A fábrica de conservas de sardinha de S. José, localiza-se no local denominado da Esperança, rua de S. José, freguesia e concelho de Portimão, distrito de Faro, e teve concessão de alvará n.º 4159 de 14-10-1923 (ou 14-7-1924). Construída de raiz, terminou a sua instalação a 5-7-1892, especializando-se em conservas de sardinha.1
Segundo a descrição (de 1909) do padre José Vieira na sua obra “Memória Monográfica de Portimão” publicada em 1911 «Abrange a fábrica de S. José uma área de 18.000 m² na qual se contêm: escritório, morada do mestre, tinas, adega de azeite, casas de descabeçar e enlatar, oficinas de soldadores, máquina de ebulição, geradores de vapor, armazéns para depósitos de madeiras, oficinas de carpinteiros, estiva e casas de enxugar o peixe. Pessoal do escritório: gerente, caixa e mais 4 empregados com a média de 1$000 reis diários. Pessoal da fábrica: mestre e contra mestre, mestra e contra mestra com a média de 1$500 reis diários; 20 soldadores, média 1$200; 200 mulheres a 30 reis por hora, media 300 reis», acrescentando o referido autor que «N’um compartimento de 5m x 24m da fábrica de S. José está instalada a oficina das latas vazias. Tem no centro uma árvore de 24m, de comprimento movida por dois electromotores de 4 cavalos cada, e outra junto à parede do nascente com 20m de comprimento movida por dois electromotores de 4 ½ cavalos. Estas árvores dão movimento a duas máquinas onde trabalham 70 operários e produzem 10:000 latas por dia. Média dos salários, 290 reis diários».2
A fábrica de S. José, continha as seguintes máquinas e equipamentos, segundo o inventário de 1932 «13 mesas de descabeçar; 4 carros de cozer, 3 carros de estufar; 2 cofres de cozer; 1 cofre estufa, 10 mesas de enlatar de pedra, com 130 lugares; 6 cravadeiras Matador; 1 cravadeira Bliss. Na secção de guano, 2 cozedores (dornas) e 4 prensas Mabile para guano, como máquinas diversas eram contabilizadas, 2 burrinhos para alimentação das caldeiras; 1 bomba de vapor para tirar água; 2 depósitos aéreos para água; 2 depósitos rectangulares para lavar grelhas; 3 cravadeiras para frutos; 1 balancé; 3 caldeiras de vapor todas de 7 kgs; 3 motores de vapor e 1 dínamo accionado por um dos motores a vapor».
Na vistoria realizada à fábrica de S. José pela Inspeção Geral de Fiscalização do Consórcio Português de Conservas de Sardinha a 16-2-1933, constavam 3 caldeiras a vapor da marca João Perez, 2 cozedores (1 de 1m,26 de comprimento, 1m,25 de largura e 1m,35 de altura e outro de 1m,26 de comprimento, 1m,25 de largura e 1m,48 de altura) e 1 esterilizador (de 2m,57 x 1m,12 x 0,92), 1 tanque para Banho-Maria (de 2m,57 x 1m,12 x 0,92) e 7 cravadeiras (6 Matador e 1 Bliss). As áreas calculadas nessa vistoria para esta fábrica eram em solo coberto de 3.790m2, alpendre 1.000m2 e terreno livre 1.571m2. Produzia 16.732 caixas com o peso líquido de 401.508 kl em 1929, 24.451 caixas com o peso líquido de 586.824 kl em 1930, 39.157 caixas com o peso líquido de 939.768 kl em 1931, 25.128 caixas com o peso líquido de 603.072 kl em 1932, no total de 105.468 caixas e peso líquido de 2.531.232 kl entre 1929-1934.3
Por despachos ministeriais do Subsecretário de Estado ou do Ministro do Comércio e Indústria era esta fábrica autorizada: a 14-12-1934, a instalar 1 máquina de azeitar; a 9-3-1936, a Júdice Fialho, através do seu administrador D. António de Sousa Coutinho, pedia autorização para montar uma máquina de lavar lata cheia; a 4-5-1936, era autorizada a substituir uma cravadeira Elias, por outra Sudry B.C. 12, conforme publicação no Diário do Governo n.