A fábrica de conservas de sardinha em Sines, situava-se no sítio das Índias em Sines, distrito de Setúbal1 desde 1919, tendo concessão de alvará n.º 1.753 de 8-8-1923, junto do qual situava-se o Bairro Júdice Fialho2. A superfície indicada pelo industrial era: área coberta: 4.875 m2, alpendres: 1.200 m2, galerias: 108 m2 e terreno descoberto: 7.705 m2.3 Na década de 60 do século XX, produzia conservas de peixe em azeite e molhos.
Nos anos 20, a empresa Júdice Fialho empregava em Sines, 128 operários e possuía ainda casas de habitações (projetadas em 1928) e um bairro destinado aos trabalhadores nas imediações da fábrica (projetado em 1934); um armazém instalado no local de N. S.ra das Salas pelo menos desde 1928 (Largo da Cruz); e instalações sociais para os trabalhadores, como uma creche.
Esta fábrica de conservas de sardinha e de farinha e óleo de peixe, consistia segundo, o seguro de 27-5-1931, num estabelecimento existente num edifício de pedra e cal, coberto de telhas, composta por casas de um andar e diversos barracões. Entre o seu equipamento destacavam-se 7 cravadeiras em 1948.4
Por despachos ministeriais do Subsecretário de Estado ou do Ministro do Comércio e Indústria era esta fábrica autorizada: a 17-5-1935, a instalar uma máquina de azeitar, sendo publicado no Diário do Governo de 25-5-1935; em 1936 já estava concluída a instalação elétrica nesta fábrica; a 8-5-1939, a instalar um cozedor simples igual ao aí existente e uma cravadeira Sudry B.C. 15, sendo publicado no Boletim da DGI n.º 120 de 25-5-1939; a 23-4-1940, autorizada a instalar 1 filtro de azeite; em 1946, temos conhecimento dum armazém para recolha de guano; em 1948, esta unidade fabril possuía 7 cravadeiras; a 20-6-1956, a instalar um cozedor-secador de ar quente com 3m,40 x 1m,85 x 1m,36, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 393 de 11-7-1956; a 11-7-1959, a fábrica de Sines tinha instalados 2 cozedores simples e 1 cozedor secador; a 23-7-1959, a instalar 4 bassines com 2m x 1m x 1m10, para a cozedura de peixe grosso, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 553 de 5-8-1959; a 7-10-1963, a instalar uma cravadeira automática da marca Vulcano, tipo V3, de 2 cabeças e 8 lunetas, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 773 de 23-10-1963.5
Segundo Ana Rita Silva de Serra Faria, esta unidade fabril produzia 8.641 caixas de conservas de peixe em 1938, 13.802 em 1939, 23.843 em 1940, 13.500 em 1941, 11.596 em 1942, 9.054 em 1943, 7.087 em 1944, 3.634 em 1945, 4.436 em 1946, 5.199 em 1947, 1.540 em 1948, 6.162 em 1949 e 11.582 em 1950.6
Segundo a planta da fábrica de conservas de sardinha da Júdice Fialho em Sines era esta constituída em 1944: De cima da esquerda para a direita: casa dos tinos de azeite, casa das máquinas, caldeiras, motor, forja, casa das estufas, adega do azeite, pipas de óleo de peixe, casa do guano, alpendre de prensas; ao centro: casa de enlatar, alpendre dos cozedores, enxugador, armazém de depósito de lata vazia, pilha de lenhas, quintal para crianças, escritório, sala das crianças, arrecadação; à esquerda: armazém do cerco, alpendre para estanhagem de grelha, logradouro de madeiras e lenhas, tanque e poço; em baixo da esquerda para a direita: poço, casa do sal, casa das mouras, casa de descabeçar, entrada, casa do mestre, casa do contramestre, quintal, garagem, alpendre, armazém, cavalariça, palheiro, armazém do depósito de Sines, 1 – arrecadação, 2 – tanques de água salgada, 3 a 15 – casas para operários, (a) armazém do material de construção.
