Todos sabemos que a democracia é a pior forma de governo, excepto todas as outras (Churchil). Ou seja, sem ser perfeito, o regime democrático, face ao que se conhece, é o que melhor serve os direitos gerais dos cidadãos.
Viver num regime democrático pressupõe respeitar alguns princípios básicos essenciais, como a liberdade de expressão, o direito à crítica, à indignação, livre pensamento, etc., desde que se respeitem os visados e salvaguardem os princípios da sã convivência em sociedade.
Há mesmo quem considere que, em democracia, o recurso a estes direitos constitui um bem decisivo para a consolidação, afirmação e progresso dos povos, pelo que o desenvolvimento económico e social não é possível sem o respeito por estes princípios.
“Perante tanto ódio destilado nos alambiques da política, gerada nos diversos corredores do poder, decidi tecer algumas considerações democráticas”
Trata-se de direitos inalienáveis de todos e não apenas de alguns privilegiados, bafejados pela sorte da “lei das circunstâncias”, contemplados com lugares de e com poder, seja qual for a sua origem, sensibilidade ou quadrante político.
Estes princípios são direitos cívicos e, sobretudo, direitos de cidadania e, por conseguinte, imprescindíveis nos regimes ditos democráticos.
Os cidadãos, por sua vez, organizados em estruturas de classe, só podem sentir-se verdadeiramente representados se os seus dirigentes souberem e forem capazes de expressar publicamente o sentimento colectivo, melhor forma de, por um lado, assegurar a defesa dos interesses gerais e, por outro, fazer valer os pontos de vista dos seus membros junto das várias instâncias de poder.
Sem estes equilíbrios, as democracias não passam de regimes ditos democráticos, mas coxos nas suas liberdades e, por conseguinte, autocráticos no pensamento e na acção.
O turismo é um sector considerado pacífico, obediente, pouco reivindicativo e sem capacidade para apresentar propostas credíveis e fundamentadas, sendo entendido como um parente pobre da economia, afastado dos centros de poder ao mais alto nível da governação, em contradição com o estatuto de maior exportador e, por conseguinte, gerador de bens transaccionáveis, os que mais contam para a riqueza do País.
Numa democracia, já agora, os cidadãos não têm apenas direitos, têm o dever de participar no sistema político que, por seu lado, tem a obrigatoriedade de proteger os seus direitos e as suas liberdades, enquanto princípios cívicos fundamentais na construção democrática.
O poder executivo não pode deixar que o poder emotivo condicione a sua acção, através de tentativas mais ou menos habilidosas para impor e controlar terceiros, quando estes se mostram inconvenientes e resistentes às suas estratégias políticas, com o objectivo de eliminar críticas e discordâncias sem olhar a custos nem a meios.
Por tudo isto, o “PODER” deverá mostrar humildade q.b. para aceitar a crítica, as propostas, a indignação, etc., evitando tentar subjugar as vozes mais discordantes através do recurso a métodos menos ortodoxos e, não raras vezes, dignos de verdadeiros “cases studies” democráticos.
Sinto-me à vontade para abordar esta problemática porque, justamente, me confrontei com situações deste tipo durante mais de 30 anos. As chamadas “pressões” directas e indirectas de poderes originários de diferentes sensibilidades não foram suficientes, honra me seja feita, para deixar de exercer os meus deveres, quer como cidadão, quer sobretudo como dirigente de estruturas associativas da sociedade civil.
Assim sendo, esta crónica só tem razão de ser porque, mais violentamente do que nunca, as ditas “pressões” vêm alcançando níveis impensáveis na sociedade portuguesa em geral, não porque as afirmações ou escritos sejam considerados mentiras ou contenham inverdades, mas porque desagradam, incomodam e irritam os “PODERES” instalados.
O incómodo reside no facto das verdades não poderem ser divulgadas, em nome de desculpas esfarrapadas e há muito abandonadas, traduzidas na necessidade de esconder as realidades para, deste modo, não prejudicar o País, a economia e os negócios – Santa Inocência!
É por tudo isto que, perante tanto ódio destilado nos alambiques da política, gerada nos diversos corredores do poder, decidi tecer algumas considerações democráticas, em oposição à estratégia dos “yes men”, ou dos defensores do politicamente correcto. É que um homem não é de ferro, caramba!
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico