Ana Marques Gonçalves (texto) e Nuno Veiga (fotos), da agência Lusa
Além de serem colegas na AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense, Diogo Barbosa e Venceslau Fernandes partilham a realidade de serem filhos de duas “figuras icónicas” do ciclismo nacional, com ambos a quererem trilhar o seu próprio percurso na Volta a Portugal.
Diogo é o filho de Cândido Barbosa, vencedor de 25 etapas na prova rainha do calendário velocipédico nacional e o maior ídolo do pelotão português nas últimas décadas, e Venceslau, como o próprio nome denuncia, tem como pai o vencedor da Volta1984 (e, já agora, como irmã Vanessa Fernandes, vice-campeã olímpica de triatlo em Pequim2008, e presença constante nos bastidores desta edição).
“É a minha primeira Volta. Estou aqui a encarar a Volta com alguma tranquilidade, quero desfrutar. Tenho um nome às costas que é pesado, mas não penso muito nisso. Faço o meu caminho e quero tentar sempre dar o meu melhor. E se assim for e conseguir concretizar os objetivos da equipa, fico feliz”, garantiu à agência Lusa o jovem de 23 anos.
A estrear-se na Volta a Portugal, naquela que é a sua primeira temporada no pelotão português, após dois anos na Caja Rural (2019-2020) e outros dois na Hagens Berman Axeon, Diogo sabe que identificarem-no como “filho de” é algo que não consegue controlar.
“As pessoas conhecem, é normal. Espero um dia ser conhecido mais pelo Diogo Barbosa do que por ser filho do Cândido. Estou a trabalhar para isso e espero que um dia isso seja alcançado”, desabafou.
Diogo e Venceslau são colegas de equipa | Lusa
Aos 27 anos, Venceslau Fernandes está a alinhar na sua quinta Volta a Portugal e está mais acostumado ao impacto do nome de batismo.
“Já tenho mais alguns anos de experiência que o Diogo, mas esse peso acho que não é uma coisa que nos influencie muito. Nós aprendemos a lidar com isso e – estou a falar por mim e por ele – acho que nós vamos fazer o nosso percurso, o nosso trajeto. É assim que pensamos e é assim que vamos fazer”, disse à Lusa.
Vencedor da Volta a Portugal do Futuro em 2018, o ciclista da AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense sabe que esperam mais de si, dada a herança familiar que “carrega”, mas lida bem com as expectativas que outros têm.
“São figuras icónicas do nosso ciclismo, vão esperar sempre mais. Mas isso, pelo menos no meu caso, não interfere em nada. Eu desfruto muito da bicicleta, desfruto muito do que faço, e isso para mim é que é importante”, defendeu o corredor, que passou pelas estruturas da Kelly-Simoldes-UDO e da ABTF-Feirense antes de ingressar, este ano, na equipa mais antiga do pelotão mundial.
Mais experiente, Venceslau Fernandes considera que “é uma coisa natural” ser filho de quem é, defendendo que não é algo que, ele e Diogo Barbosa, tenham “de andar a pensar no dia a dia”. “Acho que estamos na Volta a Portugal a desfrutar, com ambição, logicamente”, completou.
O ponto alto da temporada
“É sempre bom estar aqui e estar rodeado destas pessoas que apoiam o nosso desporto”, corroborou o mais jovem dos ciclistas da AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense, destacando o – enorme – apoio popular e o mediatismo como fatores distintivos da prova na qual o pai, retirado desde 2010, foi vice-campeão em 2005 e 2007.
Também Fernandes define a Volta a Portugal, cuja 84.ª edição está na estrada entre 09 e 20 de agosto, como “o ponto alto da temporada”.
“É a nossa corrida, é a corrida para nós mais bonita. Sem dúvida alguma que grande parte da nossa temporada se resume à Volta a Portugal”, acrescentou.
Ao seu lado, Diogo Barbosa confessa que ainda tem bem presentes as memórias de criança, quando esperava o pai do outro lado das barreiras.
“Tenho várias recordações… principalmente de quando estava à espera na chegada e tinha aquele frio na barriga… no final, ele ganhava e eu ficava contente. É das maiores recordações e dos melhores momentos que vou guardar para a minha vida”, revelou.
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