Estamos num cenário de Terra Prometida. Entre uma oliveira com mais de 2000 anos, figueiras, alfarrobeiras e vinha das castas autóctones do Algarve, Negra Mole e Crato Branco. A quinta do Morgado do Quintão data de 1810. Ocupa cerca de 60 hectares, dos quais 13 são dedicados ao cultivo da vinha.
MORGADO DO QUINTÃO
Filipe Caldas de Vasconcellos, quinta geração da família proprietária da herdade, colabora, desde 2016, com a enóloga Joana Maçanita. O cultivo é biológico, de baixa intervenção e com recurso a métodos ancestrais como o envelhecimento dos vinhos em ânforas de barro. “A Negra Mole não se encontra plantada em mais nenhum sítio”, revela a enóloga. “É menos 0,1% do encepamento do Algarve, uma casta praticamente acabada, e o Morgado do Quintão tem 7 hectares plantados”, sublinha, durante um passeio pela vinha. Para descrever a casta, podemos dizer que será semelhante a um pinot noir, mas mais resistente. “É a única que tem bagos rosés, tintos e brancos num único cacho e com a qual consigo fazer vinhos tintos, brancos e espumantes”, explica. “Algarve é Negra Mole, é tradição”, frisa Joana Maçanita. O espumante está prometido para o Natal de 2021.
MORGADO DO QUINTÃO
Num recanto mais afastado da propriedade, a enóloga resolveu deixar a “vinha maluca” à solta a trepar árvores. Vinha antiga, essencialmente de castas Crato Branco e um pouco de Boal, resultaram num vinho branco premiado como o Melhor Branco Especial do Algarve em 2019.
Os rótulos das oito referências vínicas têm a particularidade de ser desenhados por jovens talentos que ocupam as residências artísticas, disponíveis na propriedade mediante candidatura. Anualmente, um dos vinhos é escolhido para “ser ilustrado” com a reprodução de uma das obras de Teresa Pereira Caldas de Vasconcellos (1941-2017), a matriarca da família, pintora e escultora, que deixou, além do legado agrícola, uma herança preciosa ligada às artes. Estas ligações denotam uma espécie de diálogo entre as várias obras de arte, mas também o próprio lugar onde foram concebidas.
MORGADO DO QUINTÃO
Projeto de enoturismo, aqui é possível passear pela vinha e fazer provas de vinho mediante marcação, mas também pernoitar neste Algarve rural em que se avista a serra de Monchique ao longe. Na casa principal existem quatro quartos (a partir de €200), uma sala de estar, cozinha e biblioteca. Pode ainda optar por uma das três villas, todas com três quartos e com piscina privada, a Gatekeeper, a Amêndoa e a Bougainvillea.
MORGADO DO QUINTÃO
Desde que tomou conta da quinta, Filipe Caldas de Vasconcellos abriu mais a propriedade às pessoas. Por exemplo, os figos das velhas figueiras deram lugar às compotas da Horta de São Bruno. Há ainda estrelas de figo com amêndoas, bolachas de alfarroba e biscoitos de azeite na cozinha. O pequeno-almoço pode ser tomado no exterior enquanto olha a vinha e o campo. Preparam-se refeições a pedido e piqueniques sob a oliveira milenar.
No Algarve, onde os fenícios trouxeram pela primeira vez castas antigas e técnicas de vinificação para a Península Ibérica, por volta de 2000 AC, o Morgado do Quintão prossegue o caminho do que é mais genuíno, não apenas na vinha como também na relação com as pessoas e na cozinha, mas sobretudo pretende preconizar um movimento de valorização do território enquanto região vitivinícola.
MORGADO DO QUINTÃO
A cerca de meia hora de caminho, uma estátua de Dionísio, nas ruínas romanas de Milreu, também conhecidas por ruínas de Estoi, assegura que a região teve a bênção do Deus do vinho. A pouco mais de 15 minutos encontra o mar, quase o mesmo tempo que leva para chegar ao restaurante Bon Bon, com serviço de vinhos esmerado de Nuno Diogo e agora com cozinha do talentoso Chef José Lopes. Tudo se conjuga para que o Morgado do Quintão (Lagoa Tel. 965502529) seja um destino algarvio a não perder neste verão.
MORGADO DO QUINTÃO
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Notícia exclusiva do Boa Cama Boa Mesa do nosso parceiro Expresso