º 118 de 21-5-1936; a 9-11-1938, a instalar 1 motor a vapor de 2 cilindros de 95 mm de diâmetro, 115 de curso e 290 rotações de potência e 7 HP; a 9-12-1938, a instalar um motor eléctrico Siemens de 110 volts, 65 amperes, 5,8 C.V. e 1260 rotações, destinado a accionar uma máquina de lavar latas, sendo publicado no Diário do Governo, IIª Série n.º 3 de 4-1-1939 e no Boletim da Direcção-Geral da Indústria (DGI) n.º 70 de 11-1-1939; a 8-5-1939, a instalar um cozedor simples igual ao aí existente e uma cravadeira Sudry B.C. 15, sendo publicado no Boletim da DGI n.º 120 de 25-5-1939; a 16-10-1939, a instalar uma máquina de embalar latas “Rose Brothers”, sendo publicado no Diário do Governo, IIª Série, n.º 255 de 2-12-1939; a 1-4-1940, a instalar 2 filtros para azeite, com as respectivas bombas, sendo publicado no Diário do Governo, IIª Série n.º 86 de 13-4-1940 e no Boletim da DGI n.º 163 de 17-4-1940; a 31-3-1941, a substituir 1 caldeira de vapor, por outra horizontal com as seguintes características: 5,840 m3, superfície de aquecimento 60 m2, superfície de grelha 2 m2, pressão 7 kl, conforme publicado no Diário do Governo, IIª Série n.º 88 de 17-4-1941 e DGI n.º 188 de 16-4-1941; a 4-6-1941, a instalar 2 autoclaves com as dimensões de 1m40 x 1m27 x 3m,60 e o outro de 1m,40 x 1m,27 x 1m,20; a 19-12-1942, a instalar uma máquina Rose Brothers para embalar as latas de conservas, que estava isenta de autorização do condicionamento industrial segundo a DGI, na conformidade do disposto n.º 3, do artigo 1º do decreto n.º 31403 de 18-7-1941; a 30-12-1947, a substituir 1 cravadeira Matador, por 1 Somme, tipo 736-A; a 27-5-1950, a instalar 2 cofres para cozer peixe com a capacidade máxima de 5.006 m3, sendo publicado no Diário do Governo, IIIª Série, n.º 167 de 20-7-1950; a 28-7-1953, a instalar 1 cravadeira Matador por 1 automática de 2 cabeças, conforme publicação no Diário do Governo n.º 190 de 14-8-1953 e Boletim da DGSI n.º 245 de 9-9-1953; a 12-2-1958, a instalar um cozedor-secador de ar quente com 3m,40 x 1m,85 x 1m,36, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 480 de 12-3-1958; a 3-11-1958, a instalar 2 cravadeiras Matador, modificadas para semiautomáticas e 1 cravadeira automática Vulcano tipo V3, de 2 cabeças e 2 lunetas para lata redonda, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 516 de 19-11-1958; a 21-2-1964, a instalar uma cravadeira automática Vulcano tipo V3, de 2 cabeças e 8 lunetas, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 793 de 11-3-1964.4
Esta fábrica, possuía ainda 1 dínamo gerador de 13,5 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1682 kw.5
Em 1945, deu-se início ao projecto de reconstrução da fábrica de conservas S. José e em 1957, vários projectos de alteração na unidade fabril. A 22-3-1958, a fábrica de S. José, estava completamente modernizada e remodelada, sendo requerida nessa data a sua vistoria pela administração da Júdice Fialho ao Instituto de Conservas de Peixe.6
Segundo Ana Rita Silva de Serra Faria, esta unidade fabril produzia para conservas de peixe 395.497 kl em 1929, 571.614 kl em 1930, 912.008 kl em 1931, 652.814 kl em 1932, 268.199 kl em 1933, 674.620 kl em 1934, 724.320 kl em 1935, 566.269 kl em 1936, 456.716 kl em 1937, 584.178 kl em 1938, 633.430 kl em 1939, 697.571 kl em 1940, 171.215 kl em 1941, 258.059 kl em 1942, 424.071 kl em 1943.7
Esta unidade fabril ainda funcionava em 15-5-1985, pois por despacho da Chefe de Gabinete do Secretário de Estado das Pescas, recebia equiparação a crédito piscatório SIFAP com vista ao financiamento de investimentos nesta e nas outras fábricas Júdice Fialho – Conservas de Peixe SARL.8 Esta fábrica foi adquirida em 1993 por Arnaldo da Conceição Correia, que realizou melhorias no imóvel e equipamento de produção, laborando num curto espaço de tempo até 1997, encerrando então definitivamente.
