca da escola, com docentes de diversas áreas”.
Nestes dias, paralelamente, os docentes desenvolvem com cada aluno as tarefas planeadas, de acordo com o seu nível de proficiência. Os horários semanais dos docentes são dinâmicos, pois “verifica-se a chegada constante, durante o ano letivo, de novos alunos”.
A avaliação é atribuída em articulação com os docentes que dinamizam a presente ação e os conselhos de turma a que os alunos pertencem.
O projeto “Português Língua Não Materna – Integração e Aprendizagem” tem o apoio do Fundo Social Europeu, solicitado ao Programa Algarve 2030, e enquadra-se na tipologia de operação “Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP)”.
A aprendizagem de português representava uma barreira
P – Como é que os alunos, famílias e comunidade avaliam o projeto?
R – A partir das informações recolhidas, foi possível conhecer melhor o contexto e as expetativas dos alunos e respetivas famílias: os pais entendem que este projeto é facilitador do domínio da língua, manifestando total apoio à consecução do plano.
A escola conta ainda com o apoio de elementos da comunidade civil (pessoas de referência, associações, autarquia…) na comunicação com as famílias e resolução de problemas sociais detetados.
P – Qual o impacto do projeto no sucesso educativo?
R – Este projeto possibilitou não só a transição mais rápida para os níveis de proficiência seguintes e, consequentemente, uma melhoria na aquisição da língua, mas também a inclusão social e cultural dos alunos na comunidade educativa. Após a introdução desta medida, verificou-se uma melhoria no sucesso escolar destes alunos.
P – O problema identificado no diagnóstico encontra resolução?
R – Este projeto é, na sua génese, um processo em constante desenvolvimento, pelo que é imperiosa a manutenção do mesmo, que carece de recursos humanos e materiais de excelência.
P – O sucesso do projeto justifica a sua continuidade. Que dificuldades representam ser o maior desafio?
R – O projeto vai manter-se, pois provou ser uma medida de sucesso, de inclusão e protetora de uma comunidade escolar que sentia que a aprendizagem de português representava uma barreira.
O AEJD conta ainda com uma vasta comunidade estrangeira falante de Português e que, no nosso entender, deveria contar com medidas ministeriais de proteção e inclusão, tal como acontece com o PLNM.
Este agrupamento contava em 2022/23 com 212 alunos oriundos do Brasil (a nossa maior comunidade estrangeira) e 25 dos PALOP. Estes alunos vêm de sistemas educativos diferentes, com um nível de exigência que não tem paralelo com o português.
As dificuldades de integração sentidas resultam, muitas vezes, em situações de indisciplina. São sistemas educativos com um grande desfasamento relativamente ao nosso.
NA SENDA DO SUCESSO ESCOLAR
Na edição papel de 15 de dezembro, o Postal do Algarve divulgou dois projetos inspiradores que visam melhorar o sucesso escolar no Algarve, numa iniciativa em parceria com o Programa Regional Algarve 2030, para quem o investimento na Educação constituiu, desde a primeira hora, uma prioridade.
Leia sobre o segundo projeto em:
AE Professor Paula Nogueira em Olhão: ‘Porta Amiga’, um apoio personalizado ao aluno