Por Susana Venceslau (texto) e Tiago Petinga (foto), da agência Lusa
A Valor T, agência de emprego para pessoas com deficiência, empregou 200 pessoas em dois anos, mas muitas mais esperam por uma oportunidade, o que leva a coordenadora da estrutura a desafiar as empresas a perderem o medo.
Apresentada em 01 de maio de 2021 (Dia do Trabalhador), a data não foi escolhida ao acaso e quis mostrar que as pessoas com deficiência querem um lugar no mercado de trabalho.
Acessível a qualquer tipo de deficiência, recebeu centenas de inscrições nos primeiros meses, ao mesmo tempo que algumas dezenas de empresas aderiam à iniciativa.
O T é de talento e de transformação, mas também de trabalho e de tempo porque o desafio de criação de uma estrutura específica para encontrar emprego para pessoas com deficiência não seria fácil e exigiria tempo para conhecer quem procura uma oportunidade, mas também para convencer as empresas portuguesas das mais-valias deste desafio.
“Desafiamos as empresas a registarem-se na Valor T. Nós temos muita gente com muita, muita vontade de trabalhar, com muitas competências, que valoriza muito a oportunidade de trabalhar”, disse a coordenadora da Valor T.
Em entrevista à agência Lusa, Vanda Nunes defendeu que as pessoas com deficiência não querem ser pensionistas, mas antes contribuintes “num país que precisa de bons recursos humanos, que precisa de uma construção feita com todos, com as diferenças”, no qual haja cada vez mais igualdade na oportunidade.
“As entidades empregadoras que se juntem a nós neste caminho porque é claramente notório e evidente que uma pessoa com deficiência tem muito mais resiliência. A diferença impôs-lhe isso e [ela] valoriza de facto essa oportunidade de trabalhar, muitíssimo”, sublinhou.
Na opinião da responsável, “são ingredientes mais do que suficientes para não ter medo” e as empresas perceberem por elas próprias que o estigma não faz sentido e que abrirem-se a esta experiência “vai naturalmente enriquecer a sua equipa”.
Vanda Nunes disse compreender o receio que as empresas possam ter relativamente à contratação de pessoas com algum tipo de deficiência, mas deixou a garantia que o trabalho da Valor T é para apoiar as entidades empregadoras que “querem efetivamente tornar o seu recrutamento mais igual, mais solidário, mais inclusivo” e, até, “mais inteligente”.
“O nosso objetivo é contribuir para que a diferença seja integrada no processo de recrutamento, não diminua a oportunidade, mas antes contribua para que se perceba, como um bom gestor de recursos humanos faz, com qualquer pessoa, em que é que o talento que cada pessoa tem pode acrescentar valor à sua organização”, salientou.
Vanda Nunes apontou que a Valor T nada tem de assistencialista, visando a integração no mercado de trabalho de forma igualitária, para que as pessoas com deficiência possam ser cidadãos de “pleno direito e de plenos deveres” através de um trabalho digno.
Contou que, atualmente, há cerca de 1.500 pessoas inscritas na Valor T, com processo ativo de recrutamento, sendo que 1.300 “estão numa fase um bocadinho mais avançada do processo de avaliação”. Isto porque todas as inscrições são avaliadas por uma equipa de psicólogos, o que inclui uma entrevista à pessoa que se regista.
Por outro lado, 150 entidades empregadoras já se registaram como disponíveis para contratar e assumiram que estão disponíveis para “um processo de recrutamento mais inclusivo”, sendo que “só cerca de 50 empresas iniciaram o processo de contratação”.
Segundo Vanda Nunes, há “900 e tal pessoas na fase de ‘match’”, ou seja, preparadas para entrar no mercado de trabalho e à espera da oportunidade de emprego que seja mais adequado ao seu perfil.
A coordenadora da Valor T apontou que neste grupo existirão certamente pessoas que, apesar de estarem prontas para começar a trabalhar, não viram surgir um trabalho adequado às suas competências, tal como existem outras pessoas com deficiência para as quais a integração no mercado de trabalho não é solução.
Questões que levam a responsável a referir que o próximo “grande desafio” da Valor T será o de dar apoio à capacitação, com formação e ferramentas direcionadas às oportunidades que o mercado de trabalho tem, “não descurando naturalmente a pretensão de cada pessoa”.
Segundo a coordenadora, há já empresas disponíveis para serem não só entidades empregadoras, mas também capacitadoras, o que permitiria que as pessoas fizessem “formação em contexto de trabalho”.
De balanço, Vanda Nunes lembrou que o arranque da Valor T foi “um lançamento no desconhecido”, mas a adesão e o entusiasmo com o projeto transformou-o num “comboio em andamento e a alta velocidade”.