É a primeira vez que viajam para fora do Reino Unido desde a pandemia de covid-19. Richard e Silvia Freeman vingam-se agora a passar uma semana inteira no Algarve com a filha, Layla, aproveitando o período de férias em todas as escolas britânicas, de 21 a 25 de fevereiro.
“É tão bom poder estar aqui, andar pela praia ou ficar à beira da piscina. O tempo está fantástico, estamos a descansar, não precisamos de ir a mais lado nenhum”, declara o consultor informático que vive na região de Midlands, onde diz estar “um tempo horrível, com tempestades”.
Para a família britânica, esta primeira saída de férias tem o sabor a ‘libertação’. “Não fomos a lado nenhum no ano passado, estivemos 18 meses em confinamento, nem podíamos sair de casa”, faz notar Richard Freeman, lembrando alturas em que “só uma pessoa podia ir às compras”. “A polícia podia-nos apanhar e as multas eram pesadas.”
“Foi muito duro ter de ficar em casa o dia todo, afetou até a nossa saúde mental”, refere Silvia, que por trabalhar na rede britânica de transportes é considerada ‘trabalhadora essencial’, e daí a filha ter regressado presencialmente à escola em setembro. “Mas ao voltar às aulas queixou-se que não tinha amigos, e nem queria sair de casa.”
Coincidindo com as férias de ‘half-term’, houve um recente ‘virar de jogo’ no Reino Unido que acabou com as restrições para viajar, e também Portugal deixou de exigir teste covid à chegada. “Sentimo-nos mais livres agora. Precisamos de voltar ao normal o mais cedo possível”, sustenta Richard Freeman.
Também Nicola Hirchliffe veio passar uma semana ao Algarve com os filhos, Benjamin e Joseph, aproveitando a paragem escolar e o facto de já não haver restrições.
“Reservámos em ‘last minute’, vimos que o tempo estava muito bom no Algarve e não hesitámos, já não tinhamos férias desde agosto”, refere a britânica que vive em Halifax.
Os adolescentes, de 14 e 17 anos, estão pela primeira vez em Portugal e dizem-se “excitados” por poderem ir à praia, à piscina ou ao ginásio do hotel Pestana, no Alvor. “Estamos realmente muito felizes, a relaxar. É tudo ótimo aqui: o tempo, a comida ou as pessoas. Andamos pela vila, vamos a restaurantes locais comer peixe fresco, são mesmo as férias que precisávamos.”
A perspetiva de Nicola Hirchliffe é voltar a fazer férias com os filhos ao ritmo habitual: cerca de cinco viagens por ano. “Fiquei muito contente quando o Reino Unido anunciou o levantar das restrições”, diz a trabalhadora da escola para alunos com necessidades especiais em West Yorkshire.
Nesta recente viagem ao Algarve, “não nos pediram comprovativos de nada, apesar de eu ter a terceira vacina tomada, os rapazes duas doses, e de termos preenchido os formulários”. Defende ser tempo de voltar à normalidade e, em relação à covid-19, diz: “temos de viver com isso”. Mas vê com agrado a preocupação do hotel no Alvor em recordar aos clientes que é preciso usar máscara. “Sentimo-nos mais seguros assim.”
Vindos de Dublin, na Irlanda, Andreas e Chezl Pedersen e as filhas Annika e Amelia, de 10 e 12 anos, também rumaram ao Algarve numa decisão de última hora.
“Viemos ao sul de Portugal à procura de sol. Olhámos o mapa, queríamos estar na Europa, mas num sítio com bom tempo”, contam, à semelhança dos restantes turistas do centro e norte da Europa.
A família Pedersen vai ficar a semana toda no Algarve – “queremos ver as grutas, e tudo o que houver para fazer, o vinho e a comida são muito bons, também vamos ver se podemos andar a cavalo” – numa espécie de desforra pelo período prolongado em que não puderam sair.
“Foi duro, tanto tempo assim. E ficámos outra vez livres para viajar”, declara Chezl, lembrando a montanha russa de regras limitadoras durante a pandemia: “Na Irlanda, até 20 de julho, não se podia sequer viajar para fora sem ser por motivos essenciais”, algo que voltou a apertar no fim do ano com a variante Ómicron.
São tempos que a família residente na Irlanda quer esquecer, agora que está a gozar férias no Algarve. Apesar de ser inverno e o tempo ainda não estar favorável a banhos, “sempre molhamos os pés, e talvez Annika, que é mais corajosa, consiga entrar no mar”.
É a primeira vez que a família residente na Irlanda vem ao Algarve, prometendo que não será a última. “Quero muito voltar a Portugal para jogar golfe”, adianta Andreas Pedersen, que trabalha em tecnologias de informação.
Hotéis com reservas acima de 2019, o melhor ano de sempre
Para os hotéis do Algarve, o aumento de britânicos em fevereiro é um primeiro sinal de retoma a sério de turistas estrangeiros para o resto do ano. O bom tempo em Portugal é uma ajuda extra, quando a Europa em geral foi assolada por intempéries e tempestades.
“Temos perspetivas muito positivas nos próximos tempos, que se estendem à Páscoa e ao verão, com números iguais ou superiores a 2019”, adianta Helder Martins, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), lembrando que em janeiro a ocupação média dos alojamentos já ficou perto do ano pré-pandemia.
Um indicador relevante é o aumento de voos no aeroporto de Faro – que atingiu um pico de mais de 100 voos por dia no fim de semana passado, em que os britânicos entraram em férias escolares – a par de uma taxa crescente de ocupação nos aviões. A procura de ‘slots’ por parte das companhias aéreas está a ser “idêntica a 2019”, permitindo boas perspetivas de novas rotas para o Algarve. “A única questão que se coloca é o voo de Faro para Kiev, devido à situação atual”, nota Helder Martins.
Para a Páscoa e o verão, a expectativa dos hotéis do Algarve é a de continuarem a contar com o mercado forte de portugueses, e a diferença este ano está no regresso em força dos turistas estrangeiros, numa espécie de ‘desforra da covid’.
“Não é só o mercado inglês que está a voltar, mas também canadianos ou holandeses, o que nos permite antecipar ter um ano excelente. Tínhamos a perspetiva de poder ficar acima de 2019, mas não é ainda garantido, pode tudo alterar-se com situações como a guerra na Ucrânia”, frisa o presidente da AHETA.
Para já, o crescimento de britânicos em fevereiro e o levantar generalizado de restrições pode ajudar a esbater a sazonalidade no Algarve, trazendo mais turistas fora da época alta, e numa altura em que as pessoas estão ansiosas por voltar a viajar, segundo o responsável da associação hoteleira. “Temos ainda hotéis fechados, mas que estão progressivamente a abrir”, nota, frisando que também o golfe, cuja temporada vai de março a maio, “está com excelente ocupação”.
Vai ser o ano de recuperação da pandemia? “Sem dúvida”, diz Pedro Lopes, administrador do grupo Pestana no Algarve. Nos três hotéis que o grupo tem abertos na região (Vila Sol, Alvor Praia e Dom João II), a que se somam quatro hotéis-apartamento (Alvor Atlântico, Alvor Park, Gramacho e Carvoeiro), as reservas até abril já estão idênticas ou acima de 2019. E os hotéis que estão temporariamente fechados (Vicking, Delfim e Blue) preparam-se para reabrir proximamente.
“Vai ser uma boa Páscoa e um bom verão, teremos o mercado interno e agora também os estrangeiros, vamos esperar que tudo corra bem”, conclui o responsável do grupo Pestana.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL