Comprar um automóvel é uma das decisões financeiras mais significativas para qualquer condutor. Um estudo recente da carVertical, empresa especializada em dados automóveis, revelou que os portugueses são os que mais tempo precisam de trabalhar na Europa para adquirir um carro usado. Segundo os dados apurados, os condutores em Portugal têm de despender em média 22,4 meses de salário para comprar um veículo em segunda mão. Este número coloca Portugal no topo da lista dos países europeus onde é mais difícil adquirir um automóvel usado, em termos de acessibilidade económica.
Entre os 23 países analisados, Portugal destaca-se pela negativa, seguido de longe pela Roménia, onde são necessários 15,4 meses de trabalho, e pela Sérvia, com 14,7 meses. No extremo oposto, encontramos a Finlândia, onde um trabalhador médio precisa apenas de 2,7 meses de salário para comprar um carro usado, seguida da Alemanha e da Suíça, com cerca de 6 meses cada.
Para dar uma ideia comparativa, os nossos vizinhos espanhóis necessitam de trabalhar 10,4 meses, menos de metade do tempo exigido em Portugal, para alcançar o mesmo objetivo.
Os especialistas financeiros recomendam que não se gaste mais de seis meses de salário num automóvel. Contudo, a realidade em Portugal é bem diferente. Muitos condutores acabam por investir mais de um ano e meio de salário num veículo, ignorando as recomendações e optando por modelos mais caros, como é o caso do Audi A4 e do BMW Série 3. O preço médio de um Audi A4 ronda os 26.500 euros, o que equivale a 24,6 meses de salário. Para um BMW Série 3, o valor sobe para cerca de 29.500 euros, ou seja, aproximadamente 27,3 meses de rendimento.
Em Portugal, o salário líquido médio é de 1.079 euros, enquanto o preço médio de um automóvel usado, segundo dados do Standvirtual, é de 24.214 euros. Esta discrepância entre rendimentos e preços coloca uma pressão significativa sobre os consumidores portugueses, que enfrentam uma das realidades mais difíceis no contexto europeu.
Na Suíça, por exemplo, o preço médio de um automóvel usado é o mais elevado da Europa, atingindo quase 39.000 euros. Contudo, o impacto é mitigado pelo salário médio suíço, que é de 6.377 euros, permitindo uma aquisição relativamente mais acessível. Na Áustria, onde o preço médio de um carro usado é semelhante ao de Portugal (28.500 euros), os salários são consideravelmente mais altos, cerca de 2.600 euros, o que torna a compra de um automóvel significativamente menos pesada.
Nos últimos anos, o mercado de automóveis usados em Portugal tem registado uma tendência de aumento de preços, impulsionada por uma escassez de stock. Segundo Ricardo Cardoso, marketing manager do Standvirtual, “temos assistido a um aumento progressivo dos preços dos carros usados desde a situação dramática de falta de stock no mercado”. Contudo, 2024 trouxe sinais de estabilização, com uma ligeira desaceleração no crescimento dos preços.
Matas Buzelis, especialista automóvel da carVertical, refere que o mercado de usados na Europa começa finalmente a mostrar sinais de recuperação, após um período de estagnação. “Verificam-se sinais de estabilização do mercado de veículos usados em todo o continente”, destaca Buzelis, apontando para uma ligeira descida dos preços e para uma maior disponibilidade de veículos usados de qualidade.
O estudo da carVertical sublinha a difícil realidade enfrentada pelos consumidores portugueses no mercado automóvel. A acessibilidade a um veículo em segunda mão exige um esforço financeiro significativo, refletindo as diferenças económicas e salariais que persistem entre Portugal e outros países europeus. Enquanto o mercado de usados começa a estabilizar, os portugueses continuam a enfrentar desafios únicos, com um dos maiores custos de aquisição de automóveis em relação ao salário na Europa.
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