Não sei se ainda haverá máquinas que matem fascistas, como a guitarra de Woody Guthrie em tempos fez. Alguns instrumentos musicais, canetas e vozes parecem resistir, mesmo num mundo em que uma saudação nazi gera debate sobre se é o que é.
Como diria Gertrude Stein: uma rosa é uma rosa é uma rosa.
Musk permite-se, em paralelo aos 80 anos de Auschwitz e Treblinka, fazer o mesmo gesto que nos conduziu até lá, saindo impune porque é o homem mais rico do mundo e porque o jornalismo perdeu a capacidade de apreciar factos e precisa de chamar especialistas em saudações nacional-socialistas para que digam coisas dignas de rábulas dos Monty Phtyon, como uma saudação nazi ser apenas uma saudação nazi quando se olha em frente e não para a mão ou que tem de ser acompanhada do grito Sieg Heil.
Já nem o credo de São Pedro nos satisfaz, é preciso mesmo o do Führer.
Talvez não seja surpreendente em 2025 ver desfilar os neonazis do grupo 1143 pelas ruas de Albufeira.
Mas acontecerá dia 8 de Fevereiro às 18h. Com permissão, quando não, conivência da autarquia, apesar da ilegalidade que é a existência de grupos de ideologia fascista e como tal o seu direito à manifestação, conforme inscrito na constituição, Lei n.º 64/78, de 6 de outubro. É justo dizer que é ao Tribunal Constitucional que compete o declarar uma organização fascista, e não às autarquias. Tribunal que, como tem acontecido, escolhe negar as evidências e permitir a propagação da mesma ideologia autoritária que nos trouxe uma noite de 48 anos, ao invés de ajudar a cimentar mecanismos de auto-regulação que sustentem os mais frágeis. Mas se não o fez com o capitalismo, não é de admirar que não o faça com o fascismo, na verdade outra face da mesma moeda.
O pressuposto para a manifestação do grupo 1143 é a mesma conjectura absurda e falsa de que o aumento da criminalidade está ligado ao da imigração. Não está. Não há provas nesse sentido.
Mas pouco importa de onde nasce a ideia porque ela ganha asas e o próprio governo implementa a agenda da extrema-direita. Com o auxílio dos que deveriam ser oposição.
Dia 8 de Fevereiro será também o dia de sair à rua para celebrar a diversidade. Não o ódio nem o nacionalismo provinciano. Para mostrar a todas as comunidades que são bem-vindas e que o Algarve sempre foi uma zona de diversidade.
É dia de mostrar que nem todo o Algarve pertence à extrema direita e que se passarão, não terão via aberta.
As ruas serão nossas e se procurarmos bem, a praia ainda se encontra sob a calçada.
Às 16:00 na Praça dos Pescadores marcharemos até ao Pau da Bandeira pela verdade na diversidade.
Numa manifestação organizada pela FADA: Frente Anti Discriminação do Algarve.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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