A animação turística, em termos gerais, é essencial no alargamento dos factores de atracção da nossa oferta, sendo, por isso mesmo, determinante na realização económica do turismo, particularmente no que se refere ao seu contributo para esbater os efeitos negativos da maior fragilidade do sector – a sazonalidade.
Numa primeira análise, e apesar de alguns esforços bem-sucedidos nos últimos anos, concorda-se que ainda não foi possível implementar uma estratégia coerente, consistente e correcta de animação turística no Algarve, sustentada em apoios e parcerias entre os sectores público e privado, dentro de uma lógica regional e de produto.
O Algarve tem de ser capaz de organizar meia dúzia de grandes eventos âncora
O cariz estratégico da animação, nas várias vertentes, é uma das áreas onde a concertação de sinergias é indispensável para enfrentar e vencer os objectivos inerentes à afirmação, consolidação e engrandecimento do turismo regional.
Diria que, nesta matéria, a estratégia seguida é de navegação à vista, sem quaisquer definições de médio/longo prazos e sem a aplicação das medidas necessárias e mais adequadas às exigências de um turismo moderno e competitivo.
Por estes motivos, a animação deve ser entendida como um complemento do alojamento na construção do produto turístico. No Algarve, o diagnóstico é conhecido: uma das maiores fraquezas do nosso turismo é a falta de animação. Animação envolve uma vasta realidade. Desde actividades organizadas até infra-estruturas e equipamentos diversos. Desde eventos para atrair mais pessoas a outros para distrair as que já cá estão.
De facto, o que mais sobressai, desde logo, é a animação ter de passar a ser entendida na perspectiva de esta gerar e atrair fluxos turísticos importantes, inserida numa dinâmica de diversificação de produtos e de mercados, condições decisivas para esbater a sazonalidade do turismo do Algarve.
O que está em causa é a necessidade de reequacionar, através de maior estudo, análise e discussão, as diferentes acções de animação, bem como definir e implementar uma estratégia de promoção orientada especificamente para esta área.
Uma política promocional que explicite claramente os objectivos a atingir, acompanhada de um programa financeiro próprio para suportar a realização e dinamização dos eventos existentes e a criar, apoiada por planos de comunicação previamente definidos e ajustados às expectativas dos potenciais consumidores.
Neste contexto é preciso saber concretizar a formulação teórica com a capacidade de conceptualizar a realidade multifacetada da actividade turística, caso contrário, a intervenção sobre estas matérias não passará de meros academismos sem qualquer aplicação prática e, por conseguinte, sem perspectivas de futuro.
O turismo é um sistema social complexo, cuja abordagem exige mais ciência e rigor, com uma envolvente de variedades culturais e sociais que importa ultrapassar numa perspectiva económica atraente, de forma a reforçar a nossa base produtiva e permitir um desenvolvimento sustentado do turismo.
A maior actividade económica do Algarve só poderá manter-se e progredir se for capaz de conservar as bases e os valores sem os quais não sobreviveria. O turismo trabalha com estes valores e não contra eles. A integração na nossa oferta do património histórico e cultural é, neste contexto, um factor determinante na definição e implementação de uma estratégia de diferenciação competitiva, relativamente à concorrência.
O grande desafio do turismo do Algarve em matéria de animação é, precisamente, sermos capazes de ultrapassar o passado para assim construir um futuro novo, recuperando os enormes atrasos estruturais acumulados.
O Algarve tem de ser capaz de organizar meia dúzia de grandes eventos âncora que, pela sua natureza e dimensão, se afirmem nos calendários europeus e mundiais das grandes realizações. Para além de gerar fluxos turísticos importantes em períodos de menor procura, estes eventos funcionam como meios privilegiados de promoção e divulgação turística, atendendo à sua enorme cobertura mediática – Fórmula 1, Moto GP, etc., o que exige a sua institucionalização e garantias de continuidade nos anos vindouros.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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