A recente controvérsia em torno da viabilidade da dessalinizadora prevista para o Algarve levanta questões cruciais sobre o planeamento e a afetação de recursos públicos. A admissão de que as verbas alocadas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) são insuficientes para cobrir os custos crescentes do projeto não só expõe falhas no planeamento inicial, como também põe em xeque a viabilidade económica do empreendimento.
A Plataforma Água Sustentável (PAS) questiona a lógica de continuar com um investimento cujo custo-benefício parece cada vez mais desfavorável. A preocupação com o possível impacto nas tarifas de água, que poderão onerar os consumidores, é legítima e deve ser abordada com transparência. Afinal, como justificamos um aumento tão significativo no custo da água, especialmente numa região que já enfrenta desafios financeiros?
Adicionalmente, a reflexão sobre alternativas mais sustentáveis, como a redução de perdas na rede de distribuição e a reutilização de águas residuais, sugere que há outros caminhos menos onerosos e ambientalmente mais sensatos a explorar. O exemplo de Espanha, com um vasto sistema de dessalinizadoras que não resolveu os seus problemas de escassez hídrica, deve servir de alerta para não repetirmos os mesmos erros.
O Governo, agora pressionado a encontrar uma solução financeira, precisa reavaliar não só os custos, mas também a real necessidade e impacto do projeto da dessalinizadora no Algarve. É crucial que se evite a repetição de “sagas portuguesas” onde projetos ambiciosos acabam por sobrecarregar os cidadãos sem oferecer os benefícios prometidos.
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