O “BENCHMARKING” DA FELICIDADE
O conceito de felicidade é muito relativo. Há quem se contente com pouco e se sinta muito feliz, e quem tenha muito e seja um muro de lágrimas e lamentos do nascer ao pôr do sol, mesmo em dias de chuva. Churchill encontrava na ausência de prática desportiva um motivo de alegria e longevidade. Muita gente existe para quem o exercício físico é a razão única do dia-a-dia. Famílias numerosas, filharada em rebanho enchem uma casa de excitação. Há casais e monoparentais que optam por não ter de aturar as birras dos rebentos. Acumular diplomas, cursos, doutoramentos, são objectivos de uns. Outros preferem a ignorância dos simples. O dinheiro faz muito jeito, o dinheiro não é tudo na vida, venha o diabo e escolha se não houver meio termo. A cidade ou os campos, eterna dúvida sobre onde mais brilhará o contentamento. Ócio ou trabalho, qual deve prevalecer?
Viver em torre ou morar à flor da terra, cada um escolhe onde se sente mais confortável, mais feliz, se puder escolher, claro. Há quem aprecie o frio, e quem se sinta bem no calor tropical. Aqui reside o busílis da infelicidade. Sabe-se o que se quer, do que se gosta, num determinado momento, mas vive-se no oposto por falta de meios, de opções, de oportunidades. E vem o factor temporal. O que se gosta na adolescência, é diferente do que se aprecia na meia-idade, pior ainda quando se mete a terceira velocidade.
Seja como for, quando se procura aferir o grau de felicidade de um povo, de um Estado, tem de se escrutinar um conjunto diversificado de critérios como os apoios sociais, os rendimentos, a saúde, a educação, a habitação, e valores definidores de uma sociedade como a liberdade, a generosidade, a transparência e a integridade. Não existe perfeição total em todos estes aspectos, mas é possível encontrar uma média final que classifica os países por ordem decrescente do índice de felicidade percepcionada pelos respectivos cidadãos. É esse o objectivo do World Happiness Report supervisionado pela Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que entrevista anualmente mais de 100.000 indivíduos.
No topo da lista dos felizes mais felizes do mundo estão a Finlândia, Dinamarca, Islândia, Suécia, Noruega. Países nórdicos, portanto. Acima de tudo, existe o sentimento de que o Estado devolve mais e melhor aos cidadãos os impostos que lhes cobra. Portugal ocupa a 56ª posição, nada honrosa por sinal, no contexto dos seus parceiros comunitários, em retrocesso acelerado nos últimos anos.
Os nossos gestores políticos, governantes e autarcas, deveriam colocar os olhos neste relatório, introduzindo acções práticas nas políticas públicas que tenham como fim principal melhorar a felicidade e o bem-estar da população. É fácil dizer isto, difícil é concretizar. Adopte-se, pois, a avaliação comparativa, o chavão a que os gestores chamam de “benchmarking”. Uma bancada de trabalho onde se colocam as diferentes experiências e os respectivos resultados. Escolham-se os melhores como referência, busque-se orientação em quem trilhou o caminho do sucesso, sem descurar os pontos baixos para não repetir as falhas. Os nórdicos são os melhores a encontrar a felicidade? Investigue-se como e porquê.
OS CUSTOS DE ALGARVIALIDADE
O rendimento anual dos algarvios oscila entre a casa dos 9.000 e dos 11.000 euros, segundo o INE, variando de município para município. Tome-se a média. Com pouco mais de 800 euros por mês, não deve ser fácil habitar, comer, beber, vestir, calçar, educar, criar filhos. O que sobra? Imagine-se o que é para quem ganha muito menos. Na Madeira e nos Açores, têm custos de insularidade, e são recompensados por isso de várias formas.
No Algarve, temos custos de algarvialidade, mas ninguém nos acode. Há uma inflação congénita que torna tudo muito mais caro, no mercado, na peixaria, nos serviços, no restaurante, na habitação. Aos poucos, os indígenas vão sendo afastados do Algarve que conheceram. O peixe “de mar” (a preços escandalosos), é só para alguns, o estacionamento gratuito junto às praias (a tarifas proibitivas), a língua portuguesa, a identidade cultural. Sobra-nos animação a rodos. É um corrupio de festas, concertos e festinhas à borla. Já lá diziam os Romanos… pão e circo, fica tudo contente para o ano que vem.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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