Pere Quintana fala da idade com uma tranquilidade que impressiona quem o ouve, sobretudo porque está prestes a completar 109 anos e encara o assunto com absoluto humor. Natural de Barcelona, o homem de 108 anos tornou-se notícia ao refletir sobre o tempo que passou reformado e sobre o peso que, segundo diz, representa para o Estado.
“Não sou um bom negócio para o Estado”
Enquanto recorda o caminho percorrido, Quintana afirma com ironia: “passei muitos mais anos reformado do que aqueles que trabalhei”, uma realidade que raras pessoas no mundo podem afirmar. No entanto, a frase que mais tem dado que falar é outra: “não sou um bom negócio para o Estado”.
Num relato partilhado ao jornal espanhol La Vanguardia, explicou que trabalhou como farmacêutico durante 37 anos antes de encerrar a carreira profissional. Desde então, já soma mais de sete décadas de reforma, algo que o leva a encarar o sistema de pensões com pragmatismo.
Um olhar lúcido sobre a velhice extrema
Ao analisar o impacto da sua própria longevidade, o centenário comentou que “a Segurança Social não se aguentaria se todos durassem tanto como eu”. A frase, dita com serenidade e sem dramatismo, ilustra a consciência que tem sobre o debate em torno do envelhecimento demográfico.
Segundo a mesma fonte, da sua casa em Barcelona, Quintana continua a manter uma rotina simples, equilibrada e profundamente humana. Diz que vive sem pressas, com momentos diários de reflexão, pequenos passeios e muita música, uma paixão que o acompanha desde criança.
Entre confidências, partilhou que sempre acreditou na moderação e no bom humor como pilares essenciais para uma vida longa. “A moderação e o humor são a melhor receita””, afirmou, como se revelasse um segredo que, afinal, nunca escondeu.
A música como laço com o passado
A ligação à música começou cedo e marcou toda a sua juventude. Aprendeu violino em idade muito jovem e manteve o instrumento como uma extensão da sua identidade. Hoje, confessa que já não o toca como antes, mas continua a olhar para ele com carinho.
Ao evocar esta memória, admitiu que o violino foi o seu refúgio nos períodos mais exigentes da vida profissional. “Ainda o tenho em casa, às vezes olho para ele e lembra-me quem fui”, disse, mostrando como a música se mantém como companhia fiel.
Uma história marcada por amor e resiliência
O percurso de Quintana não ficou apenas ligado à profissão ou às longas décadas de reforma. O episódio mais duro da sua vida surgiu quando a esposa sofreu um ictus, já ambos perto dos 80 anos. Cuidou dela durante mais de 20 anos, num gesto que descreve como um acto de amor.
Para o centenário, esse período foi desafiante, mas também profundamente significativo. “Fueron años difíciles, pero también los más importantes. “Foram anos difíceis, mas também os mais importantes. Cuidar de quem amas é uma forma de agradecer à vida”, recordou, com emoção visível.
A família continua a ser o seu maior apoio, e o farmacêutico reformado faz questão de o repetir. Pai de quatro filhos, avô de oito netos e bisavô de cinco, sente que cada visita é uma renovação de energia. “Eles dão-me motivos para continuar”, sublinha.
Uma filosofia de vida sem segredos
Quando questionado sobre a fórmula para chegar aos 109 anos, a resposta surge imediata: “Aceitar o que vem com bom humor”. Para Quintana, a serenidade é mais importante do que qualquer regra rígida sobre saúde ou comportamento.
Acredita que a vida tem de ser vivida com aceitação e gratidão, conceitos que transmite a quem o visita. “Não vale a pena zangar-nos com a vida; é preciso vivê-la enquanto ela nos deixar”, resumiu ao La Vanguardia, com a sabedoria de quem atravessou um século de mudanças.
No final, o seu testemunho tornou-se mais do que um relato de longevidade. É uma reflexão sobre a passagem do tempo, sobre a força da família e sobre a importância de manter a alegria, mesmo quando os anos continuam a acumular-se muito além do que o Estado alguma vez previu.















