O fotojornalista da agência Lusa José Sena Goulão ganhou o prémio Gazeta de Fotografia, pela imagem do homem, Carlos Ferreira, que percorreu isolado a Avenida da Liberdade no 25 de Abril de 2020, com a bandeira nacional, foi anunciado esta quarta-feira.
Tornou-se um símbolo quando subiu, sozinho, a Avenida da Liberdade com uma enorme bandeira de Portugal ao ombro. Celebrava o 25 de Abril, num ano em que a pandemia obrigou ao cancelamento da tradicional manifestação pela liberdade.
Carlos Ferreira morreu aos 73 anos, no passado dia 31 de maio, fez hoje um mês. Foi vítima de um AVC, na tarde do dia anterior, no Hospital São Francisco Xavier.
O momento foi imortalizado pelo fotógrafo da Lusa, José Sena Goulão. Vestido com o seu habitual fato de rececionista de hotel, o trabalho da sua vida, Carlos Ferreira mostrou – com inteligência e sensibilidade – como celebrar o Dia da Liberdade em segurança.
Carlos Ferreira era o sócio número 4.362 da Associação 25 de Abril e foi militante do MRPP.
De acordo com uma nota do Clube de Jornalistas (CJ), que promove os Prémios Gazeta, José Sena Goulão, que cresceu em Faro, foi distinguido na categoria de fotografia, pela imagem que intitulou “Sozinho com a pátria às costas”, divulgada em diversos órgãos de comunicação.
José Sena Goulão, nasceu em Lisboa e foi criado em Faro, com passagem pelos EUA, segundo a DOARTE. É professor de Educação Física de formação e começou a fotografar em 2005, tendo tirado, posteriormente, o curso de fotografia na ar.co em 2006/7. É fotojornalista na Agência Lusa desde 2008 e tem como áreas de preferência o desporto e os concertos.
Foram ainda distinguidos os jornalistas Diana Andringa (RTP), com o Prémio Gazeta de Mérito, Andreia Friaças (Público), com o prémio Revelação, graças à reportagem “8 de Março de 1962. A manifestação das mulheres que não está nos livros”, e João Pedro Mendonça (RTP), na categoria televisão, pela reportagem “Confinado na aldeia”, realizada em Monsanto, onde por decisão médica estava em quarentena, para se proteger da covid-19.
Na categoria imprensa foi distinguido António Marujo (freelancer), galardoado com a reportagem “A caixa de correio de Nossa Senhora”, publicada nas edições de 04 de janeiro e 01 de fevereiro de 2020, do Expresso, enquanto Carolina Ferreira e Miguel Soares (Antena 1) receberam o prémio Gazeta de Rádio, pela “Goodbye Europa”, sobre o “Brexit”, com sonoplastia de Jaime Antunes, emitida em 12 de fevereiro de 2020.
Na categoria multimédia, os galardoados foram João Francisco Gomes e Sónia Simões (Observador), pelo trabalho “Em Silêncio”, um conjunto de cinco reportagens sobre abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal, divulgadas de 10 a 15 de fevereiro de 2019, e, por fim, na categoria de imprensa regional, o júri atribuiu o prémio ao jornal O Gaiense, de Vila Nova de Gaia, também distribuído em Espinho e nos principais pontos de venda do Porto.
O Júri dos Prémios Gazeta 2019-2020 foi composto por Eugénio Alves (CJ), que presidiu, Cesário Borga (CJ), Eva Henningsen (Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal), Fernanda Bizarro (freelancer), Fernando Correia (jornalista e professor universitário), Elizabete Caramelo (professora universitária), Fernando Cascais (professor universitário e formador do Cenjor), Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema e televisão), José Rebelo (professor emérito do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa) e Paulo Martins (jornalista e professor universitário).
Quem é José Sena Goulão?
José Sena Goulão é um dos principais fotógrafos portugueses e uma referência a nível nacional e internacional. Começou o seu percurso na Fotografia, em 2005.
O fotojornalista da agência Lusa, foi o orador convidado da terceira edição do Meet The Pro, uma iniciativa organizada pela Canon Portugal e pela ESCS, no âmbito do programa educacional Canon Creative Plan, decorreu, no passado dia 24 de março, via plataforma online Zoom.
Para melhor conhecer José Sena Goulão, o POSTAL deixa aqui um extrato de um texto publicado no site da Escola Superior de Comunicação Social.
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“Entusiasta da área, foi no decorrer de uma viagem com um amigo que aprendeu as bases da técnica fotográfica. Decidiu, então, investir num curso, durante o qual procurou ser parceiro das duas maiores produtoras de espetáculos portuguesas, de forma a conseguir construir um portefólio na vertente de que mais gostava: espetáculo. Em 2007, estagiou na Lusa, onde, mais tarde, acabaria por trabalhar.
Em tempos de pandemia, o fotógrafo lembrou que os jornalistas foram dos poucos profissionais que “andaram o tempo todo na rua, a mostrar o que se passava”, desde o aparecimento das máscaras, aos serviços que fecharam, passando pela nova realidade da sociedade. “Os primeiros meses foram muito intensos”, confessou. Pegando no exemplo do futebol, aproveitou para explicar de que forma é, hoje, condicionado pelas restrições impostas. “Fotografávamos ombro com ombro e, agora, não podemos mudar a posição o jogo todo. O trabalho sofre muito com essas limitações”, explicou.
Goulão procurou explicar a realidade profissional da agência noticiosa, caracterizada pela “rapidez e informação pura e dura (…) a notícia sai ao segundo e há muitos clientes a depender dela”. O fotógrafo mostrou algumas imagens do seu portefólio, que contemplam áreas tão abrangentes como o desporto, a política, manifestações ou entrevistas, entre outras. “A coisa mais transversal no meu trabalho são as reações e expressões humanas”, afirmou.
Embora considere que há “trabalhos que podem não ser os mais excitantes”, devido à repetição dos temas, referiu que também tem bombons que são os seus “balões de oxigénio, ao longo do ano”, lembrando a missão de resgate de migrantes no Mediterrâneo, que fez com a Marinha Portuguesa e que lhe valeu um prémio internacional.
Falou, também, sobre a fotografia icónica do homem que subiu a Avenida da Liberdade sozinho, com a bandeira de Portugal às costas, durante as comemorações do 25 de Abril, em 2020, no decorrer do primeiro confinamento, como um marco na sua carreira. “Quando estávamos prestes a ir embora, começámos a ver aquele senhor a subir a avenida (…) Fui atrás dele até conseguir a imagem que tinha na cabeça”, lembra. Apesar de haver outros fotógrafos no local, a imagem de José Sena Goulão distinguiu-se pela sua singularidade, sendo amplamente difundida pelos órgãos de comunicação social. “Foi um reconhecimento enorme”, garante.
Para além das fotografias que capta no âmbito da sua profissão, o fotógrafo mostrou, ainda, alguns trabalhos que faz a nível pessoal, como foi o caso da cobertura de uma emissão especial da rubrica viral “Como é que o bicho mexe”, do humorista Bruno Nogueira, no Instagram, e a fotografia de surf.
A fotografia do homem que subiu a Avenida da Liberdade sozinho, nas comemorações do 25 de Abril, em 2020, é uma das mais icónicas da carreira de José Sena Goulão.