A ideia não é nova. Desde a anexação do então Reino dos Algarves, perdão reconquista cristã, no reinado de D. Afonso III, algarvio que se preze não consegue esconder nem disfarçar o mal-estar perante o tratamento de desfavor dado à região pelos antigos Reis de Portugal e dos Algarves e, mais recentemente, pelos sucessivos poderes centrais.
E, no entanto, o Algarve sempre esteve na linha da frente dos principais e mais importantes acontecimentos históricos nacionais. Foi assim com os descobrimentos, foi assim com as invasões napoleónicas e guerras liberais, foi assim com as pescas e indústria conserveira, foi e continua a ser assim com o turismo, para citar apenas alguns exemplos.
Algarvio que se preze não consegue esconder nem disfarçar o mal-estar perante o tratamento de desfavor dado à região
Não admira, portanto, que o Algarve seja conhecido como a região onde tudo chega em último lugar. Aconteceu com o comboio, aconteceu com a auto-estrada, aconteceu com o Aeroporto e Hospitais, assim como com muitas outras infraestruturas e equipamentos há muito existentes no resto do País.
Contudo, desde a antiguidade que o Algarve foi ponto de encontro de civilizações. Fenícios, Gregos, Cartagineses, Celtas, Romanos e Árabes, entre outros, eram visitas frequentes da região em busca de víveres e outros géneros alimentícios, através do recurso à extorsão, ao roubo e à pirataria com algumas transacções à mistura, tendo-se instalado e permanecido nestas paragens durante séculos, com saliência especial para romanos e árabes.
Nos tempos mais recentes, séculos XVII e XVIII, nomeadamente, as costas do Algarve eram vigiadas e patrulhadas regularmente por piratas ingleses, holandeses, franceses e outros que tais, com o objectivo de saquear as riquezas vindas das Américas, África e Índias.
Isolado do resto do País por razões culturais e naturais (as serras a norte), incluindo bandos de salteadores que se acoitavam na serra, (Remexidos, Zés Pedros e outros), com incursões ao barrocal, conhecido então como o verdadeiro Algarve, visando, por um lado, espoliar os viajantes mais atrevidos e, por outro, aliviar os lavradores de abastecimentos, dinheiro, cobre, prata, ouro ou qualquer coisa que servisse para viver a vida.
Neste clima, não admira, pois, que as ligações a Lisboa e ao resto do País fossem asseguradas por vapor a partir de Portimão, ou através do Guadiana até Mértola, uma espécie de “hub” das diligências da altura.
O microclima, próprio do Algarve, associado a um minifúndio, gerou uma economia de subsistência das populações residentes até ao início dos anos 60 do século passado.
Por tudo isto, e não só, está bom de ver que o Algarve sempre teve razões de sobra para reivindicar um grupo de pressão, Lobby como agora se diz, visando salvaguardar a defesa dos interesses de uma região abandonada e esquecida ao longo de séculos, mas que nunca se esqueceu de ser portuguesa.
E porque o Algarve é uma região solidária com o resto do País, e quer continuar a sê-lo, não pode aceitar eternamente o desconforto resultante da falta de entendimento por parte dos nossos responsáveis da dinâmica económica e turística da região.
A população residente (cerca de 450 mil pessoas) não pode continuar a servir de base de cálculo para a afectação de verbas para uma região que é a maior Sala de Visitas do País, onde vêm milhões de visitantes estrangeiros e nacionais todos os anos.
E se tudo isto é verdade, ou seja, a região não se afirma porque tem pouca força política, então e, segundo Karl Marx, o poder económico deveria prevalecer, sobrepondo-se ao poder político, mas também isso não se tem verificado.
Há até quem defenda, ironicamente ou não, a contratação de uma figura com provas dadas nesta matéria, tipo treinador de futebol, para defender e consolidar o Algarve no contexto nacional, uma vez que para cá do Caldeirão nunca mandaram os que cá estão.
A verdade é que, de forma mais ou menos cíclica, se levantam vozes na região, oriundas dos mais diversos sectores da vida e da sociedade, clamando pela criação de um verdadeiro lobby para bater o pé ao Terreiro do Paço. Estes chamamentos coincidem, normalmente, com as crises económicas intervaladas que de tempos a tempos atingem o Algarve e a sua actividade principal – o Turismo.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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