Às vezes o bosque…, com texto de Alex Nogués, ilustrações de Ina Hristova, e tradução e revisão de Catarina Sacramento, é o segundo volume da coleção AKIWOW. E como a interjeição deixa perceber, o nome desta nova coleção de livros informativos com um formato especial, de pequenas dimensões e uma encadernação especial holandesa (lombada de tecido e capas de cartão prensado), à semelhança de cadernos de explorador, incorpora “o espanto perante o mundo”. Os livros da AKIARA são publicados em português, mas também em catalão e em espanhol.
Este livro a lembrar um diário de explorador assume-se sobretudo como um poema informativo. Rico em dados e curiosidades, sendo que alguns deles já apareciam em Redescobrir o mundo, este livro destaca-se pela originalidade na apresentação da informação de forma mais leve, poética, criando sempre paralelos imaginativos. Também por isso proliferam as metáforas e as comparações. As próprias ilustrações combinam com este mundo entre o real e o feérico pelo seu traço ingénuo, num desenho simples, onde sobressai a pujança do verde.
Este livro de autor ensina diversos aspetos sobre a vida dos bosques ao longo das quatro estações do ano, e apresenta as plantas, os animais, as estações, as cores…
“Às vezes o bosque canta e é canção. Outras, dorme. Às vezes o bosque sonha com o fogo ou inventa a chuva e os guarda-chuvas. O bosque às vezes prega partidas. Às vezes, imagina que és um gigante.”
Toma como guia uma figura que lembra um gnomo do bosque, ou tão simplesmente um menino curioso, ainda que de tamanho reduzido – por vezes mais pequeno que os pequenos animais que habitam o bosque – e que nos conduz ao longo dos segredos do seu reino. Como se anuncia logo no início, em jeito de prólogo, para ler este livro, precisas de um bosque, de um pau, de tempo e de uns óculos invisíveis com lentes de realidade aumentada – para quem não os tem ainda, capazes de redescobrir o permanente espanto que nos assola perante o mundo. Ou que, na verdade, muitos de nós fomos preterindo, esquecendo como vivemos todos em cadeia, e o desrespeito pela natureza pode pôr em causa o nosso próprio futuro. Por isso, de forma subtil, o texto relembra-nos de que a história do bosque é também uma história de sobrevivência e de cooperação, em que as árvores, as plantas e os animais conseguem comunicar entre si. “Visto do espaço, o nosso planeta não é mais do que uma esfera minúscula onde convivem organismos-oceano e organismos-bosque.” Ou que as alterações climáticas provocam a antecipação da Primavera, anunciada com a chegada do cuco: “O canto do cuco é a primavera em ponto. Agora também é um aviso de que vamos em contrarrelógio.”
Uma das relações que se estabelece na leitura é a do bosque como escrita, como um mundo mágico a decifrar, desde a leitura dos anéis nos troncos das árvores às semiesferas na folha de um feto. É também no bosque que se podem encontrar alguns dos suportes da escrita necessários a livros como este, como a tinta que nasceu dos cogumelos gota-de-tinta colhidos na Idade Média pelos monges ou a casca do vidoeiro que parece papel e já era usada há dois mil anos como folha. Aliás, o vocábulo latino liber, que deu origem à palavra livro, significa justamente “a parte interior da casca das árvores”.