A falta de chuva está a impedir o crescimento das pastagens e a ameaçar a sobrevivência de produtores de cabras de raça algarvia, que dizem não poder suportar muito mais o aumento dos custos com a alimentação dos animais.
Portugal e o Algarve estão a atravessar um período de seca e, apesar de as reservas de água existente na região assegurarem o consumo de água durante ano e meio, a falta de chuva já está a influir nas sementeiras destinadas a forragens dos animais e a deixar os campos sem pasto, obrigando os produtores de gado a gastar mais com rações e palha para suprir essa carência.
“As sementeiras da primeira ainda evoluíram e, como tem feito calor, espigaram, mas cresceram de forma rala e são sementes falidas. O grosso das sementeiras que fiz em outubro ainda apanharam alguma humidade na terra, com as chuvas que caíram nessa altura, germinaram, mas daí para cá não choveu dia nenhum que permitisse reter humidade na terra e os campos estão com a terra à mostra e sem cobertura nenhuma”, lamentou Nuno Coelho.
Este produtor de cabra de raça algarvia localizado em Alcoutim, que conta com um rebanho de 80 animais, disse que esta situação “já está a onerar” os produtores, porque as rações e forragens que tinha como “reservas para o verão” e para “complementar a alimentação” dos animais “já estão a ser utilizadas”, quando nesta fase o rebanho deveria estar a alimentar-se quase exclusivamente no campo.
“Por isso, se não chover neste mês de fevereiro, será muito complicado este ano agrícola em termos de pastagens”, alertou, considerando que vai agora ter “de comprar mais” forragens e rações, “sabe-se lá a que preço”, porque aos fatores de produção, como o gasóleo ou a eletricidade, estão mais caros e o aumento da procura por parte dos produtores também fazem os preços subir.
Questionado sobre se a atividade pode estar em risco, Nuno Coelho respondeu que “há 20 anos a criação destes animais compensava, mas agora não”, porque a estas dificuldades já se soma a inexistência de matadouro no Algarve e os custos com transporte para fazer o abate, que impede os produtores algarvios de serem tão competitivos como os produtores de outras regiões.
Hugo Inácio, produtor que conta com um rebanho de cerca 200 animais, 25% das quais cabras de raça algarvia, e também sinalizou à Lusa que as “palha e rações armazenadas, que só deviam ser utilizados mais para o verão, já estão a ser gastas”.
“Se não chover nos próximos meses, a situação vai-se agravar e deixar os produtores numa situação bastante difícil, sobretudo no verão”, quando não for possível ceifar e contar com o resultado das sementeiras, afirmou.
Também produtor naquela zona do nordeste algarvio, Nuno Luís está já a lidar com as dificuldades que a falta de pastagens para o seu rebanho, que conta com 300 animais, e lamentou que, com os preços atuais das rações, esteja a gastar até cerca de dois euros a mais em cada saca de 25 quilogramas.
“As rações estão muito mais caras e nesta altura já estou a gastar mais 1.500 euros por mês do que gastava”, quantificou, considerando que esta é uma situação que, a manter-se, torna a atividade “insustentável”.
O mesmo se verifica com os fardos de palha, que “em agosto custavam 25 euros e agora estão a ser pedidos 75 euros” por cada um, exemplificou ainda Nuno Luís, advertindo que assim é “muito complicado” prosseguir o trabalho.