Ainda que não seja um problema extensível a todo o país, a falta de professores continua a agravar-se em várias regiões e disciplinas: mais de 150 mil alunos do básico e secundário têm pelo menos um professor em falta no início deste ano letivo.
O levantamento — feito a partir das listas de horários por preencher — é de Davide Martins, professor de Matemática no Agrupamento de Escolas Dr. Carlos Pinto Ferreira (Vila do Conde) e colaborador do blogue especializado em educação “ArLindo”.
Até ao início desta semana, havia 1300 horários lançados a concurso e que continuavam a aguardar a colocação de um docente. “Estes horários correspondem a 20.046 horas semanais. Se considerarmos que, em média, os alunos têm três horas semanais por disciplina, significa que há 6682 turmas sem professor. E se cada turma tiver uma média de 25 alunos, isto dá 167.050 sem aulas. Em números redondos e por defeito, podemos dizer que mais de seis mil turmas e/ou mais de 150 mil jovens são afetados”, contabiliza Davide Martins. E o problema acentuou-se nos últimos anos.
Em 2020, o valor de horários vazios neste arranque de ano letivo só foi atingido em meados de outubro (e já com três semanas de aulas) e em 2019 só no final desse mês. As regiões e disciplinas mais afetadas continuam a ser as mesmas: Lisboa (um terço dos horários vagos), Setúbal e Algarve. Quanto aos grupos de recrutamento com mais falhas, encontram-se de longe o de Informática (mais de 300 por atribuir), seguido de Geografia, Física e Química, Inglês e Matemática. Alguns horários são de substituição temporária, outros anuais.
A questão é saber quanto tempo demorará a encontrar candidatos para estes horários. Nos dois últimos anos, houve alunos sem aulas a uma ou mais disciplinas durante todo o 1º período, agravando situações de atraso nas aprendizagens provocadas por dois anos de pandemia.
Pode parecer contraditório falar em “falta de docentes” quando todos os anos milhares de candidatos à contratação não conseguem uma colocação. Neste momento, ainda constam das listas para colocação cerca de 16 mil profissionais. Mas estão essencialmente concentrados em quatro áreas: educação pré-escolar, 1º ciclo, Educação Física e Educação Especial. Ou seja, há um desfasamento entre os candidatos disponíveis e os seus interesses e as necessidades no terreno.
“A falta de professores é um problema já conhecido, mas em relação ao qual nada foi feito pelo Governo”, aponta a Fenprof, que também fez as contas ao número de alunos sem professores, apontando para um cálculo mais conservador de 100 mil alunos.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso