Os CTT tiveram sempre uma missão difícil e bastante criticada, mas nos últimos anos os atrasos na entrega de correspondência agravaram-se: a visita do carteiro, que era diária, foi reduzindo a frequência.
Segundo dados da Anacom – Autoridade Nacional das Comunicações, o Algarve é a zona onde surgem mais queixas, com 700 reclamações registadas no segundo trimestre deste ano. Setúbal e Lisboa seguem-se como os distritos com mais queixas por habitante.
Este verão, a entrega de correspondência deixou muito a desejar: durante três semanas em julho, idosos residentes na região serrana do concelho de Tavira ficaram a aguardar, em vão, os seus vales de reforma e cartas para pagar água e luz que teimavam em chegar fora do prazo, segundo revelou uma junta de freguesia tavirense ao Expresso. Face à situação, os serviços de abastecimento de água até dão moratórias aos moradores, que não conseguem pagar a água até receberem a fatura por correio. Localmente, já são várias as autarquias que nos últimos anos protocolaram com os CTT espaços abertos ao público suportados pelo próprio Poder Local, é o caso do Posto CTT disponibilizado pela União de Freguesias de Tavira, com vários serviços.
Ao Expresso, a Anacom explicou que “caso se verifique o incumprimento de objetivos de desempenho, há lugar à aplicação do mecanismo de compensação que são convertidos em obrigações de investimento, os quais devem beneficiar diretamente a prestação dos serviços abrangidos pela concessão e/ou os utilizadores finais, além de multas contratuais que podem ser aplicáveis pela má prestação do serviço postal universal, previsto no contrato de concessão”.
Mas o que é certo é que vários concelhos no sul do país relatam atrasos nas entregas de correio normal, que chegam a quase um mês.
Segundo disse ao jornal o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, “as queixas são antigas e regulares no tempo” e sublinha que “com alguma frequência ouvimos queixas sérias de pessoas que ficam privadas de entrega atempada de correspondência para as suas vidas”.
No entanto, em algumas localidade de Loulé, já se estão a registar atrasos igualmente superiores a três semanas. “Um período tão longo de pessoas privadas de correio… é a primeira vez que me é reportado”, assumiu o autarca.
Multiplicam-se as queixas e denúncias
Em finais do mês agosto, a Direcção da Organização Regional do Algarve do PCP denunciou o que considerou ser “a profunda degradação do serviço postal em toda a região do Algarve (…) com a completa cumplicidade do governo PS que, em vez de ter recuperado para o Estado o controlo e a propriedade dos CTT, ainda recentemente prolongou o contracto de concessão do serviço postal até 2028”.
Na região do Algarve, “multiplicam-se as queixas e as denúncias quanto aos atrasos na entrega do correio, situação essa que se agrava durante o verão. Com reformados a receberam a sua reforma dez dias depois do previsto, com faturas da luz a chegarem aos clientes já depois dos prazos de pagamentos, com a imprensa regional a queixar-se de que os jornais chegam a casa dos leitores duas a três semanas depois, com as populações e as empresas prejudicadas com o correio normal e mesmo o azul a chegar cada vez mais tarde. Os problemas mais agudos sentem-se junto das populações mais isoladas da serra e interior algarvio, mas também nos grandes centros urbanos, assistiu-se à redução do número de giros por parte dos carteiros que, tal como outros trabalhadores, não têm mãos a medir para tanto trabalho”.
Os CTT dizem que a pandemia de covid-19 agravou o problema, levando a maiores dificuldades na contratação de trabalhadores substitutos na região algarvia.