DIA DO ALGARVE
Todos os dias são dias de qualquer coisa. Há dias mundiais, internacionais, nacionais, regionais, profissionais, individuais, etecetritais e sabe-se lá que mais. No amor há o dia do primeiro olhar, do primeiro toque, do primeiro beijo, da primeira cavalgada, do primeiro tudo, seja filme, passeio, praia, bailinho, anel, até que acabe, seja bem, seja mal, ou porque a vida também tem um final. E claro!, sem esquecer o Dia de S. Valentim, esse bispo casamenteiro, decapitado pelos romanos no ano de 273, e apeado do calendário católico em 1969. Religiosamente falando, é uma santidade pegada, quase um santo por cada dia, dum tempo de gente sadia imune às poucas vergonhas do confessionário.
No topo da popularidade está, obviamente, o Dia de Natal, cuja época o comércio já antecipou mais de um mês na propaganda e prolongou para saldo das sobras. O Dia de Páscoa, para não lhe ficar atrás, promove coelhos e ovos de chocolate em abundância, e folares diversos. Para gente gulosa, se não há invente-se já o Dia do Pastel de Nata, do Dom Rodrigo ou do Folhado de Loulé. Para gente comilona, nem é preciso inventar: aí estão os Dias do Hamburguer, do Sushi, do Pão ou da Sanduíche. Ignore-se o Dia da Obesidade, próprio de gente chata que quer tirar aos outros o prazer de comer. Pena, que ainda não haja o Dia do Carapau Alimado ou do Arroz de Lingueirão. Haja esperança.
Porque não ter um Dia do Algarve, feito feriado regional, para que os velhos e os novos algarvios se lembrassem do Reino que o Algarve já foi e da Região Autónoma que poderia ter sido e Lisboa não deixou
Nos últimos tempos, nos últimos meses para ser mais preciso, desenvolveu-se em Portugal um fenómeno fantástico: o Dia das Mentiras, convencionado para o primeiro de Abril, replica-se agora em todos os dias do ano. Deixou de ser uma brincadeira, passou a caso sério, relegando o Carnaval ou o Dia da Gargalhada para um cantinho, até que chegue o Dia do Pânico, onde toda a gente pode chorar do terror a que isto chegou. Matérias sensíveis e meritórias, radicando na defesa dos Direitos Humanos, merecem dias especiais consagrados à Mulher, ao combate à Escravatura ou à Violência. Pessoas complicadas, gostam do Dia ao Contrário, registe-se a onda de adesões. Na caserna, falta o Dia dos Generais para imitar o Dia dos Sargentos. E malta precavida, venera o Dia do Preservativo. Em suma, há Dias para todos os gostos, por vezes em datas diferentes de país para país. Muitos deles dão jeito, porque carregam Feriados às costas, para descanso do pessoal, ou ponte grevista. Mas o mais importante, é que tudo isto é negócio, dá dinheirinho, venham Dias, que os anos são compridos e passam depressa. É só facturar.
Cá em baixo, dá que pensar. Se temos o Dia da Europa, o Dia de Portugal (mais Camões e Comunidades), e até o Dia da Restauração para os mais nostálgicos, porque razão não há o Dia do Algarve? Já temos um Hino, lindo aliás, fruto da inspiração do Maestro Armando Mota, com letra de José Carlos Barros, produzido em 2005 pela AMAL, ao tempo liderada por Macário Correia. Porque não ter um Dia do Algarve, feito feriado regional, para que os velhos e os novos algarvios se lembrassem do Reino que o Algarve já foi e da Região Autónoma que poderia ter sido e Lisboa não deixou.
A gesta dos Descobrimentos ou os alvores do Turismo têm datas algo difusas. Mas há duas que não enganam. A 16 de Fevereiro (de 1267) foi assinado o Tratado de Badajoz entre D. Afonso III de Portugal e D. Afonso X de Leão, no qual se estabeleceu que o Reino do Algarve pertencia ao Reino de Portugal. E, a 1 de Novembro (de 1808) deu-se início à revolta vitoriosa do povo de Olhão contra as tropas invasoras de Napoleão. É só escolher.
DIA DA MÃE
O dia de aniversário das pessoas mais próximas, familiares ou amigas, tem um lugar especial que não deve ser passado no esquecimento. Com festa ou sem festa, com ou sem bolo e velas, com canção ou sem canção, com prenda ou sem prenda, o serviço mínimo é um parabéns a você, pessoal ou telefónico, um beijo e um abraço aos pais, irmãos, filhos, tios, avôs, parentes ou primos em décimo grau se tão longe se quiser ir. Mas o Dia da Mãe que se celebra este 8 de Maio é uma ocasião muito especial de homenagem à maternidade e à figura familiar materna. Claro que há excepções, mas uma Mãe significa amor sem condições, instinto protector, dádiva total sem nada exigir em troca.
Ser Mãe significa colocar a felicidade dos filhos acima de si própria. É ser professora, cuidadora, protectora, sem tempo para cansaço nem sono descansado. Significa muito trabalho, dentro e fora de casa, para que nada falte a quem daquele ventre saiu. Significa compreender e saber perdoar as faltas, os pecados, as omissões, os defeitos grandes e pequenos do sangue do seu sangue. Ser Mãe é ser titular de um crédito enorme que nunca se cobrará. Perante tamanha idiossincrasia de amor, malditas sejam todas as guerras que roubam filhos às mães e mães aos filhos!
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia