Tanto que se fala nos dias de hoje na falta de água, gostaria de trazer ao conhecimento dos leitores uma situação gritante que ocorre no concelho de Loulé, quando o Executivo Camarário teima em levar a cabo a construção de uma obra pública por cima de uma linha de água que alimenta 5 furos, a cortar dezenas de árvores centenárias e retirar privacidade a um casal de idosos, quando há alternativa, bastando para o efeito afastar alguns metros o traçado inicial.
A construção desta circular Norte tem algumas contradições que não conseguimos entender.
Como é que se fazem acessos sem sentido, expropriam-se terrenos aos proprietários, como é o caso da parcela 18 da referida Circular Norte, que nem se encontra na zona de passagem da circular, para construir acessos completamente desnecessários (basta verificar o desenho do traçado), onde existem 3 estradas paralelas num espaço de 2 mil e tal metros quadrados. Havia alternativa? Claro que sim… bastava ouvir os proprietários e perceber as soluções que são tão mais pragmáticas do que os desenhos dos senhores de gabinete que praticamente nem ao local de deslocam…
Por outro lado, o arraso ambiental é também gritante!
Destrói-se uma quantidade de árvores, entre elas 17 azinheiras (grandes, médias, pequenas) árvores protegidas por lei, e ao que parece com parecer favorável da APA. Será?
Então a nossa indignação ainda é maior!
Bastava alterar simplesmente a rotunda alguns metros para sul no cruzamento das estradas atuais e com uma pequena ligação entre a rotunda e a estrada paralela e obviava-se a expropriação da parcela 18 e não haveria necessidade das ditas 3 estradas.
Falando da parcela 19 aqui é muito mais grave porque a estrada passa por cima de um furo que alimenta uma horta e uma vivenda e onde entre o furo e o limite da propriedade estão 80 metros de um vazio com poucas árvores. Não seria óbvio, alterar ligeiramente o traçado para sul e evitar este massacre ambiental?
Está igualmente prevista a destruição de 110 árvores, entre elas alfarrobeiras, algumas delas com 400 anos, oliveiras, figueiras, limoeiros, para além das referidas azinheiras.
A APA, será que é mesmo uma agência do ambiente?
Será que se preocupa verdadeiramente com o ambiente? Se sim, como pode ter dado parecer favorável à eliminação de uma linha de água para a construção de uma rotunda, onde é uma passagem da água da chuva vinda dos serros e das terras altas vizinhas, sendo uma das duas zonas onde as águas se podem infiltrar para alimentar uma linha de água subterrânea que alimenta 5 furos?
Com as secas contínuas no Algarve é gravíssima a decisão. E não se fala nas águas correntes sobre a terra, porque essas já estão quase todas canalizadas, mas sim, da infiltração da via subterrânea.
Por outro lado, a indignação deste proprietário é tanto maior quando existe área de terreno do mesmo proprietário, a sul, completamente limpa, ou quase limpa e disponível que não querem aproveitar e teima-se em fazer o traçado da dita
circular no logradouro da casa, a escassos metros da habitação, eliminando totalmente a privacidade do proprietário. Como se pode explicar este facto?
Com apenas uma pequena alteração na execução da obra, poder-se-ia eliminar este problema, até porque o proprietário se disponibilizou para ceder o remanescente do terreno a sul.
Não se trata de não aceitar a passagem!
Não se trata de não querer ceder terreno!
Não se trata de querer inviabilizar uma obra necessária ao concelho! Trata-se de querer explicar e fazer ver aos Srs do executivo que disponibilizando o seu tempo para conversar “in loco” com os proprietários e perceber as suas “dores” e até sugestões, tudo poderia ser mais fácil.
Trata-se de fazer ver os Srs do executivo que por vezes o conforto do gabinete e a facilidade informática e tecnológica tem que ser ajustada e nem sempre o que parece mais evidente nos computadores é o melhor na realidade.
Apenas se pede um pouco de compreensão!
O dito terreno vai ser dividido no sentido do comprimento de quase meio quilómetro sem ligação direta entre as duas metades. Atualmente com um simples carro de mão circula-se em toda a propriedade transportando o necessário, depois de dividida como será? Com um helicóptero?
Outra pergunta que se pode fazer é: uma estrada com 2 vias sem necessidade de caminhos paralelos para outras propriedades. Para quê uma largura enorme, parece uns 30 metros. Assim como rotundas com diâmetro como se fosse para 4 vias.
Esta circular será unicamente para trânsito local porque se olharmos ao mapa todas as cidades do Algarve na ligação com o resto do país ou estrangeiro não passam com ligações com Loulé muito menos pela Circular, e no Norte de Loulé não existem nem cidades nem vilas, e quem trabalha na cidade ou descarregamentos de camiões têm que entrar dentro da cidade não é a Circular que vai alterar a poluição (como dizem). Não se vê desde já, a urgência, nem mesmo a grande utilidade da obra, mas isto é a minha opinião, que tenho direito expressar, não obstante haver entendimento contrário e eu aceitar a sua realização, opondo-me veementemente à catástrofe ambiental que ela provoca. O mais curioso em tudo isto é que a própria A.P.A. (Protetora do Ambiente) encontre este traçado normal?
Como pode um Presidente de Câmara, que tem sido tão eficaz na gerência do Concelho de Loulé, obtendo várias melhorias importantes, não reparar que aqui qualquer coisa está errada no traçado da estrada?
Possivelmente mal aconselhado e com uma solução tão simples para a solução deste problema. Além de tudo isto informa-se que a propriedade abrangida pela parcela 19 são terrenos de barro de onde antigamente existiu uma exploração de milhões de metros cúbicos de barro e que ainda seria possível explorar, com charcas e daí o nome do Sítio dos Barreiros. Nesta propriedade existem centenas de figueiras, árvores em vias de extinção, amendoeiras, também em vias de extinção, bastantes oliveiras, e sobretudo dezenas de azinheiras, uma dela possivelmente uma das maiores do Algarve, tudo isto é raro nos arredores de Loulé. Lamentavelmente para a A.P.A. tudo isto não é importante. Apela-se à contenção de água e no final é o próprio executivo que não tem isso em consideração.
Se repararmos nas fotografias nota-se a contradição entre o pedido à população para contenção das águas e a eliminação da alimentação da linha de água subterrânea que lembramos alimenta 5 furos. Esta é bem a realidade.
A cada dia que passa o braço de ferro com executivo é maior, que teima em não tentar resolver a situação, preferindo os meios judiciais e pretendendo comprar uma batalha jurídica e não perde alguns minutos para “in loco” verificar a situação, que segundo informações obtidas de técnicos entendidos tem solução à vista. Mantemo-nos indignados!
Um proprietário
Manuel Martins
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