Por Alexandra Oliveira, agência Lusa
Os bons resultados dos nadadores portugueses com Síndrome de Down são fruto do trabalho conjunto de treinadores e família, considera o técnico Rui Gama, que defende a inclusão da deficiência nos Jogos Paralímpicos e lamenta a falta de apoios.
“Só com um trabalho de equipa entre treinadores e família se conseguem estes resultados. Normalmente, passamos quatro horas por dia com os atletas, mas fica a faltar o resto do dia. A complementaridade entre a vida familiar e escolar ou laboral é essencial, e é ela que permite os bons resultados”, disse Rui Gama, à agência Lusa, durante a 10.ª edição do Mundiais DSISO (Organização Internacional de Natação para Síndrome Down), que decorrem em Albufeira.
O treinador de natação adaptada do Sporting, responsável pela preparação de quatro dos 10 portugueses que participam nos Mundiais, considera que a inexistência de uma classe para atletas com Síndrome de Down nos Jogos Paralímpicos “é, talvez, a maior injustiça que existe no desporto mundial”.
“A valorização tem que ser dada pela competência, não estamos a reclamar a inclusão deles nos Jogos Paralímpicos à força, estamos é a mostrar que eles têm mais do que capacidade para lá estarem, e que é uma tremenda injustiça não poderem participar”, afirma.
Rui Gama lamenta que muitas vezes estes atletas ainda sejam olhados e tratados “como coitadinhos”.
“Têm de ser tratados como atletas de alta competição e as suas potencialidades estão à vista, fazer 1.07 minutos nos 100 metros livres só está ao nível de quem tem muitas capacidades e trabalha muito”, sustentou.
Atualmente, os atletas com Síndrome de Down podem participar nos Jogos Paralímpicos apenas através da deficiência intelectual, mas, lembra Rui Gama, “as suas características fisiológicas e musculares são bastante específicas”, o que dificulta muito a qualificação.
Em termos de apoios, os atletas com Síndrome de Down não são apoiados por qualquer programa estatal específico, não recebendo, por isso, qualquer bolsa para preparação ou prémios monetários pelas medalhas conquistadas.
“Estes atletas vivem do investimento das famílias, não tem qualquer apoio direto do estado. No que se refere a estágios, apenas têm apoios se estes forem promovidos pela Federação Portuguesa de Natação ou pelos clubes. Em termos financeiros, as medalhas que ganham são lata”, explica.
Rui Gama, que fez uma especialização na Austrália para trabalhar com atletas com Síndrome de Down, considera que o investimento dos clubes nesta área “é diminuto por não se tratar de uma prioridade” e lembra que “habitualmente a natação adaptada só consegue treinar nos horários vagos da piscina”.
Segundo o treinador, os atletas com Síndrome de Down apresentam “alterações cardíacas e do foro respiratório, bem como características musculares diferentes de todos os outros, pelo que precisam de estímulos diferentes”.
Rui Gama, que é responsável pela preparação dos nadadores André Almeida, Diogo Matos, João Vaz e Vicente Pereira, refere também que outra das especificidades destes atletas “é o défice cognitivo, e não tanto a deficiência intelectual”.
O treinador destaca o trabalho que tem vindo a ser feito para ultrapassar as barreiras culturais que ainda existem, e afirma: “Ainda não estão completamente ultrapassadas, se bem que tem vindo a ser feito um trabalho de valorização de forma a perceber que eles são fruto da forma como a sociedade os trata”.
A dois dias do final dos Mundiais DSISO, que pela segunda vez se realizam em Albufeira, Portugal soma 21 medalhas, sete das quais de, depois de nos Mundiais anteriores, disputados na Turquia em 2020, ter conseguido cinco, e nos Europeus de 2021 somou 31 subidas ao pódio.