A Anta de Pavia, também conhecida como Capela de São Dinis ou São Dionísio, localiza-se na vila de Pavia, no concelho de Mora, distrito de Évora. Este monumento nacional é uma antiga sepultura coletiva do período neolítico que, no século XVII, foi transformada numa capela cristã. É um exemplo único de como diferentes épocas e crenças se fundem num mesmo local, como escreve a VortexMag.
A construção megalítica que deu origem à Anta de Pavia insere-se num fenómeno cultural próprio de Portugal, que floresceu entre o IV e o III milénio a.C., especialmente no Alentejo. Durante esse período, ergueram-se diversas antas ou dólmens, estruturas compostas por grandes blocos de pedra, utilizadas para fins funerários, religiosos e possivelmente astronómicos.
As antas são caracterizadas por uma câmara funerária formada por esteios verticais, coberta por uma laje horizontal, conhecida como chapéu. Muitas vezes, estas estruturas eram complementadas por corredores de acesso e, por vezes, por cromeleques — círculos de pedras em torno da câmara.
A Anta de Pavia apresenta uma câmara com cerca de 4,30 metros de diâmetro e 3,30 metros de altura, sendo coroada por uma laje de aproximadamente 3 por 2,60 metros. Originalmente, fazia parte de um complexo funerário mais amplo, possivelmente rodeado por outras antas. A sua construção data de entre o IV e o III milénio a.C.
No século XVII, o monumento foi convertido em capela dedicada a São Dinis ou São Dionísio, segundo a mesma fonte. Para esta adaptação, foi anexada uma pequena nave à entrada da câmara, transformando-a em ábside. Esta nave, com cerca de um metro de profundidade, recebeu um telhado de duas águas. Na fachada principal, foi acrescentado um pórtico de alvenaria em arco perfeito, acessível através de uma escadaria ladeada por dois esteios do corredor original do dólmen. Um campanário, assente sobre o telhado e o chapéu da anta, completa esta invulgar capela.
A primeira referência documentada à Anta de Pavia surge no século XVI, na obra “Notícias de Portugal”, do historiador Manuel Severim de Faria. Já nesse período, era identificada como capela consagrada a São Dinis, um mártir cristão do século III. Embora a data exata da consagração seja desconhecida, acredita-se que esta possa ter sido influenciada pela cristianização de outra anta da região, a Anta-Capela de São Brissos, em Montemor-o-Novo.
No interior da Anta de Pavia, destaca-se o altar-mor com um retábulo em alvenaria e revestimentos de azulejos setecentistas produzidos em Lisboa. Os azulejos representam cenas da vida de São Dinis e da Virgem Maria, simbolizando a fusão entre o passado neolítico do local e a religião cristã.
As escavações arqueológicas na Anta de Pavia têm dois momentos de grande relevância. A primeira ocorreu em 1914, sob a orientação de Vergílio Correia, pioneiro da arqueologia portuguesa. Durante os trabalhos realizados num Sábado de Aleluia, foram removidos detritos e encontraram-se fragmentos de cerâmica e ossos humanos. Estes achados foram publicados no livro “El Neolítico de Pavia”, em 1921.
A segunda campanha arqueológica teve lugar em 2013, liderada por Leonor Rocha, da Universidade de Évora. Esta investigação procurou identificar a extensão original do corredor e precisar a datação do monumento. Entre os artefactos encontrados destacam-se pontas de seta, machados, missangas e outros adornos, confirmando o uso funerário do dólmen. Estima-se que o corredor original tivesse cerca de 10 metros de comprimento e 1,5 metros de largura, revelando a grandiosidade do monumento antes da sua conversão em capela.
Um património de duas culturas
A Anta de Pavia é um testemunho único da interligação entre duas culturas: a megalítica, que remonta ao neolítico, e a cristã, que adaptou este espaço à prática religiosa. O monumento reflete como diferentes comunidades, ao longo dos séculos, reutilizaram estruturas existentes para dar resposta às suas necessidades espirituais.
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