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A Casa do Povo de Santo Estêvão vai ser palco, no próximo sábado, 20 de Maio, pelas 22 horas, do concerto “Les Filles de Illighadad”, músicas oriundas do deserto do Niger, inserido nos Serões da Primavera.
Trata-se de um projecto da guitarrista Fatou Seidi Ghali que, ao vivo, conta com o apoio da cantora Alamnou Akrouni e de uma executante de tende (tambor feito de uma caixa de barro sobre a qual se estica uma pele de cabra).
A estas filhas de Illighadad atribui-se o início de uma verdadeira revolução: Fatou Seidi Ghali é apenas uma das duas mulheres que sabe tocar guitarra em todo o Niger. Nesta conservadora sociedade tuareg, as mulheres sempre tiveram um papel na música, embora a guitarra costume ser tocada, por tradição, só por homens. Há cerca de doze anos, Fatou descobriu, em casa, uma velha guitarra do irmão, tendo aprendido a tocá-la sozinha e conquistado o respeito e orgulho da sua pequena comunidade. Quando toca este instrumento, Fatou vê-se rodeada, imediatamente, pelos habitantes da sua aldeia e as outras mulheres cantam e batem palmas de uma forma ritmada, sublinhando o caráter comunal da sua música.
O tende é entendido como também por um género musical
O tende, por sua vez, é entendido não só como um instrumento, como também por um género musical, o qual assume uma função social e, por norma, acompanha rituais de cura, festivais de camelos, mostras de dança e outras ocasiões especiais.
Todavia, para Fatou Seidi Ghali o tende é, apenas, um ponto de partida para a sua visão singular da música que coloca a linguagem da guitarra no centro das suas peças, ligando-se, assim, a uma outra tradição tuareg internacionalmente representada pelos Tinariwren. Para Christopher Kirkley, patrão da etiqueta Sahel Sounds que muito tem feito por divulgar a música da região do Niger, o hídrido de tende e guitarra criado por Les Filles de Illighadad pode ser mesmo o início de uma nova linguagem. “Elas estão a explorar uma nova direção, adaptando velhas canções tende a um reportório de guitarra, o que me parece ser verdadeiramente revolucionário para a música tuareg”, garante o editor que depois conclui “penso que elas estão à beira de criar algo de novo e verdadeiramente excitante”.