Querem mais uma prova do carácter ultra-competitivo de Cristiano Ronaldo? Depois de uma semana em que muito se especulou sobre uma viagem a Portugal, sobre uma lesão que se calhar não era lesão, em que até os movimentos da família Aveiro se seguiu que nem GPS nas redes sociais, o português fez aquela que poderá muito bem ser a sua melhor exibição desde que voltou ao Manchester United.
E tudo com o GOAT de outro futebol nas bancadas.
Porque sim, Cristiano Ronaldo é um animal de competição tal que fê-lo nas barbas de Tom Brady, o senhor sete títulos da NFL, recentemente reformado, que esta tarde prestou uma visita a Old Trafford para ver outro dos melhores da história, não com a bola na mão, mas sim com ela no pé.
Brady, disse no Twitter, até estava a torcer pelo United neste jogo da Premier League e mesmo que não estivesse seguramente aquelas palmas que bateu de pé ao minuto 81 aconteceriam na mesma, porque o game reconhece o game, como se diz lá na terra dele, e o que Cristiano Ronaldo fez frente ao Tottenham, do alto dos seus 37 anos, é de se lhe fazer uma vénia e bater todas as palmas. O português fez os três golos da vitória por 3-2, o último dos quais ao tal minuto 81, numa altura em que o Manchester United se procurava encontrar depois de sofrer o empate de forma inesperada, num autogolo do demasiadas vezes sabotador Harry Maguire.
Os red devils, uma equipa geralmente nervosa, pouco ligada, fazia então um jogo surpreendentemente coeso quando o central colocou alguma injustiça no marcador. Uma injustiça que tinha um nome: Cristiano. O português tinha marcado logo aos 12’: recebeu de Fred de calcanhar, ficou com espaço à mercê e lançou um daqueles mísseis à Ronaldo que pareciam desaparecidos. Não tão de longe quanto o mítico golo no Dragão em 2009, mas semelhante no estilo – e no resultado, ou seja, o de fazer balançar as redes da baliza.
Num jogo muito intenso na 1.ª parte, o golo caia bem ao Manchester United, que era então a equipa com mais bola e vontade. Mas, em desvantagem, o Tottenham cresceu e aos 35’ empatou de grande penalidade, após mão na bola de Alex Telles. De Gea ainda adivinhou o remate do especialista Harry Kane, mas o tiro, forte, colocado, era impossível de parar.
Punha-se então difícil a situação da equipa da casa, emocionalmente muito pouco estável esta temporada. Mas praticamente na jogada seguinte, com o Tottenham a arriscar tudo numa linha defensiva quase a meio-campo, Matic encontrou Sancho na ala esquerda, com o expedito jovem inglês a encontrar Ronaldo na área. Num sítio onde é particularmente letal, o português bisou.
Veio então a 2.ª parte, com um ritmo mais suave e um Manchester United a tentar gerir, perante um Tottenham com Son em dia não. O coreano que falharia ao 59’ um remate após uma assistência-presente de Kulusevski, num jogo que não teve muitas mais oportunidades até aos 72’, quando Maguire cortou para a própria baliza um cruzamento de Reguilón.
Quase como após o empate na 1.ª parte, Cristiano Ronaldo esteve próximo do hat-trick logo a seguir ao 2-2, mas Lloris defendeu. Um hat-trick que chegaria então aos 81’, numa desmarcação seguida de cabeceamento após canto que o capitão da seleção nacional já fez dezenas, talvez centenas de vezes, mas que continua a ser sinónimo de felicidade.
Foi o 49.º hat-trick de Cristiano Ronaldo por clubes, o segundo pelo Manchester United, 14 anos após o primeiro. E o 807.º (ou 806.º, a doutrina diverge) golo de uma carreira sobre a qual já devíamos ter aprendido a não adiantar o final. O final será Cristiano a decidir, nos seus termos. O que se viu este sábado em Old Trafford foi um rapaz ainda cheio de fome, para mal dos pecados da Turquia, esperamos nós.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL