Começaram em 2018 no palco e a sintonia aconteceu de imediato. Filipe Mattos e Anaïs Thinon cruzaram-se em Berlim e a empatia foi crescendo, até ao nascimento do projeto Orfélia, que cruza a música ao sentimento e energia dos jovens.
Ao longo dos quase dois anos de caminhada, a dupla conta que, em conjunto com a banda, “conseguimos tocar bastante pela Alemanha e no Brasil”. Em Portugal os concertos foram menos, devido à pandemia. Já lançaram um primeiro EP – Retratos Temporais, com quatro músicas, que foi um “primeiro esforço” para conseguir criar algo. Lançaram ainda um clipe para cada música. Neste momento, estão com o grupo e vão gravar no final do ano um disco de longa duração, que sairá, em princípio, no primeiro trimestre de 2021. Foi através do concurso “Vodafone Inéditos” que se tornaram mais conhecidos.
A iniciativa da empresa Vodafone pedia uma música inédita e original, onde o objetivo final seria distribuir uma verba de 100 mil euros pelas músicas preferidas. Ao todo foram avaliadas perto de 400 candidaturas. No total, foram 20 músicas selecionadas, que tinham ainda oportunidade de entrar na programação da rádio Vodafone e num álbum das canções selecionadas, que será distribuído em formato físico e digital pela Sony Music.
A participação no concurso Vodafone foi “por acaso”, refere Filipe Mattos. O objetivo era chamar à atenção da população portuguesa para o projeto Orfélia, que estava mais desenvolvido na Alemanha. Com a incerteza da pandemia, a dupla viu o concurso como uma oportunidade. Quando foram selecionados, o sentimento que imperou foi a surpresa. Curiosamente ou não, Filipe Mattos estava na estação de comboios a caminho de Lagos quando recebeu a notícia. Já Anaïs Thinon pensou que esta foi a altura ideal, uma vez que a pandemia não estava a deixar os responsáveis pelo projeto Orfélia mostrar todo o seu potencial e apresentar os seus temas.
Anaïs Thinon fala de Lagos com muita saudade e amor
A música escolhida pelos responsáveis do projeto Orfélia foi “Lagos”. Admitem Filipe Mattos e Anaïs Thinon que “fez sentido pôr no concurso [esta música] porque transmitia as razões de termos vindo para Portugal. Criámos a música ainda em Berlim”. A letra transmite a saudade e a vontade de voltar a casa, no caso na Anaïs Thinon, que é natural de Lagos. Contudo, o sentimento faz também parte de Filipe Mattos, que está longe do Brasil e da sua cidade, Florianópolis. A música tem uma letra sentida e tocante, que pode alcançar qualquer um dos seus ouvintes.
Anaïs Thinon fala de Lagos com muita saudade e amor. “Aquela cidade tem essa propriedade incrível de limpeza e mar”. Quando “estava em Berlim e no frio, só pensava em voltar (devido a algumas coisas que me aconteceram por lá) e esta música tem o seu lado espiritual”. Para Filipe Mattos, que “não conhecia Lagos”, a música representa ainda um pouco a sua cidade, situada no litoral. “Quando fui lá [a Lagos] senti-me em casa. É o lugar mais fora de casa, que me faz sentir em casa”.
Esta música “é uma carta de amor a Lagos. Estando de fora, vi a cidade de outra forma. O meu pai dizia-me todos os dias quando ia para a escola: ‘olha o mar azul’ e eu não reconhecia essa importância na altura”. O valor das nossas origens está intrínseco em cada palavra da música, que junta a saudade à importância de reconhecermos pequenas coisas, que muitas vezes tomamos como garantidas. Uma dessas “verdades garantidas” é a nossa liberdade, que nos foi condicionada desde o aparecimento da pandemia, mas que só por coincidência, tem alguma ligação à música.
O videoclipe foi todo gravado em Lagos, com a participação de amigos da cidade, e a dupla dirigiu o “retrato” da música, sem aparecer. Continuando a definir “Lagos”, os jovens afirmam que a música mostra o lado da memória e da cidade. “Retrata momentos típicos dos lacobrigenses, como pôr a argila no Porto Mós, a Praia do Canavial com o pôr do sol e o salto no Cais do Forte”. Todos os protagonistas do videoclipe estão em modo estátua, com a argila e, em seguida, vão ganhando vida. Todo o vídeo acompanha um dia em Lagos e “acaba num mergulho”. Neste momento, Filipe Mattos e Anaïs Thinon sentem que existem pessoas que querem agora conhecê-los e, de certa forma, o concurso deu-lhes algum protagonismo que ambos sonhavam alcançar.
A música já foi ouvida pela vereadora de Lagos, quando era apenas uma amostra de 30 segundos. O trabalho prosegue e a “vontade de fazer música e continuar a ser artista” também. O foco é agora lançar o álbum. Um passo de cada vez.
Acompanhe o projeto Orfélia, seguindo o Instagram ou a página de Facebook. Se quiser ouvir a música “Lagos”, pode fazê-lo AQUI.