“Atuar no Magic Castle é um ponto alto na carreira de qualquer mágico. Sou um abençoado nesse aspeto”, disse à Lusa Gonçalo Sousa. “A Close-up Gallery, onde eu atuo de 15 em 15 dias, é a sala mais famosa de magia do mundo”.
Fundado em 1962, o Magic Castle é um clube de magia exclusivo para membros e sede da Academia de Artes Mágicas.
“Muito consciente de que já atingi um patamar bem alto, não é tempo de descansar porque o sonho é um passo à frente”, disse o português, que foi selecionado para a Future Stars of Magic Week 2019, a última edição que decorreu porque a pandemia de covid-19 suspendeu a iniciativa em 2020 e 2021.
O seu novo espetáculo, em que trabalhou durante o último ano e meio e para o qual desenhou e construiu o cenário, vai ser apresentado pela primeira vez a 19 de novembro na Universidade Estadual da Califórnia, Santa Bárbara (UCSB), onde está a terminar uma licenciatura dupla em Economia e Contabilidade e em Português.
“Estou muito entusiasmado”, referiu, falando da sua relação intensa com a criatividade. “A magia é talvez o maior expoente disso porque é a arte sem limites. É tornar possível uma coisa que tu não imaginas que é possível”.
O tipo de magia de que o jovem português gosta é teatral, onde os truques são embebidos numa narrativa. “É a magia que liga o nosso mundo, que liga o dia-a-dia. Nada do que está à nossa volta é muito real. Não confiro grande competência de realidade a nada do que está à volta”, gracejou.
O ‘show’ que escreveu segue a sua história pessoal como artista, disse, explicando que começou a tocar piano muito cedo e chegou a ser considerado “criança-prodígio”.
“A história que conto é como é que passei de tocar piano em palcos aos 5 anos para ter 21 e subir ao palco numa circunstância totalmente diferente, e como é que uma pessoa navega as expectativas da família, como concilia com as suas próprias expectativas, paixões e interesses”, detalhou.
Apaixonado pela arte da magia e ilusionismo desde criança, quando recebeu um ‘kit’ que ensinava a fazer truques, Gonçalo Sousa emigrou para os Estados Unidos com os pais aos 14 anos, quando o pai teve uma oportunidade de emprego na Califórnia.
“Aqui nos Estados Unidos é possível fazer carreira como mágico a 100%”, afirmou, ressalvando que o termo magia “abrange muita coisa” e duas pessoas muito diferentes podem ambas ser chamadas de mágicos. “É a mesma coisa que pegarmos no Beethoven e no Ed Sheeran e dizer que ambos são músicos”, comparou.
Gonçalo Sousa mencionou a influência positiva de um dos ilusionistas mais bem cotados em Los Angeles, o português Helder Guimarães, que atingiu um patamar próprio e tem concebido formatos inovadores.
“É sem dúvida nenhuma uma grande inspiração”, disse. “O Helder Guimarães está onde eu quero um dia chegar”.
Outro mágico influente para Gonçalo Sousa é Derek DelGaudio, cujo espetáculo “In & Of Itself” foi gravado e disponibilizado na plataforma de ‘streaming’ Hulu. “Ele não faz um ‘show’ de magia, tem um ‘show’ de teatro em que usa truques de magia para contar uma história. É aí que encontro a minha inspiração”.
Além desta carreira, o jovem português também quer envolver-se nas comunidades luso-americanas da Califórnia, o estado onde há maior número de pessoas de origem portuguesa nos Estados Unidos.
“Quero trabalhar com as segundas, terceiras, quartas gerações, pessoas que já são americanas, mas que mantêm essas ligações, são as suas raízes”, explicou. “Gostaria de criar aqui na Califórnia, neste cantinho do mundo, uma comunidade que fosse intelectualmente portuguesa”, com ideias inspiradas no pensamento de Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e Padre António Vieira.
Consciente da dimensão do desafio, Gonçalo Sousa indicou que ainda está a estudar o formato em que quer trabalhar, mas sublinhou: “Sem ambição, não se chega a lado nenhum”.