Apesar da brutal agressão de que foi alvo pelo Grupo ‘8700’ no início do ano passado, Baniya Nirmal ficou em Portugal. Tanto que compareceu na primeira sessão de julgamento, onde os quatro arguidos – todos com apenas 17 anos e dois deles ainda em prisão preventiva – chegaram acusados de 39 crimes, nomeadamente ofensas à integridade física, roubo, ameaça e perseguição.
“Após a agressão fiquei com medo das pessoas”, admitiu Baniya em tribunal, adiantando ainda que teve de mudar de casa logo após o ataque. Na sessão de julgamento, outros dois arguidos aceitaram falar. Um deles – supostamente o que tentou incendiar o cabelo da vítima – admitiu as agressões a Baniya, enquanto outro recusa qualquer envolvimento no sucedido, afirmando que nessa noite nem sequer saiu de casa.
Agressores são jovens e estão “bem enquadrados socialmente”
Logo após a divulgação do vídeo das agressões a Baniya, em Olhão, em inícios de 2023, a PSP de Faro meteu-se no terreno e poucos dias depois conseguiu identificar os agressores, que fazem parte de um grupo conhecido por ‘8700’ – o código postal de Olhão.
Quatro deles, apontados como os mais violentos, e então com apenas 16 anos, ficaram em prisão preventiva, tendo ainda sido identificados mais de uma dezena de elementos. Percebeu-se então que aquele não foi um ataque isolado: tinham ainda atacado e roubado um estudante, bem como um sem-abrigo. Baniya Nirmal não era, assim, a única vítima destes jovens que, segundo a polícia, são estudantes e estão “bem enquadrados socialmente”.
Baniya Nirmal chegou a Portugal em outubro de 2022. No entanto, não ficou feliz com as condições de trabalho encontradas na capital e rumou a Olhão na véspera do ataque, onde tinha um amigo à espera, que o acolheu em casa. Menos de 24 horas depois de ter chegado a terras algarvias, e quando seguia na Rua Vasco da Gama, no ‘coração’ de Olhão, em direção a casa, Baniya foi atacado.
Consigo levava apenas a esperança de encontrar uma vida melhor e a mochila com quase todos os seus bens e os 350 euros que tinha conseguido poupar. Foi esmurrado, atirado ao chão, pontapeado de forma repetida e houve ainda quem lhe tivesse tentado queimar o cabelo com um isqueiro. Um ataque que foi filmado por um dos elementos do gang, que durou poucos minutos, mas que para a vítima parecia interminável.
Relativamente ao ataque mais recente, em Cabanas de Tavira, o Postal do Algarve sabe que alguns dos seus protagonistas já foram identificados pela GNR. Também esta vítima terá ficado sem algumas dezenas de euros que levava consigo. Nas imediações, os vizinhos dizem conhecer vários dos elementos do grupo, mas temem falar por medo de represálias.
- Por João Tavares
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