Por Fernando Paula Brito, da agência Lusa
Mais de metade dos jovens refugiados ucranianos que iniciaram este ano letivo no Agrupamento de Escolas Albufeira Poente já abandonaram os estabelecimentos, mas muitos dos que se mantêm seguem simultaneamente o ensino português e o ensino à distância daquele país.
Nas oito escolas do agrupamento, iniciaram o ano letivo cerca de 80 alunos de origem ucraniana, entre os quais aproximadamente 40 refugiados, tendo 23 deles entretanto deixado de frequentar os estabelecimentos de ensino para regressarem ao seu país ou a outras regiões, disse à agência Lusa Henrique Silva, subdiretor do agrupamento.
Segundo a coordenadora da Escola Básica D. Martim Fernandes, Ana Cristina Pinto, o número de refugiados ucranianos a chegar é agora muito diminuto, depois da vaga inicial, principalmente de mulheres, jovens e crianças que vieram logo a seguir ao início da guerra, que começou em 24 de fevereiro de 2022.
“A última aluna que chegou foi em setembro. Ultimamente não temos tido refugiados”, disse aquela responsável, acrescentando que “vários alunos” regressaram, na sua maioria à Ucrânia, ainda no anterior ano letivo, depois de terem fugido para Portugal logo após o início da guerra.
Jovens mantêm um ensino à distância com o país de origem
Muitos dos jovens refugiados da Ucrânia que estudam nas escolas básicas de Albufeira, no distrito de Faro, têm “mais trabalho do que os restantes alunos”, uma vez que seguem simultaneamente o ensino português e o ensino à distância daquele país, referiu Henrique Silva.
Assim, além das disciplinas do currículo português, estes jovens mantêm um ensino à distância com o país de origem, frisou, explicando que os alunos que chegaram há um ano a Portugal, apesar de terem mais trabalho do que os restantes, “querem aproveitar a oportunidade que estão a ter neste novo momento da sua vida”.
“Portanto, são alunos empenhados, são responsáveis e, além disso, querem manter a ligação com o país de origem e daí também este ensino à distância que eles beneficiam”, acrescentou o docente.
Uma dessas alunas é Sofia, de 13 anos, que chegou a Portugal em março do ano passado e que contou à Lusa que segue os dois sistemas de ensino, estando a maior parte do tempo a estudar “sozinha”.
O início da sua estadia em Portugal foi “muito complicado por causa da língua”, mas agora gosta de cá estar, tendo “mais amigos ucranianos”, enquanto espera pelo dia em que vai regressar ao seu país.
Estes jovens alunos refugiados foram muito apoiados pelos colegas ucranianos que já há vários anos estavam estabelecidos em Portugal, havendo uma comunidade significativa de cidadãos ucranianos no concelho de Albufeira.
“Mas eu noto que eles se socorrem, […] se apoiam muito uns aos outros. Se por um lado não é bom, porque também não permite muita integração a nível dos alunos portugueses, por outro lado, eles sentem-se mais seguros, mais confortáveis, mais apoiados, porque a língua é sempre uma barreira”, explicou Ana Cristina Pinto, que leciona Inglês.
Os jovens refugiados receberam um reforço de aulas para aprenderem português e também tiveram um apoio importante ao nível da ação social escolar, nomeadamente de psicólogos.
“Tentámos que houvesse uma integração aos vários níveis que, de alguma forma, permitisse a sua integração e que se sentissem efetivamente nesta nova casa”, resumiu Henrique Silva.
Uma outra jovem refugiada, Ana, de 12 anos, que também chegou em março de 2022, contou à Lusa, ainda com alguma dificuldade em expressar-se em português, que tem agora amigos ucranianos, portugueses e russos que frequentam a sua escola.
A jovem afirma gostar de “estar em Portugal”, mas tem o sonho de, um dia mais tarde, ir para os Estados Unidos da América, apesar de os seus pais quererem ficar “para sempre”.
Num português ainda pouco percetível, Danilo, de 14 anos, que chegou na mesma altura, contou à Lusa que não quer regressar à Ucrânia, mesmo que um dia o país viva em paz e regresse à normalidade.
Já Liubov, uma menina russa de 15 anos a viver há sete em Portugal, disse que gosta de ajudar os jovens refugiados: “A maior parte dos ucranianos conseguem entender a minha língua, então consigo ajudar alguma coisa”, disse.
A jovem é da opinião que a maioria dos estudantes refugiados ucranianos “vive um bocado em circuito fechado”, principalmente no caso de alunos com muitas pessoas da sua nacionalidade na mesma turma.
Portugal atribuiu mais de 58.000 proteções temporárias a pessoas que fugiram da guerra na Ucrânia e cerca de um quarto foram concedidas a menores, informou na segunda-feira o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
A última atualização por esse organismo dá conta de que, desde o início da guerra, que na sexta-feira completa um ano, Portugal concedeu 58.043 proteções temporárias a cidadãos ucranianos e a estrangeiros que residiam na Ucrânia, 33.900 dos quais a mulheres e 24.143 a homens.
O SEF avança que o maior número de proteções temporárias concedidas durante um ano se registou nos municípios de Lisboa (12.385), Cascais (3.665), Porto (2.976), Sintra (1.955) e Albufeira (1.443).
Por outro lado, foram autorizados pedidos de proteção temporária a 14.111 menores, representando cerca de 25% do total.