A fábrica de conservas de atum e sardinhas de S. Francisco, situava-se no sítio do Estrumal, Estrada da Rocha, freguesia e concelho de Portimão, distrito de Faro e teve concessão de alvará n.º 4172 de 15-10-1923.1
Inicia a sua actividade em 15-5-1904, estando destinada principalmente à preparação de conservas de atum, mas que «também prepara sardinha em conserva e sardinha estivada em barris nos meses em que já não há pesca d’atum». Também nesta empresa fabril, temos a exposição do padre José Vieira: «A fábrica do Estrumal mede 20.000 m² d’área e contêm casas para soldadores, enlatar, ebulição, máquinas, geradores de vapor, telheiros de resíduos para guano, adega de azeite, armazém de materiais, uma bateria de 20 caldeiras para cozer o atum, quatro hangares para enxugar o peixe, pátio central, três prédios para morada dos empregados. Pessoal: mestre e contra mestre, mestra e contra mestra, 50 homens (soldadores e trabalhadores). Salários iguais aos da fabrica de S. José».2
A fábrica de S. Francisco ou do Estrumal, era assim denominada pois situava-se ao sul da vila, na Quinta Foz do Arade, sendo propriedade de Francisco de Almeida Bivar Weinholtz (1868- ), que a arrendara (a 29-12-1903) e depois a vendera a João António Júdice Fialho (a 3-6-1911).3
A fábrica de S. Francisco, detinha num inventário datado de 1932, os seguintes equipamentos fabris: «18 mesas de descabeçar, de 12 lugares cada; 4 carros de cozer; 3 carros de estufar; 1 cofre estufa para três carros; 2 cofres de 40 grelhas; 6 mesas de enlatar para 150 lugares; 1 cravadeira Sudry n.º 1; 5 cravadeiras Matador; 1 cravadeira “Carnaud”; 1 cravadeira de lata redonda G.H.N. Na secção de guano existiam 1 cozedor (dorna) e 2 prensas “Mabile”. Como máquinas diversas estavam instaladas 3 burrinhos para alimentação de caldeiras; 2 bombas para tirar água do poço; 2 depósitos rectangulares para lavagem de grelhas; 3 caldeiras a vapor; 1 motor de vapor e 1 dínamo».
A fábrica de S. Francisco, possuía 1 dínamo gerador de 20 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1426 kw.4
Por despachos ministeriais do Subsecretário de Estado ou do Ministro do Comércio e Indústria era esta fábrica autorizada: a 15-3-1935, a instalar 1 máquina de azeitar, juntamente com as fábricas de Ferragudo, Olhão e Lagos; a 8-5-1939, a instalar 1 cozedor simples igual ao aí existente e 1 cravadeira Sudry B.C. 15, juntamente com as fábricas de S. José, Ferragudo, Olhão, Peniche e Sines, sendo publicado no Boletim da Direcção-Geral da Indústria (DGI) n.º 120 de 25-5-1939; a 1-4-1940, a instalar 2 filtros para azeite, com as respectivas bombas, sendo publicado no Diário do Governo, IIª Série n.º 86 de 13-4-1940 e no Boletim da DGI n.º 163 de 17-4-1940; a 4-6-1941, a instalar 2 autoclaves de esterilização com as dimensões de 1m,40 x 1m,27 x 3m,50 e outro de 1m,40 x 1m,27 x 1m,20; a 12-12-1942, a instalar uma máquina Rose Brothers para embalar as latas de conservas, que estava isenta de autorização do condicionamento industrial, segundo a DGI, na conformidade do disposto n.º 3, do artigo 1º do decreto n.º 31403 de 18-7-1941; a 12-11-1946, a instalar 2 autoclaves para esterilizar; a 27-6-1950, a instalar 2 cofres para cozer peixe, com a capacidade total de 4,830m3, sendo publicado no Diário do Governo, IIIª Série n.º 167 de 20-7-1950; a 20-6-1955, a instalar 1 cravadeira automática de 2 cabeças, construída nas oficinas do requerente; a 20-6-1956, a instalar 1 cozedor-secador a ar quente com 3m,40 x 1m,85 x 1m,86 nas suas instalações, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 893 de 11-7-1956; a 11-12-1965, a instalar uma cravadeira automática Vulcano tipo V3 CAU 50, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 887 de 29-12-1965.5
Segundo Ana Rita Silva de Serra Faria, esta unidade fabril produzia para conservas de peixe 444.163 kl em 1929, 694.217 kl em 1930, 951.891 kl em 1931, 618.211 kl em 1932, 296.985 kl em 1933, 620.586 kl em 1934, 699.414 kl em 1935, 580.382 kl em 1936, 489.616 kl em 1937, 582.732 kl em 1938, 476.258 kl em 1939, 703.935 kl em 1940, 100.825 kl em 1941, 241.795 kl em 1942, 340.821 kl em 1943.6
