Após ter enfrentado uma “das piores coisas” que lhe podiam acontecer, ao falhar a Volta ao Algarve, João Rodrigues redefiniu objetivos e aponta agora à Volta a Portugal em bicicleta, uma prova na qual, admite, gostaria de repetir triunfo.
“Ficar fora do Algarve era das piores coisas que [me] podiam acontecer, por a corrida ser no Algarve e eu ser algarvio, por ter vencido no ano anterior, e porque partir com o número um para esta grande corrida seria espetacular. Infelizmente, a covid-19 não me deixou”, lamentou o ciclista da W52-FC Porto.
Rodrigues foi ‘apanhado’ pelo coronavírus, passou mal – teve febre, tosse e dores de corpo, sobretudo na zona lombar – e foi forçado a falhar a defesa do título na ‘Algarvia’, meses depois do recital que protagonizou e que o tornou no primeiro corredor daquela região a ganhar a prova, e logo perante a concorrência ‘feroz’ das equipas do WorldTour, a primeira divisão do ciclismo mundial.
“Vi pouco [da Volta ao Algarve]. Sinceramente, só fui ver o contrarrelógio e foi porque fui almoçar à casa de um amigo, estávamos ali perto e vi. Não gosto muito de ver as corridas quando não estou em competição. Prefiro ver na televisão, mas, como tinha também alguns treinos, não consegui acompanhar a Volta toda, embora estivesse sempre atento aos meus colegas, claro”, revelou à agência Lusa.
O ciclista de Faz Fato (Tavira) não esconde que perder a ‘sua’ prova, num contexto que seria particularmente especial, o desanimou “um pouco”, um estado agravado pela falta de resposta do corpo após ter superado a covid-19.
“É claro que vamos um pouco abaixo, porque o nosso corpo não responde, não temos as mesmas pernas. Por exemplo, agora, na primeira competição que tive, na [clássica da] Primavera, parecia que não era o mesmo ciclista. Não me senti nada bem, o meu corpo não respondia ao que a cabeça mandava. Senti-me em baixo, mas faz parte do ciclismo”, reconheceu.
Com um discurso sempre ponderado, o reservado corredor da W52-FC Porto, que falou à agência Lusa à margem da Volta ao Alentejo, prova que venceu em 2019 e que terminou no domingo em Évora com o triunfo do venezuelano Orluis Aular (Caja Rural), procura agora “ir ganhando forma para daqui a uns meses já estar no máximo”.
“O meu objetivo era entrar bem na época, na Volta ao Algarve, e, depois, conseguir estar bem no Troféu Joaquim Agostinho, na Volta a Portugal, as corridas mais importantes. Agora, com isto da covid, tive de alterar as minhas competições e também fazer um pico de forma um pouco mais tarde. Gostaria de estar bem já nas próximas corridas por etapas, talvez o [Grande Prémio] O Jogo ou o Douro [Internacional], mas é claro que o grande objetivo passará pela Volta a Portugal”, confessou.
Vencedor das três mais emblemáticas competições portuguesas, o algarvio de 27 anos parecia destinado a múltiplos triunfos na prova ‘rainha’ do calendário nacional, mas mantém ainda aquela ‘suada’ amarela de 2019 como a única, embora haja muito de si nas que o seu colega Amaro Antunes conquistou nas últimas duas edições da Volta a Portugal.
“Quando estamos numa equipa vencedora, é sempre mais fácil, não temos de estar a correr atrás do prejuízo, e ganhar eu ou um colega, para nós é igual, porque o fundamental é sairmos com a vitória dessa competição. É claro que, a nível pessoal, gostamos sempre de ganhar. Por vezes, a corrida não dita assim. Há momentos que são decisivos e definem completamente a corrida, então não dá para lutar por essa classificação. Tenho essa ambição de voltar a ganhar, mas, lá está, isso só não chega”, concedeu.
Rodrigues faz até um ‘mea culpa’, reconhecendo que as suas ‘más’ entradas na Volta a Portugal acabaram por colocá-lo na condição de trabalhador e não de líder – nos últimos dois anos, ficou em ‘desvantagem’ no duelo pela liderança da W52-FC Porto ao perder tempo para Antunes nas primeiras etapas.
“Esse, se calhar, é um dos grandes males que eu tenho: nunca consegui entrar a 100% na Volta a Portugal. Entro sempre um pouco abaixo e vou atrás do prejuízo. Já o Nuno [Ribeiro, diretor da W52-FC Porto] diz o mesmo e tem toda a razão. Não sei porquê. Vou tentando alterar algumas coisas na minha preparação para tentar entrar melhor, mas não sei, parece que o corpo não responde”, assumiu.
Com a humildade que lhe é (re)conhecida na estrada, onde trabalhou incansavelmente para Antunes, sobretudo, nas etapas da Torre, o algarvio é, contudo, taxativo sobre o seu futuro na prova ‘rainha’ do calendário: “Se tiver um colega meu em melhor posição ou em melhor condição física, será a ele que eu irei ajudar”.