“Não tenho redes sociais, pelo que não tenho noção nenhuma da repercussão e isso incomoda-me e incomodou-me zero. Lamento as pessoas terem ficado chateadas, mas, a nível interno, aquilo que eu posso dizer é que o João encontrou-se na situação de ter de trabalhar para o Remco, porque no dia da [quarta] etapa de Sestola perdeu tempo”, recorda, em declarações à Lusa.
O episódio conta-se numa ‘penada’: o luso ‘quebrou’, perdeu quase seis minutos para o vencedor da etapa, e deu um trambolhão na geral, descendo do quarto ao 42.º posto, com o recém-coroado vencedor da 48.ª Volta ao Algarve a assumir-se então como único chefe de fila da formação belga, na oitava posição.
“Se não tem perdido tempo, teria sido ao contrário, porque nós não somos uma equipa de ‘totós’. Somos uma equipa que tem de gerir os seus recursos da forma como a corrida se desenvolve. Esse dia foi um dia capital. E eu falei disso com o João nesses dias e ele sabe muito bem, sempre me disse que aquele dia foi chave no Giro, porque ele tinha condições para ter ganho a Volta a Itália no ano passado”, considera o diretor técnico e de desenvolvimento da Quick-Step Alpha Vinil.
Nesse dia, dezenas de adeptos portugueses – a maioria dos quais ‘convertida’ ao ciclismo apenas desde a extraordinária exibição de João Almeida na Volta a Itália no ano anterior – ‘invadiram’ as redes sociais da então Deceuninck-QuickStep para criticar a opção da equipa, que não esperou pelo jovem de A-dos-Francos (Caldas da Rainha), e insultar Evenepoel, numa ausência de ‘fair play’ inédita na modalidade que haveria de prolongar-se até ao final da temporada passada.
“Não me incomodam as críticas e as redes sociais não são um ambiente onde eu me encontre”, esclarece Scheidecker, recordando que, naquele 11 de maio de 2021, o agora ciclista da UAE Emirates cometeu uma falha que hipotecou definitivamente o seu sonho de levar a camisola rosa para casa.
“[O João Almeida] surpreendeu-me pela positiva e eu tive a oportunidade de lhe dizer que excedeu as minhas expectativas, o que me deixou extremamente feliz, mas com aquele sabor agridoce de ‘caramba, um dia em que te esqueces de comer outra vez, como já tinha acontecido no Tirreno-Adriático, deixa-te numa situação de desvantagem’. E, pronto, o ciclismo é isto mesmo: vivendo e aprendendo”, nota.
Os ‘ecos’ da alegada rivalidade luso-belga foram alimentados nas redes sociais e também nos comentários televisivos, mas o diretor português da Quick-Step Alpha Vinil garante que não contaminaram o seio da formação belga.
“Nós, na equipa, gerimos a situação e os corredores de forma serena, creio que com a liderança necessária para que os corredores façam aquilo que devem fazer e para que consigamos tirar deles o melhor. Acho que isso acabou por acontecer, porque fizemos um Giro excecional, apesar de não termos ganho nenhuma etapa. Fomos protagonistas, falhou [o triunfo] mas foi por pouco. Esta história das tensões e daquilo que as pessoas veem do exterior não é necessariamente aquilo que nós vemos do interior”, contrapôs.
Quarto do Giro2020, no qual andou 15 dias vestido de rosa, João Almeida viria a protagonizar uma recuperação ‘fulgurante’, que o levou ao sexto lugar da geral final, com o mesmo tempo do quinto, o colombiano Daniel Martínez, enquanto Evenepoel, que se estreava numa grande Volta depois de ter estado mais de oito meses afastado da competição, devido a uma fratura da pélvis, acabou por desistir, na sequência de uma queda, após a 17.ª etapa, quando já estava a mais de uma hora do ‘maglia rosa’ Egan Bernal.