Há uma inteligibilidade dos territórios a evidenciar. Essa cartografia pressupõe levantamento de pontos e pontes, unidos em rede a partir de marcos de referência reconhecidos e reconhecíveis. Essa ligação à rede é fundamental para colocar no mapa a cultura. Conhecer e (re) conhecer pontos de evidência, operações básicas, exige participação e discussão porque desse processo nasce o desenho identitário e o mapa cultural.
A Sociomuseologia, campo multidisciplinar e pensamento museológico orientado para os territórios e as pessoas, para uma visão crítica das práticas e usos da cultura, tem um papel relevante na construção da malha identitária.
Neste varrimento de campo, a mira é a escala e o museu o teodolito, a sofisticada estação que nos vai possibilitando o desenho do terreno. Em todas estas operações estão as pessoas, os cartógrafos da memória, os artífices do esquecimento – as duas faces da mesma moeda e o modos operandi do sistema de dados da cultura.
Alguém afirmava que fora da História nada existe, a esta redundância teórica, podemos acrescentar que tudo o que diz respeito às pessoas diz respeito à cultura e que os museus existem porque existem pessoas e que só têm sentido se servirem para a vida, porque como afirma Mário Chagas (o poeta museólogo) “Museus que não servem para a vida não servem para nada”. Há sempre trabalho a fazer nesta extraordinária construção inacabada que são os museus. Para além da permanente actualização das cartografias, representações humanizadas das erosões e mutações do terreno, os pontos essenciais que a metáfora contempla, precisamos, como enfaticamente afirmou Fernando Mora Ramos, de “reinventar o presencial”.
A Gestão Cultural reforça-se com a Gestão colaborativa e o trabalho em rede. Redes horizontais, rizomáticas, a-centradas e multiperspectivadas.
Resumindo: precisamos de redes, malhas que são simultaneamente instrumentos de gestão estratégica e grelhas de análise dos territórios. Precisamos de ter uma visão de conjunto mas também de conseguir segmentar para planear com eficácia, precisamos de políticas públicas e de formar políticos para a Cultura (não chega formar públicos se não tivermos acesso, oferta qualificada e educação), precisamos de observatórios independentes, bons diagnósticos multiperspectivados que deem ferramentas de análise e orientem a acção e programação cultural em rede (estamos sempre a trabalhar por impulso e modas, esgotamos recursos comuns numa “eventologia” frenética que responde a calendários e agendas políticas de ocasião), precisamos de criar mecanismos efectivos de participação, canais de proximidade, projectos efectivos de inclusão que tragam para o centro as margens ou multipliquem e/ou diversifiquem os centros numa lógica rizomática e horizontal de redes da cultura.
Reinventar o PRESENCIAL e o trabalho em rede é a revolução de que precisamos.
Em tempos da “Modernidade líquida” Zygmuntiana, o presencial é a constante na equação da Gestão Cultural e Museus.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Julho)