A Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade vai lançar um livro destinado às crianças, entre os 6 e os 10 anos, com lengalengas, trava-línguas e provérbios recolhidos no Algarve, para que a tradição oral não seja “abafada”.
O livro intitula-se “Palavras com que brinco e aprendo” e deverá ser lançado “ainda em Setembro”, com a perspectiva de dar a conhecer às crianças o património da tradição oral presente nesta região, disse à agência Lusa o presidente da Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade, José Ruivinho Brazão.
A obra surge depois de um primeiro volume, destinado a crianças dos 2 aos 6 anos, contando com lengalengas, trava-línguas, adivinhas, quadras e provérbios recolhidos principalmente nos “micro-campos de Boliqueime e de Paderne”, explanou o antigo professor de português.
O objectivo, enfatiza Ruivinho Brazão, é “ressalvar aquilo que ainda vive no coração e na mente dos mais idosos e que tem a ver” com a “identidade mais profunda” dos algarvios.
Com a edição do livro, a associação não quer “colocar as pessoas no passado, mas que sintam que é preciso recriar o passado e não o abafar ou esconder”, sublinhou à Lusa.
“Os miúdos são capazes de criar algo a partir de uma lengalenga”, afirmou, referindo que o livro, com várias sugestões pedagógicas, também tem por objectivo incentivar as crianças a levarem para a escola outros testemunhos da oralidade, a partir “dos seus avós”.
No livro, são identificados os “informantes” de cada lengalenga ou adivinha, num trabalho que começou em 1994 e que continua “até agora”.
Se o primeiro volume foi distribuído às crianças dos jardins de infância de Loulé, Ruivinho Brazão tem a expectativa de conseguir agora a distribuição do segundo volume, em parceria com a autarquia, aos alunos do 1º ano do ensino básico.
Depois do lançamento do primeiro volume em 2015, e agora do livro dedicado às crianças dos 6 aos 10 anos, a associação ainda pretende lançar um terceiro para alunos dos 10 aos 12 anos.
Ruivinho Brazão começou a fazer as suas recolhas em Paderne, de porta em porta, com a ajuda de locais, depois de “ouvir quadras, romances, trava-línguas e lengalengas que não sonhava encontrar”.
“Foi um espanto para todos. Nem a própria população tinha noção do património que ali existia”, contou à Lusa.
A associação, sediada em Albufeira, tem vindo a publicar vários trabalhos em torno da tradição oral do Algarve, desde livros de poetas populares à edição em CD do grupo de cantares “As Moças Nagragadas”.
Não tem número as pessoas com quem já falou, nem os quilómetros feitos ou as horas gravadas, realça, estimando ter milhares de registos nas duas décadas de trabalho em torno da tradição oral do Algarve.
“Tenho a percepção de que, se eu não fizer este trabalho, ele não será feito”, salientou o antigo professor de 82 anos, que garante que não vai parar, porque “as árvores morrem de pé”.
(Agência Lusa)