O romance “Misericórdia” (2022), de Lídia Jorge, venceu o Prémio Médicis Étranger, ex-aequo com o romance “Impossibles Adieux”, da sul-coreana Han Kang, segundo o anúncio do júri.
Lídia Jorge, 77 anos, é a primeira autora de língua portuguesa distinguida com o galardão criado em França em 1970, sublinham as Publicações D. Quixote, que editam a escritora.
O prémio foi entregue pela primeira vez ao italiano Luigi Malerba e já distinguiu, entre outros, autores como Milan Kundera, Julio Cortázar, Doris Lessing, Umberto Eco, Elsa Morante, Antonio Tabucchi, Philip Roth, Orhan Pamuk, Antonio Muñoz Molina e David Grossman.
“Misericórdia” foi traduzido para francês por Elisabeth Monteiro Rodrigues, e editado pela Métailié.
O romance foi distinguido, na passada quarta-feira, com o Prémio Fernando Namora, por unanimidade, depois de já ter vencido o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, e os prémios Urbano Tavares Rodrigues, P.E.N. Clube Português e o de Melhor Livro Lusófono publicado em França.
“Misericórdia” foi escrito por Lídia Jorge quando a mãe, internada numa instituição para idosos, no Algarve, várias vezes lhe pediu que escrevesse um livro com este título.
A história decorre entre abril de 2019 e abril de 2020, data da morte da mãe da autora, que foi uma das primeiras vítimas da covid-19 no sul do país.
“A minha mãe pediu-me várias vezes para escrever um livro que se chamasse ‘misericórdia’, porque ela achava que havia um desentendimento no tratamento das pessoas, achava que as pessoas procuravam ser amadas, mas não as entendiam. Pediu-me que escrevesse um livro chamado ‘misericórdia’, para que se tivesse compaixão pelas pessoas e as tratássemos como se fossem pessoas na plenitude da vida”, revelou a autora em entrevista à agência Lusa, quando da publicação do romance.
Segundo a escritora, este não é um livro “mórbido” e a sua escrita não lhe suscitou sentimentos de tristeza ou dor. Antes, é um “livro sobre o esplendor da vida que acontece quando as pessoas estão para partir”, sobre os “atos de resistência magníficos, que as pessoas têm no fim da vida”.
Segundo a editora portuguesa da escritora, “Misericórdia” tem “já os direitos de publicação vendidos para Espanha (La Umbria y La Solana), Alemanha (Secession), Colômbia (Tragaluz) e México (Elefanta), com publicação durante a Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que se realiza a partir de 25 de novembro até 3 de dezembro, para a qual Lídia Jorge é uma das escritoras convidadas.
O outro romance com o qual Lídia Jorge reparte o Médicis Étranger, “Impossibles Adieux” (“Adeus Impossíveis”), de Han Kang, vai ser publicado em Portugal no próximo ano, adianta a editora do grupo LeYa.
O júri do Prémio Médicis foi presidido por Anne F. Garréta e composto por Marianne Alphant, Michel Braudeau, Marie Darrieussecq, Dominique Fernandez, Patrick Grainville, Frédéric Mitterrand, Andreï Makine, Pascale Roze e Alain Veinstein.
Em 2019, a escritora foi finalista do Prémio Médicis com o romance “Estuário”.
Em abril passado, Lídia Jorge foi distinguida com o Prémio Vida Literária da APE e, em setembro, com o Prémio Eduardo Lourenço de carreira.
Lídia Jorge estreou-se com a publicação de “O Dia dos Prodígios” (1980). Desde então tem publicado romance, conto, ensaio, teatro, crónica e poesia. As suas narrativas foram adaptadas a teatro, televisão e cinema.
Entre outros prémios, Lídia Jorge recebeu o Correntes d’Escritas, em 2004, Prémio Albatros, da Fundação Günter Grass, em 2006, e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas, das Feira do Livro de Guadalajara, no México, em 2020.
No ano passado o vencedor do Prémio Médicis Étranger foi o ucraniano Andreï Kourkov o romance “Abelhas Cinzentas”.
Esta quinta-feira foram também conhecidos os vencedores do Prémio Médicis de Ensaio, Laure Murat pela obra “Proust, roman familial” (“Proust, um romance familiar”), e o canadiano Kevin Lambert venceu o Médicis da Francofonia, com “Que notre joie remaine” (“Que a Nossa Alegria Permaneça”).
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