
Professor catedrático da Universidade do Algarve;
Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora;
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https://saul2017.wixsite.com/artes
O turismo tem sido, nos últimos anos, uma das principais alavancas do crescimento económico e da diminuição do desemprego no nosso país. Em particular, temos conseguido alcançar diversos prémios de excelência pela qualidade das nossas praias, dos campos de golfe, da gastronomia, dos vinhos, etc.
No entanto, outros fatores, embora podendo não estar diretamente ligados à escolha de Portugal como destino turístico, podem contribuir para a satisfação dos turistas quando avaliam o nosso país como destino de cultura e lazer. Um deles é a produção artística, nomeadamente a arte urbana ou “street art”, que diz respeito a manifestações artísticas realizadas no espaço público, coletivo ou urbano.
Num artigo anterior em que procurámos responder à questão “A rua pode ser uma galeria de arte?” salientámos que, no passado, o acesso à produção artística em artes visuais obrigava a que as pessoas fossem a museus ou galerias de arte. No entanto, cada vez mais, nas últimas décadas a arte tem-se vindo a procurar aproximar das pessoas, nos mais diversos domínios e formas de expressão artística, nomeadamente nas performances e na arte urbana.
Desta forma, a expressão artística tem contribuído para a democratização da cultura, permitindo o acesso de todos às manifestações artísticas.

Inclusivamente, a arte urbana tem permitido recuperar zonas urbanas degradadas e socialmente problemáticas, tornando-as até “cartão de visita” turístico. Foi o caso da Quinta do Mocho, em Loures, anteriormente considerado um dos bairros mais problemáticos do país, com situações de violência e tráfico de droga, escondendo os moradores o local de residência quando procuravam emprego e recusando-se os taxistas a entrar neste bairro. No entanto, no verão de 2016, cerca de 100 artistas portugueses e estrangeiros participaram na primeira edição do “Loures Arte Pública” e, em junho deste ano, realizou-se a segunda edição deste evento (festival de arte urbana “O Bairro i o Mundo”), tendo contado com a participação de um número ainda superior de artistas, que participaram de forma voluntária, uma vez que não recebem qualquer vencimento, sendo a “residência artística” da responsabilidade da autarquia. Desta forma, a arte urbana feita de forma organizada pode constituir fator de desenvolvimento e inclusão social, bem como contribuir para o orgulho e bem-estar dos residentes.
Além disso, revela que a arte urbana pode ser usada para a promoção artística das cidades, sendo promovida a visita e a descoberta das imagens através de um circuito pedonal.

Recentemente, alguns municípios, em articulação com agentes culturais, têm criado rotas de percursos para que os turistas possam apreciar as obras de arte urbana realizadas nessas cidades.
Um dos exemplos diz respeito às cinco rotas de percursos culturais alternativos nas cidades de Porto e Vila do Conde, “desenhados” no âmbito do projeto “StreetArtCEI”, spin-off do projeto “The Route”, do Centro de Estudos Interculturais, do Instituto Politécnico do Porto.
De 22 de julho a 27 de agosto, a PortoLazer volta a oferecer oficinas e visitas guiadas pedestres ou de tuk-tuk por algumas das obras presentes nas ruas da cidade.
O “Up Street Stop & Go” acontece aos sábados e domingos, duas vezes por dia (às 11h e 17h), com cada percurso a ter a duração média de uma hora, guiado por alunos finalistas da Escola Superior de Educação do Porto do Instituto Politécnico do Porto.
Esta articulação dos municípios com as instituições de ensino superior é um aspeto interessante a desenvolver também noutras regiões do país, em particular no Algarve, podendo as Artes Visuais da Universidade do Algarve ajudar a desenvolver percursos em articulação com a Direção Regional da Cultura e com os municípios da região, com benefícios para os turistas e para os residentes, nos planos social e económico.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Agosto)