A fábrica de S. Francisco, produzia 50.000 caixas em 1931, 11.778 caixas em 1933, e 25.955 caixas em 1934. Esta entidade fabril, podia produzir 35 caixas por hora com as cravadeiras que possuía.7
Pela disposição da planta da fábrica de S. Francisco, esta era constituída em 1912: 1 – servidão da estrada municipal para a fábrica, 2 – hangares: cozedor de sardinhas, 3 – bateria de cozer atum com 20 caldeiras, 4 – pátio central, 5 – adega do azeite, 6 – casa de enlatar o azeitar, 7 – casa para depósito de lata vazia, 8 – casa de ebulição, 9 – casa de secadores do vapor e depósito de carvão, 10 – armazém de lata cheia, 11 – armazéns depósito de madeiras e oficina de tanoeiras, 12 – casa do descabeçar, 13 – casa do sal, 14 – casa do salgar, 15 – hangar para alcatroar redes, 16 – poço para alimentação da fábrica, 17 – torre de ferro com depósito de ferro para distribuição de águas para a fábrica, 18 – casa do gasómetro de acetileno, 19 – casa de habitação do pessoal e residência do mestre da fábrica, 20 – depósito de vários utensílios, 21 – cocheira, 22 – eira de secagem de desperdício de peixe, 23 – prensas para prensar desperdícios de peixe, 24 – caldeiras para coser cabeças e desperdícios de atum, 25 – eira para o desperdício [mar?], 26 – armazém depósito do desperdício [?] do peixe, 27 – servidão para o rio com duas linhas férreas, 28 – comporta com adufa para esgoto de águas para o rio e tanque, 29 – comporta automática para esgoto de águas para o rio e tanque, 30 – chaminé de tijolo de 23 m de altura, 31 – chaminé de tijolo de 10 m de altura, 32 – chaminé de tijolo de 10 m de altura, 33 – logradouro.
Nos terrenos desta fábrica, estava implantado um grande estaleiro, onde a empresa construía ou reparava os barcos da sua frota. Em 1936, temos conhecimento do projecto de doca seca no estaleiro da Júdice Fialho em S. Francisco.
Em 23-5-1983, o Instituto Português de Conservas de Peixe, informava que a fábrica fora desmontada e demolida, sendo cancelada a sua inscrição a 23-6-1983.8
[1] cf. Para esta fábrica de conservas de atum e sardinhas de S. Francisco, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes – João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 36-39.
[2] cf. José Gonçalves Vieira – Memoria Monographica de Vila Nova de Portimão, Porto: Typographia Universal, 1911, p. 90.
[3] cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Júdice Fialho, «Documentos Oficiais»: “Escritura de arrendamento da Quinta da Foz do Arade”, caixa 431, A 37, documento n.º 5859 de 29-12-1903 e MMP, Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.º 4172 de 15-10-1923; Luiz Mascarenhas – Indústrias do Algarve, Lisboa: Centro Typographico Colonial, 1915, p. 15; e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 57-58.[1]3cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Júdice Fialho, «Documentos Oficiais»: “Escritura de arrendamento da Quinta da Foz do Arade”, caixa 431, A 37, documento n.º 5859 de 29-12-1903 e MMP, Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.º 4172 de 15-10-1923; Luiz Mascarenhas – Indústrias do Algarve, Lisboa: Centro Typographico Colonial, 1915, p. 15; e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 57-58.
[4] cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 93-94 e 96 e MMP, Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.º 4172.
[5] cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934.
[6] cf. Ana Rita Silva de Serra Faria – A organização contabilística numa empresa da indústria de conservas de peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do séc. XX: o caso Júdice Fialho”, Tese de Mestrado, Universidade do Algarve / Universidade Técnica de Lisboa, Faro, 2001, Anexos, quadro II. 6, p. 14.
[7] cf. Cada caixa levava 100 latas de conservas de peixe.
[8] cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934.