O desporto paralisou há um ano com os primeiros casos de infeção por covid-19, retomando a partir de maio, com calendários reorganizados e eventos desviados para Portugal, mas sem público nos recintos nem atividade formativa.
A doença transmitida por um novo coronavírus foi detetada em dezembro de 2019, em Wuhan, na China, e alastrou-se no início de 2020, tendo confinado países inteiros na primavera, com restrições à circulação na via pública e setores económicos suspensos.
A confirmação dos dois primeiros casos de infeção em Portugal, ambos em hospitais do Porto, em 02 de março, levou o Governo a decretar o estado de emergência no dia 18, sete dias após a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com o desporto luso suspenso por tempo indefinido desde 12 de março, numa súbita e inédita paragem desde a II Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, centenas de provas foram adiadas e nem os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tóquio2020 escaparam à tendência.
O maior evento multidesportivo foi transferido para o verão de 2021, tal como as fases finais do Euro2020 e da Copa América de futebol, refletindo um final de época 2019/20 incerto, recuperado em velocidades distintas desde o final da primeira vaga pandémica.
A reativação da maioria dos campeonatos dependeu do risco infecioso presente em cada latitude e da elaboração de calendários apertados, como expressaram as últimas 10 jornadas da I Liga de futebol, disputadas sem público, entre 03 de junho e 26 de julho.
Esse passo foi anunciado em 30 de abril, mediante um plano sanitário aprovado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e após uma ‘cimeira’ com o primeiro-ministro e os líderes de Federação Portuguesa de Futebol, Liga de clubes, Benfica, FC Porto e Sporting.
Ao invés da II Liga, o Governo autorizou ainda a final da Taça de Portugal e os desportos individuais ao ar livre, apesar da indefinida Volta a Portugal em bicicleta, que foi adiada, cancelada e adaptada a uma edição especial, de 27 de setembro a 05 de outubro.
Já as modalidades coletivas optaram por acompanhar o futebol não profissional na conclusão antecipada da temporada antes do verão, sem padrões comuns na atribuição de títulos, vagas europeias ou subidas e descidas de divisão pela via administrativa.
Outros eventos emblemáticos de curta duração foram cancelados, casos do Estoril Open de ténis e do Rali de Portugal, ou convertidos numa edição virtual, como a Maratona do Porto, ficando excluídos de uma retoma desportiva gradual na segunda metade de 2020.
A ‘nova normalidade’ tem causado danos sem precedentes, mas privilegiado Portugal na organização de grandes eventos, como a conclusão da Liga dos Campeões numa ‘final a oito’, repartida pelos estádios da Luz e José Alvalade, em Lisboa, de 12 a 23 de agosto.
Além do novo formato, o certame expôs as restrições sanitárias vulgarizadas no último ano em contexto desportivo, como testes de despistagem à covid-19, limitação de intervenientes, distanciamento físico, ausência de cumprimentos ou uso de máscara.
Portugal também beneficiou dos ajustes nas principais categorias dos desportos motorizados e voltou a acolher etapas dos campeonatos do mundo de Fórmula 1 (25 de outubro) e MotoGP (22 de novembro), desta vez no Autódromo Internacional do Algarve.
O triunfo caseiro do motociclista Miguel Oliveira foi emoldurado por bancadas vazias, um mês depois do teste falhado com cerca de 27.500 espetadores na elite das quatro rodas, que travou alguns ensaios gerais com vista ao regresso gradual de público aos recintos.
A segunda vaga da pandemia de covid-19 eclodiu entre as duas provas e acelerou a reativação do estado de emergência desde 09 de novembro, ao qual se juntou novo confinamento a partir de 14 de janeiro de 2021, em função da terceira onda de infeções.
Antes disso, as competições seniores de modalidades retomaram no outono e o Governo decidiu equiparar desportistas federados a profissionais, alargando um estatuto exclusivo da I e II Ligas, que iniciaram a nova época em 18 e 10 de setembro, respetivamente.
Com mais ou menos casos de infeção e vários encontros adiados, essas provas coletivas têm resistido na normalidade possível durante o segundo confinamento, que voltou a suspender eventos secundários, encerrar ginásios e restringir atividades de treino.
Se o futebol vive em ‘contrarrelógio’ a pensar no Euro2020 e na Copa América, os campeonatos mundiais de desportos motorizados reorganizaram-se para entregar a Portugal novas etapas de MotoGP (18 de abril) e Fórmula 1 (02 de maio) em 2021.
Menos afortunada está a formação, que se foi reinventado à distância nos últimos 12 meses, embora tenha retido apenas 89.792 atletas dos quase 252.704 inscritos nas federações de andebol, basquetebol, futebol e hóquei em patins e voleibol em 2019/20.
Em contraste com outros países, o desporto está ausente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) de Portugal, que totaliza nove mil milhões de euros em subvenções comunitárias pós-crise destinadas a reformas nas áreas sociais, clima e digitalização.
O documento tem originado críticas por parte de várias estruturas de cúpula do desporto nacional, por excluir recomendações da União Europeia e objetivos do programa Estratégia Portugal 2030 nos domínios da atividade física e desportiva das populações.