Segundo a planta da fábrica de S. José em Portimão esta era constituída em 1912: 1 – Escritório, 2 e 2bis – casa de habitação do mestre, 3 – quintal, 4 – celeiro, 5 – depósito, 6 – retrete, 7 – depósito de pregos, chaves e folhas, 8 – casa da ebulição – (a) caldeira de [?], 9 – casa das máquinas de fechar a lata e de soldadores, 10 – casa das tinas para azeite e peixe, 11 – adega do azeite, 12 – casa para depósito de grelhas, 13 – oficina de enlatar o peixe, 14 – armazém depósito de lata cheia e de madeira para caixas, 15 a 15bis – armazém depósito de lata vazia, 16 – casa das caldeiras – (a.a) caldeiras de vapores, 17 – casa de descabeçar, cosedor, poço e bomba, 18 a 18bis – telheiro-enxugador, 19 a 19bis – pátios, 20 – 1º andar do armazém. 22, 21 – depósito de madeiras e oficina do carpinteiro, 22 – armazém e depósito de artigos para barcos e pesca, 23 – estiva, 24 – armazém do sal, 25 – prensa do guano, 26 – chaminé, a) ventoinha, b) retrete.
[1] cf. Para a fábrica de conservas de sardinha de S. José, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes – João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 32-36; Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 140: S. José (Júdice Fialho), Alvará n.º 4159 de 14-10-1923 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, p. 56. A 5ª circunscrição industrial abrangia Évora, Beja e Faro; a data de concessão de alvará n.º 4159 de 14-7-1924, encontra-se na vistoria realizada à fábrica de S. José pela Inspeção Geral de Fiscalização do Consórcio Português de Conservas de Sardinha a 16-2-1933.
[2] cf. José Gonçalves Vieira – Memoria Monographica de Vila Nova de Portimão, Porto: Typographia Universal, 1911, pp. 89-90, MMP, Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 140: S. José (Júdice Fialho), Alvará n.º 4159 de 14-10-1923 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 56. A 5ª circunscrição industrial abrangia Évora, Beja e Faro.
[3] cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Portimão (S. José). Fab. 4.701.109, 1934.
[4] cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Portimão (S. José). Fab. 4.701.109, 1934 e Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934.
[5] cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 92-93 e 96.
[6] cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934 e Portimão (S. José). Fab. 4.701.109, 1934.
[7] cf. Ana Rita Silva de Serra Faria – A organização contabilística numa empresa da indústria de conservas de peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do séc. XX: o caso Júdice Fialho”, Tese de Mestrado, Universidade do Algarve / Universidade Técnica de Lisboa, Faro, 2001, Anexos, quadro II. 6, p. 14.
[8] cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Portimão (S. José). Fab. 4.701.109, 1934).
Texto de Luís de Menezes
(Investigador e Documentalista)