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Entre a serra e o litoral encontra-se o barrocal algarvio, uma área pouco explorada com uma identidade muito própria, que merece toda a atenção. A Associação de Gestores Culturais do Algarve (AGECAL) reconhece a importância desta zona algarvia e escolheu a pacata aldeia de Santo Estêvão, em Tavira, para dar vida à cultura do barrocal do Algarve, através da primeira edição da ‘Barro Cal – Festa Feira do Barrocal Algarvio’.
“Inserir a dimensão cultural no desenvolvimento do Algarve” foi o objectivo de Jorge Queiroz, director do Museu Municipal de Tavira e presidente da AGECAL, ao realizar pela primeira vez esta festa-feira, que pretendeu mostrar a todos os visitantes “como a cultura e os recursos culturais podem ajudar a manter a identidade e a riqueza do Algarve”.
Em conversa com o Cultura.Sul, Jorge Queiroz sublinhou o facto do projecto ter “a população como protagonista e ser feito para os cidadãos mostrarem as suas culturas porque o Algarve é uma região riquíssima em termos de património”. Para o presidente da AGECAL, “este é um projecto de gestão cultural aplicada. Nós partimos de um problema, que é o problema da desertificação, das assimetrias, do envelhecimento e do abandono dos recursos do campo, para descobrir como é que a cultura e as associações culturais podem ajudar a inverter este processo ou pelo menos a travá-lo”.
Presidente Jorge Botelho realça a importância do barrocal algarvio
Ao Cultura.Sul, o presidente da Câmara de Tavira, Jorge Botelho, disse acreditar que esta “é mais uma mostra com um conjunto de iniciativas que demonstram que não é só o litoral algarvio que importa e que o barrocal é também uma parte fundamental da nossa cultura portuguesa, onde as pessoas e instituições também devem investir”.
A vice-presidente da Câmara, Ana Paula Martins, partilha da mesma opinião e realça a importância de “começar a valorizar cada vez mais aquilo que é nosso, aquilo que vem da terra, as matérias, a cultura, as tradições e o património”. Para a vice-presidente, “todos estes elementos devem servir como factores impulsionadores do desenvolvimento económico e se o fizermos com muita qualidade, de certeza que vamos aumentar a procura e o interesse”.
Evento começou com seminário onde se debateu ‘O Campo como recurso cultural’
Exposições, músicas, passeios, jogos, danças e muitos petiscos da região mostraram, de diferentes formas, a riqueza do barrocal algarvio, de 26 a 28 de Maio, em Santo Estêvão. Momentos para disfrutar em família que deram a conhecer, sobretudo aos mais jovens, aquilo que eram os valores e a cultura de antigamente que, para Jorge Queiroz, “sempre foi uma cultura para todas as idades”.
Um programa “muito bem concebido porque pensa o território, com o território e com as pessoas desse território”. Alexandra Rodrigues, directora regional da Cultura, entende que “a relação entre uma componente cultural e uma componente da terra só pode dar bons frutos e bons resultados. Este cruzamento artístico e cultural com as actividades tradicionais é muito mais interessante do que a cópia dos modelos daqueles que nos visitam, como aconteceu ao longo de várias décadas”.
O seminário ‘O campo como recurso cultural’, realizado na Casa do Povo de Santo Estêvão, marcou o início da festa-feira com a presença de convidados ilustres como Ana Paula Martins, vice-presidente da Câmara de Tavira, Alexandra Rodrigues, directora regional da Cultura, Fernando Severino, director regional da Agricultura, Dália Paulo, comissária do Programa 365 Algarve, e José Liberto, presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão e Luz de Tavira.
Os convidados especiais do seminário foram pessoas com experiências concretas neste âmbito, nomeadamente, João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, Rafael Morales Astola, gestor cultural e professor na Universidade de Santa Luzia, em Espanha, e Rui Penas, do projecto “Ao Luar Teatro”. Os convidados fizeram uma reflexão sobre a gestão cultural e a valorização do mundo rural, num debate moderado por Jorge Queiroz, segundo o qual, a qualidade do seminário era mais importante do que o número de convidados.
Na sessão de abertura do evento, o director regional da Agricultura, Fernando Severino, mostrou-se satisfeito com a iniciativa “que faz justiça às questões do barrocal”. O evento contribui para a “construção de um Algarve mais sustentável” e deve servir de “exemplo para melhorar e para construir novos caminhos”.
365 Algarve acredita que a iniciativa cria condições para que se pense o território
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A comissária do programa 365 Algarve, um dos parceiros da AGECAL neste projecto, considera que “esta primeira festa-feira do barrocal algarvio faz todo o sentido no programa 365 Algarve porque nós trabalhamos com a matéria-prima do território e com os fazedores de cultura do território. São eles que oferecem, são eles que escolhem o que querem apresentar” e a ‘Barro Cal’ é sem dúvida uma iniciativa realizada de uma forma colaborativa que promove o desenvolvimento regional.
Dália Paulo acredita que “a cultura transforma e, ao transformar, fará de nós, algarvios, cidadãos mais felizes. Ao sermos cidadãos mais felizes, significa que temos uma auto-estima maior e um amor maior pela região, o que significa também um aumento da qualidade do produto turístico que oferecemos”.
Iniciativa promove a reaprendizagem de saberes
A ‘Barro Cal’ assume uma função lúdica e educativa de reaprendizagem de saberes, de relação equilibrada entre o Homem e a natureza, e de sensibilização das várias gerações para as múltiplas fontes de conhecimento e disciplinas artísticas.
A cultura não era muito valorizada na região e esta homenagem ao barrocal algarvio vem enaltecer a freguesia e mostrar aquilo que esta zona tem de melhor para oferecer, porque, de acordo com Jorge Queiroz, “temos de ir às raízes da cultura portuguesa para poder construir um contemporâneo de qualidade”.
A primeira festa-feira do barrocal algarvio é organizada pela AGECAL, com apoio do município de Tavira, da Freguesia de Luz de Tavira e Santo Estêvão e do Programa 365 Algarve, contando também com a colaboração da Casa do Povo de Santo Estêvão.
A AGECAL vai celebrar dez anos em 2018, e é uma associação que sempre procurou juntar os recursos de cultura do Algarve, trazer a dimensão cultural para o desenvolvimento rural, centrados em alguns aspectos ligados ao turismo, e esta festa-feira é mais uma iniciativa nesse sentido.
(Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire)