A União Europeia prepara uma resposta estratégica às novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump. A medida europeia visa atingir diretamente os estados norte-americanos mais fiéis ao ex-presidente, numa tentativa clara de provocar efeitos tanto económicos como políticos, e pode bem ter repercussões nos supermercados portugueses.
Em vez de uma simples retaliação comercial, Bruxelas opta por um plano com elevada carga simbólica. A lista de produtos norte-americanos que poderão ser alvo de tarifas foi construída com base na sua relevância para as economias locais dos chamados “estados vermelhos”, tradicionais bastiões republicanos.
Produtos emblemáticos sob ameaça de novas tarifas
Entre os bens visados encontram-se artigos como carne, soja, tabaco, alumínio, aço, chocolate branco e até sumo de laranja. As tarifas poderão atingir os 25%, afectando exportações dos EUA avaliadas em mais de 22 mil milhões de euros, segundo números baseados nas importações europeias de 2024.
Efeitos na cadeia alimentar europeia são inevitáveis
O impacto destas medidas será sentido em vários pontos da cadeia alimentar e supermercados, especialmente devido ao papel central da soja. Utilizada na alimentação de animais, a soja influencia directamente o preço de produtos como carne, leite e derivados. Este efeito poderá fazer-se sentir também em Portugal.
Portugal depende fortemente da soja norte-americana
De acordo com dados do GPP, Portugal importou, em 2023, cerca de 137 milhões de euros em soja triturada proveniente dos EUA, o que representa 61% do total nacional. Um aumento de 25% no custo deste ingrediente pode traduzir-se numa subida dos preços dos bens alimentares nos supermercados e mercado interno.
Três fases definidas para a aplicação das tarifas
De acordo com a Executive Digest, a ofensiva comercial da UE será implementada em três momentos distintos. A primeira fase tem início já a 15 de abril, com o regresso de tarifas sobre sumo de laranja e arandos. A segunda, marcada para 16 de maio, incluirá produtos como aço, chocolate branco e carne. A última vaga, prevista para 1 de dezembro, abrangerá amêndoas e soja.
Medidas dirigem-se a bastiões eleitorais de Trump
Esta escalada comercial tem um alvo bem definido: cerca de 13,5 mil milhões de dólares em exportações norte-americanas oriundas de estados com forte apoio a Trump. A escolha dos produtos parece ter sido feita com um toque de ironia, apontando a elementos emblemáticos das economias locais.
Produtos insólitos escolhidos com objectivo político
Alguns exemplos incluem gravatas produzidas na Florida, lingerie do Ohio e Kentucky, gelado do Arizona, cobertores eléctricos do Alabama e até massas da Carolina do Sul. Estas escolhas evidenciam o desejo europeu de causar desconforto político nas regiões mais alinhadas com a administração anterior.
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Estados-membros devem aprovar proposta sem resistência
A proposta será votada esta semana pelos Estados-membros e, segundo fontes comunitárias, deverá ser aprovada sem grandes resistências. A maioria dos países europeus parece disposta a alinhar numa resposta firme ao proteccionismo norte-americano.
Sector agrícola dos EUA manifesta preocupação
Do outro lado do Atlântico, a indústria agrícola norte-americana já reagiu com preocupação. O sector da soja, em particular, teme os efeitos de uma possível queda nas exportações e pediu contenção ao governo Trump.
Apelos à diplomacia ignorados pela Casa Branca
Representantes do sector afirmaram que “as tarifas não são algo a ser tomado de ânimo leve”, apelando a uma abordagem mais diplomática na resolução do conflito. Contudo, o ex-presidente tem mostrado pouca abertura ao diálogo.
Trump recusa propostas europeias e exige mais compras
Trump rejeitou a proposta da UE para eliminar mutuamente tarifas sobre produtos industriais e exigiu que a Europa comprasse energia norte-americana no valor de 350 mil milhões de dólares. Afirmou mesmo que conseguiria equilibrar a balança comercial “em uma semana”.
Bruxelas poderá avançar com medidas mais duras
Apesar do impacto esperado da lista inicial de produtos a possibilidade de afetar os preços dos supermercados, Bruxelas ainda guarda uma arma negocial mais poderosa. Se necessário, poderá avançar com tarifas sobre serviços norte-americanos, incluindo sectores sensíveis como tecnologia e comunicações.
Nova fase no conflito comercial poderá estar à vista
Este passo, no entanto, representaria uma escalada significativa no conflito, podendo dar início a uma nova fase na já tensa relação comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos.
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