“Clandestina”, documentário de Maria Mire que recorda o trabalho de resistência à ditadura da artista portimonense Margarida Tengarrinha, venceu os prémios A Voz das Mulheres e de melhor filme português do festival Porto Femme – Festival Internacional de Cinema.
A curta-metragem “Pelo Sim Pelo Não”, de Laura Andrade, que retrata a experiência feminina a partir das conversas de um grupo de amigas, recebeu o Prémio do Festival, que iniciou a sua sétima edição no passado dia 16, mobilizou cerca de três mil pessoas, em cinco espaços do Porto, e encerrou na noite de domingo.
“Clandestina”, de Maria Mire, tem como ponto de partida a obra “Memórias de Uma Falsificadora – A Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal”, da professora e ilustradora Margarida Tengarrinha (1928-2023) que durante a ditadura falsificou documentos de opositores perseguidos.
“O interesse na realização deste filme prende-se tanto com a urgência de tirar da sombra a ação das mulheres que de modo revolucionário combateram neste período negro da história contemporânea portuguesa, como o de pensar na dimensão política presente nos pequenos gestos da vida quotidiana”, segundo a realizadora, citada na apresentação da obra.
O prémio A Voz das Mulheres, para “vozes que recusam o silêncio”, distingue o melhor filme português que aborde a importância “da palavra na denúncia da situação de discriminação, nas várias dimensões da vida.”
A competição nacional distinguiu ainda “Cura 1”, de Joana Peralta, como melhor filme experimental, “Sopa Fria”, de Marta Monteiro, como melhor filme de animação, “As Melusinas à Margem do Rio”, de Melanie Pereira, como melhor documentário, e “Entre a Luz e o Nada”, de Joana de Sousa, como melhor obra de ficção.
Na competição internacional, o prémio de melhor documentário foi para “Prague’s Girl”, de Andree Lucini, de Itália, o de melhor animação para a produção francesa “Green grass”, de Eli Augarten, e o de melhor filme experimental para “The Altar”, de Moe Myat May Zarchi, de Myanmar.
Na área de ficção foram distinguidos “Uli”, de Mariana Gil Ríos, da Colômbia, como melhor curta-metragem, e “Woodland”, de Elisabeth Scharang, da Áustria, como melhor longa-metragem.
O prémio de melhor filme pelas Lutas e Direitos das Mulheres foi para “Bald Women”, de Sandra Román, de Espanha.
A associação cultural It Gets Better Portugal recebeu o prémio Sororidade, pelo trabalho global de apoio a jovens gays, lésbicas, bissexuais, trans e intersexo.
O festival internacional de cinema Porto Femme, que se define como mostra do “melhor cinema produzido por mulheres e pessoas não binárias”, dedicou este ano a programação às mulheres e à revolução, porque para algumas delas “o 25 de Abril demorou a chegar”.
Extra-competição, exibiu filmes como “Revolução” (1975), de Ana Hatherly, “O aborto não é um crime” (1976), de Mónica Rutler e Fernando Matos Silva, “Beirute: Olho da tempestade” (2021), de Mai Masri, e “Sagargur” (2024), de Natasa Nelevic.
Na abertura, foi homenageada a cineasta portuguesa Margarida Cardoso, que dirigiu filmes como “Natal 71”, “A costa dos murmúrios” e “Yvone Kane”.
A competição oficial do Porto Femme contou este ano com 122 filmes de 38 países.
A lista integral de prémios está disponível nas redes sociais do festival.
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