“Seis meses depois do incêndio na Serra de Monchique em 2018, onde arderam praticamente 27 mil hectares, já estávamos a trabalhar no terreno”, afirmou Miguel Jerónimo, coordenador do projeto Renature Monchique.
Com o objetivo de recuperar parte dos ‘habitats’ daquela serra, que integra a Rede Natura 2000, e ajudar a comunidade local a “recuperar da catástrofe”, o projeto arrancou em 2019, com o financiamento da companhia aérea Ryanair, fruto dos donativos de passageiros que apoiam projetos ambientais para mitigar o impacto das suas viagens.
Anualmente, a equipa do GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente lança uma campanha local para angariar “potenciais interessados”, à qual se segue uma visita ao terreno onde é explicado o projeto.
É nesse momento que “as desconfianças dos proprietários caem por terra” e a equipa do GEOTA, composta por 15 técnicos, começa a trabalhar na reflorestação e restauro ecológico da área, que decorrem, normalmente, entre setembro e abril.
“Só trabalhando com a comunidade local é possível transformarmos a paisagem”, evidenciou o coordenador, acrescentando que os técnicos do GEOTA fazem a preparação do terreno, a plantação e depois continuam a assegurar o apoio à gestão.
Ao longo destes três anos, o projeto já permitiu recuperar cerca de 800 hectares de área ardida na Serra de Monchique e plantar 200 mil árvores autóctones, tais como sobreiros, castanheiros, azinheiras, candeeiros e carvalhos de Monchique (espécie criticamente ameaçada). Ao mesmo tempo, ajudou 60 proprietários a recuperarem as suas vidas.
“O objetivo é que o impacto do projeto vá além do impacto ecológico, tendo um impacto económico para os proprietários, e social na criação de um mosaico mais resiliente que possa mitigar as catástrofes destes incêndios que impactam Portugal”, observou Miguel Jerónimo.
Defendendo que o “abandono da paisagem não é uma fatalidade” e que as áreas florestais ardidas em Portugal são possíveis de reabilitar, a equipa do GEOTA pretende nos próximos anos alcançar os 2.000 hectares de área recuperada na Serra de Monchique.
“Sabemos que o projeto é uma gota no oceano daquilo que todos os anos é o impacto dos incêndios em Portugal”, referiu o coordenador, acrescentando que a grande dificuldade de implantar projetos desta natureza é o “financiamento”.
“O grande elefante na sala é o financiamento”, disse, lembrando que o contexto português é “excecional” face ao europeu, uma vez que “98% da propriedade florestal em Portugal é privada e só 2% é propriedade pública”.
Anualmente, o projeto recebeu um apoio de 250 mil euros da companhia aérea britânica, totalizando nos três anos 750 mil euros.
O Renature Monchique e o trabalho de reflorestação e restauro da paisagem desenvolvido desde 2019 pelo GEOTA está em exposição até ao dia 26 de março no Museu da Água, em Lisboa.
Além da exposição, que é visitável de segunda-feira a sábado, vão ser promovidos debates sobre as temáticas da reflorestação a partir de março, bem como ações de educação ambiental com alunos do 1.º ciclo das escolas envolventes ao museu.
À Lusa, Miguel Jerónimo revelou que a equipa do GEOTA está, desde janeiro, a trabalhar no âmbito deste projeto “numa segunda área”, designadamente no Pinhal de Leiria.
Os trabalhados de recuperação da paisagem florestal são financiados por uma associação norte-americana.