Em 11-4-1996, a empresa J. Silva Lobo, adquire a empresa, acabando com a sua laboração em 11-8-1996.7
[1]cf. Para a fábrica de conservas de sardinha em Sines, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes – João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 64-68; segundo a Prof. Doutora Sandra Patrício, o sítio das Índias correspondia a uma grande área de habitação precária e industrial, hoje inserida na malha urbana, que incluía o sítio das Índias propriamente dito (hoje Bairro Marítimo, Bairro do Depósito da Água e Bairro Júdice Fialho), mas que incluía também o sítio da Cruz (hoje Bairro Norton de Matos, Rua Ramiro Correia, Rua Vasco da Gama).
2cf. A data de fundação em 1919 é citada por Paulo Guimarães, que consultou o Arquivo da 4ª Circunscrição Industrial, sendo a mais antiga existente, in Elites e Indústria no Alentejo (1890-1960): um estudo sobre o comportamento económico de grupos de elite em contexto regional no Portugal contemporâneo, 1ª edição, Lisboa: Edições Colibri e CIDEHUS, 2006 (Biblioteca – estudos & colóquios;12), p. 125; um pouco antes em 1918, foi deferido o pedido de depósito de madeira pertencente a João António Júdice Fialho no Largo de Nossa Senhora das Salas, solicitado por José de Jesus Pereira, conforme se verifica no Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Sines, n.º 1, sessão ordinária de 31-12-1918.
3cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL., Olhão, Portimão, Sines, 1936.
4cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, doc. 7437, Ana Rita Silva de Serra Faria – A Organização Contabilística numa empresa da Indústria de Conservas de Peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, dissertação de Mestrado em Ciências Económicas e Empresariais, apresentada no Instituo Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, 2001, pp. 44-45 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 67 e 101. Muitos autores referem erradamente que este proprietário tinha uma fábrica em Setúbal, devido a uma notícia de Fernando Engenheiro – «Apontamentos para a História das Fábricas de Conservas e Estivas em Peniche», in jornal A Voz do Mar de 12-9-2000, quando refere na instalação da fábrica de Peniche em 1915, que os trabalhadores ou operários especializados na indústria pesqueira e conserveira vieram via marítima da província do Algarve e os que não conseguiam chegar ao destino fixavam-se em «Setúbal, em fábrica da mesma Firma…». Obviamente que existe aqui um erro de interpretação, que seria fácil de detectar nos anúncios nas revistas nacionais das fábricas e marcas de conservas de sardinha e atum em 1929 e 1931; e nas fábricas citadas nos diferentes centros pesqueiros de sardinhas, estando esta situada no Centro de Setúbal com a denominação Júdice Fialho & C.a (Sines) na revista de Conservas de Peixe em 1950, in Fernando Engenheiro, op. cit., p. 4 e José Manuel Madureira Lopes, Alberto Manuel de Sousa Pereira – A indústria das conservas de peixe em Setúbal, 1a edição, [S.l.]: Estuário, 2015 ([Santa Maria da Feira]: — Rainho & Neves – Artes Gráficas, p. 306; Industria Portuguesa: Revista da Associação Industrial Portuguesa, 2º Ano, n.º 11, Janeiro de 1929, Lisboa: Associação Industrial Portuguesa, 1928-1991, p. 133 e 4º Ano, n.º 41, Julho de 1931, p. 134, Conservas de Peixe: Revista Mensal, Ano V, n.º 49, 1950, Abril, p. 59.
5cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco), Fab. 4.701.108, 1934 e Olhão, Portimão, Sines, 1936.
6cf. Ana Rita Silva de Serra Faria, op. cit., Anexos, quadro II. 7, p. 15.
7cf. Sandra Patrício, coord. [et all] – Sines, a Terra e o Mar, Sines: Câmara Municipal de Sines, 2017, pp. 227-229; Paulo Guimarães, op. cit., pp. 125 e 146; José Carlos Vilhena Mesquita – «Júdice Fialho, o maior conserveiro industrial do Algarve», in Debater a História, n.º 4, Maio-Junho de 2014, p. 66; Arquivo Municipal de Sines, Câmara Municipal de Sines, Licenciamento de obras particulares, processo de Júdice Fialho, 1927-1980, AHDG, Arquivo Histórico da Direcção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, processo da Fábrica Júdice Fialho, IPCP22.02/197, 1936-1981.
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