Alerta piolho, o Manel está com varicela, a Rita vomitou, a Carolina está ranhosa. Contem com o João para a festa! Não acham que os miúdos têm TPC a mais? É inadmissível que a escola sirva batatas fritas ao almoço! Já repararam que a professora de Português dá erros? O meu filho queixa-se que o professor de Matemática é bruto.
Se tem filhos na escola, o mais provável é pertencer a um grupo de pais no WhatsApp e algumas destas conversas ser-lhe-ão certamente familiares. Em poucos minutos, qualquer assunto, do mais trivial ao mais grave, gera uma torrente de mensagens, sempre com muitos emojis à mistura, GIF, fotos, vídeos e frases inspiracionais.
O WhatsApp transformou-se numa espécie de reunião de pais em permanência, que os aproximou da escola de uma forma nunca vista. A maior participação das famílias na vida escolar é positiva, mas também está a gerar mal-estar e conflitos. Que o digam os professores, que nunca foram tão confrontados por pais ansiosos e convictos de que eles é que sabem ensinar.
“Isto dos grupos de pais no WhatsApp tem muito que se lhe diga: se por um lado servem para partilhar informação útil sobre a escola e os nossos filhos, por outro tendem a resvalar para assuntos mais pessoais e que eram perfeitamente dispensáveis. E há os ‘pais-professores’, que perceberam com as aulas online que ‘a professora de Inglês… não sabe falar Inglês’ ou que ‘o professor tal é muito rígido’.
Não terá sido fácil pôr os professores a ensinar as crianças com tanto pai de olhos e ouvidos bem abertos”, descreve João Oliveira, pai de uma aluna que frequenta uma escola pública de 1º ciclo no centro de Lisboa.
“O WhatsApp acaba por ser uma assembleia digital permanente, onde não existe moderador definido, mas há sempre alguém a assumir voluntariamente a ordem dos trabalhos.”
A maioria dos pais intervém pouco, o que não impede que se façam cartas à direção em nome de todos: “Meia dúzia dizem apoiado e lá vai mais uma.”
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL