Nestas duas últimas décadas as bibliotecas sofreram grandes mudanças, as inovações tecnológicas facilitaram a catalogação digital, as bases de dados electrónicas e o acesso aos recursos online. As bibliotecas passaram primeiro a ter funções multimédia, disponibilizando não só livros, mas também materiais audiovisuais, recursos digitais e acesso à Internet.
Na fase seguinte as bibliotecas passaram a empenhar-se na sua função social procurando dar resposta ao isolamento social, oferecer actividades para diferentes gerações, dar apoio à ocupação do tempo dos utilizadores, dar formação na área das novas tecnologias, ou simplesmente dar assistência na utilização da Internet. Isso trouxe novos utilizadores que não frequentavam habitualmente as bibliotecas.
De alguma forma passaram a assumir uma função comunitária com o aparecimento de mais idosos e de mais crianças, inclusive imigrantes e população mais pobre. Nesse sentido passou, em muitos casos, a haver oferta de ensino de línguas para imigrantes e dinâmicas intergeracionais em que os idosos, com todos os seus saberes, têm um importante papel.
Estas pessoas são acervos vivos e detentores de saberes que muitas vezes não chegam às páginas de um livro, mas podem ajudar na produção de conhecimento.
Entretanto, as bibliotecas passaram, em geral, a ser locais de criação. Cada vez mais bibliotecas estão a tornar-se verdadeiros centros para a mudança social e económica da população. Esta tendência de adaptação às necessidades locais, tornando as bibliotecas em espaços de criação, passou a ser designada por Makerspaces, ou seja, um espaço equipado com tecnologia e ferramentas para a criação de ideias ou projectos individuais ou em equipa.
Alguns dos exemplos de equipamentos que se encontram em bibliotecas com “makerspaces” são estúdios de gravação de som, software de edição de vídeo, cabines de podcasting, laboratórios com impressoras 3D, cortadores de laser, de vinil. Algumas bibliotecas têm máquinas de costura e ferramentas de corte, oferecendo tutoriais e workshops.
Algumas bibliotecas estão a tornar-se centros criativos que produzem conteúdo, que produzem conhecimento e inovação e desta forma integram as transformações sociais e tecnológicas da sociedade.
Há algumas bibliotecas consideradas futuristas, que deixaram de ter longas filas de estantes com livros e apresentam outros meios alternativos para o livro, dando enfoque ao espaço para a convivência e um espaço para aprender novas habilidades.
Um dos exemplos é a Biblioteca Pública de Thionville, uma cidade do Nordeste de França – próxima da fronteira com o Luxemburgo – que mostra como as bibliotecas evoluíram para satisfazer as necessidades das comunidades. O espaço promove a convivência em comunidade. O principal objectivo desta biblioteca, a que alguns chamam mediateca, é ser uma espécie de sala de estar colectiva da cidade.
Outra biblioteca futurista fica na Noruega e já recebeu alguns prémios pela sua arquitectura e tem a particularidade de ser possível estar a ler deitado. As longas e finas vigas de madeira no interior foram projectadas para parecerem o interior de uma baleia.
As bibliotecas sempre contribuíram para a difusão do conhecimento, mas com os desafios da sociedade e das tecnologias, as bibliotecas tentam manter o seu papel, apesar de todas estas mudanças que as transformaram em espaços multifuncionais. Ainda assim há sempre espaço para o digital coexistir com o livro. Segundo Clara Andrade “é preciso que a biblioteca saiba seduzir, insistir e não desistir, porque só quem usa, lê e ama os livros os pode preservar e transportar para o futuro. Porque queremos um futuro com livros.”
Creio que o livro tem futuro e nunca irá desaparecer, apesar da tendência para o formato digital e das novas funções das bibliotecas. Foi uma sensação estranha ter encontrado registo de uma biblioteca onde já não há livros em papel, mas apenas em formato digital. Essa biblioteca fica nos EUA na Florida Polythecnic University.
Ainda me lembro quando nas bibliotecas era preciso consultar o fichário catolográfico para consultar os livros. As bibliotecas mudaram muito em poucos anos e os bibliotecários passaram a ser um misto de especialistas em informática, professores, assistentes sociais e gestores de eventos, mas acima de tudo defensores dos livros.
No próximo dia 12 de Março é Dia dos Bibliotecários e eles, para além da gestão de tantas tarefas, continuam a ser os guardiões do saber, por isso merecem todo o apoio e motivação por parte da comunidade e da sociedade.
Aliás, Carl Sagan, no seu livro Cosmos, disse que “a saúde da nossa civilização pode ser medida pelo apoio que dermos às nossas bibliotecas.”
*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia
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